Capítulo 18: Uma Companhia Questionável

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De sua mesa, no refeitório, ela o examinou atentamente. Ele degustava sua refeição, não mais animado do que ela diante do conteúdo pouco atrativo em seu prato. O pensamento que perpassou a mente de Jemma naquele momento era o de como Fitz foi daquele desconhecido fofo e adorável, que ela conhecera um ano e meio atrás, para um colega de Reciclagem tão amargo e ríspido.

Na mais otimista das perspectivas, sua trégua fora, no máximo, moderada. Eles treinavam e estudavam juntos, conforme orientavam as diretrizes do Curso de Reciclagem. Trocavam poucas palavras. Somente o necessário durante seus estudos. Vez ou outra, acontecia de se entreolharem surpresos, quase sem querer, após chegarem juntos à mesma conclusão e completarem a sentença iniciada pelo outro. Percebiam, aos poucos, que tinham mais em comum do que gostariam de admitir. Pigarreavam, desviavam o olhar e tentavam negar aquele fato. Mas era algo que sempre retornava às suas mentes antes de pregarem os olhos à noite.

Um pouco mais difíceis eram seus treinamentos físicos. Por vezes, ainda havia a impressão de que estavam competindo. Em alguns momentos, tinham de contornar o embaraço de ser verem tão próximos e de se tocarem tanto o tempo todo. Eram movimentos de luta, afinal. Nada mais do que isso...

Era como ambos tentavam convencer a si mesmos.

Ele entrava na sala com pouco entusiasmo. Geralmente, sua Alfa já estava esperando por ele. Suas sessões sempre terminavam com Fitz abandonando a sala sem cerimônias, sem olhar para trás, sem se despedir. Apenas recolhendo sua mochila e fechando a porta.

Jemma o observava sumir de vista e se dava conta de que, ainda que ele tivesse dito a ela que havia superado o que aconteceu entre eles em um passado não muito distante, ainda havia uma pontada de ressentimento que o acompanhava e devia martelar dentro de si quando estava com ela. Era tão real quanto a pontada de culpa que Jemma sentia em ter mentido para ele de modo a não insistir em procurá-la depois daquela noite.

- É mais físico do que verbal.

- Como é? - Daisy perguntou, quase se engasgando com a comida.

- Entre nós. É mais físico do que... - Jemma se deteve em suas palavras ao levantar o olhar de seu prato para a amiga, que tinha o rosto contorcido em uma expressão de chacota e zombaria.

A bioquímica revirou os olhos.

- Você consegue maliciar tudo, não é mesmo?

- Nah, olha só para ele - sussurrou a inumana, lançando um olhar discreto à Fitz que se encontrava relativamente próximo, dividindo, como de costume, uma mesa com Hunter que falava ininterruptamente. O engenheiro, no entanto, se limitava a espetar o conteúdo nada convidativo de sua bandeja com um ar deprimido - riquinho do jeito que é, deve estar com saudade da comida caríssima que é ofertada em sua mansão. Mas, devo confessar, ele é uma gracinha.

Jemma suspirou, mexendo a comida em seu prato com o garfo, sem a mínima vontade de degustá-la. A inumana lançou um olhar sorrateiro e atrevido para ela, mordendo ligeiramente os lábios.

- Por que eu ainda tenho a impressão que aconteceu algo entre vocês naquela noite?

A bioquímica ergueu, de súbito, o olhar na direção de Daisy. As pupilas levemente dilatadas.

- Por que insiste nisso? - indagou, tentando contornar o fato de que sua reação levantou alguma suspeita.

- Eu acho que tem algo que não está me contando. Que está escondendo de mim...

- Não. Aconteceu. Nada! - Jemma exclamou, irritada - pela centésima vez, não aconteceu nada.

- Mas vai acontecer... - provocou a outra.

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