Daisy jogou-se sobre a pequena cama do alojamento que dividia com Jemma no exato instante em que a bioquímica cerrava a porta atrás de si.
- Ouch! – reclamou quando suas costas colidiram com o colchão – isso é o que eu chamo de punição. Primeiramente, esses alojamentos são cubículos, essas camas são tamanho miniatura e esses colchões são meio duros – proferiu com uma careta de indignação.
Alertada pela amiga, Jemma foi mais cautelosa ao subir em sua cama.
- Bem, isso não importa. Pelo menos, quando voltarmos do Boiler Room, estaremos sob efeito de álcool, então só iremos reclamar da cama pela manhã. Isto é, se voltarmos para cá – disse, maliciosa.
- Quer dizer, quando você voltar – tornou Jemma, a cabeça recostada sobre o travesseiro pouco confortável.
Daisy a encarou, confusa e indignada, sentando-se sobre os joelhos.
- Como assim, você não vai?
- Não estou a fim – a bioquímica suspirou.
- Jemma, essa é a última semana em que poderemos ser normais. Na próxima, já começa toda uma rotina desagradável de treinamentos e provas que irão consumir todo o nosso tempo.
- Não seja dramática.
- Até mesmo a Victoria Hand acha que merecemos uma semana de folga antes do treinamento – continuou como se a outra não a houvesse interrompido – por que acha que ela nos deu estes sete dias livres? Para nos entrosarmos e nos divertirmos antes de sermos mortos por nossos mentores. Então, vamos aproveitar e pegar Grant Ward e Will Daniels antes que seja tarde.
Jamma revirou os olhos.
- Isso não é colônia de férias, Daisy. Nem estamos em temporada de veraneio. Isso é a SHIELD. E, talvez você tenha esquecido, mas a SHIELD tem um protocolo acerca do envolvimento romântico entre agentes.
- É proibido?
A bioquímica que até então encarava o teto, virou o rosto abruptamente na direção de sua amiga.
- Sim, Daisy! – grifou – Portanto, não é uma boa ideia.
- Ah, fala sério! Primeiro, nós só vamos sair com eles. E depois... Enfim... – ela lançou um olhar repleto de segundas intenções para Jemma que sacudiu a cabeça em reprovação – não vamos nos casar com eles. E tem mais: acha mesmo que existe algum respeito em relação a esse protocolo? Acha mesmo que Phil Coulson e Melinda May nunca se pegaram?
A outra franziu o cenho.
- Bem, você é a mais indicada para responder a essa pergunta, visto que conviveu com eles nos últimos tempos.
Daisy sorriu, de maneira mais terna desta vez.
- Fico feliz que eles vão ser nossos mentores. Sei que eles não vão facilitar, mas eles acreditaram no meu potencial antes de qualquer um... – disse, o olhar distante, o tom reflexivo.
- Mas, voltando ao assunto... – continuou Jemma, procurando trazer Daisy de volta de suas divagações – o que quer que aconteça entre os agentes, é muito bem escondido. Encobrem isso de maneira que ninguém perceba.
- Caso de Clint Barton e Natasha Romanoff... Oops, é tão bem escondido que eu fiquei sabendo – tornou Daisy, irônica.
- Sim, mas é um boato. Ninguém pode realmente provar. No mais, aqui a marcação vai ser cerrada. Tenho certeza de que nossos mentores terão olhos em todos os cantos, nos observando. Estamos sendo testados, provavelmente, em todas as esferas. É possível que essa semana de folga seja um teste também. Um modo de observar nosso comportamento, nossa interação, nosso convívio com os demais agentes. Qualquer deslize e isso vai para a nossa ficha. Lembre-se que traquejo social costuma contar pontos em missões disfarçadas.
- E você é uma cientista, não uma agente de campo. Por mais que passe pelo treinamento físico, sua área de expertise é o que conta.
- Acho que você ainda não entendeu o que está acontecendo aqui. É óbvio que estão treinando a todos para que possam ir a campo. Eu creio que existe uma guerra anunciada... E que tudo isso possa ser um pretexto para nos preparar para o que está por vir.
- Ah, não comece com as teorias da conspiração. A Hydra não tem mais forças para se reerguer. Seus últimos remanescentes encontram-se em situação de reclusão.
- Nunca se sabe. Corte uma cabeça....
- Nascem duas. Blah blah blah. Chega do assunto pesado! – exclamou Daisy, revirando os olhos e sacudindo uma mão no ar – nós vamos ao Boiler Room para esfriar a cabeça. Simples. Se não quiser trocar uma palavra com o astrônomo gato, tudo bem. Mas custa sair apenas para dar uma espairecida e beber alguma coisa? Eu não quero ir sozinha... Eu posso ser do tipo aventureira e tudo mais... Mas ainda não é o momento de ir me encontrar com Ward sem ter uma amiga por perto...
O tom reticente e a expressão súplice no rosto de Daisy tornaram a recusa praticamente impossível. De modo que, com um revirar de olhos, Jemma concordou.
- Ok. Mas nós voltamos antes da meia-noite. Do contrário, nada feito - disse, ajeitando-se, de modo a ficar sentada na cama.
- Yay! Eu te amo, Jemma! – a outra vibrou, jogando as mãos para cima.
- E nada de ir para outro lugar com o Ward, entendeu? – o tom de Jemma soou como o de uma mãe dando bronca em sua filha adolescente, até mesmo para seus próprios ouvidos.
- Promessa de escoteira – gracejou Daisy, mas deixando claro que concordava com aqueles termos.
*
- Não vai mesmo? – Hunter fez uma última tentativa, já com a porta do alojamento aberta, prestes a sair.
Fitz, sentado em sua cama, as costas apoiadas na parede, não ergueu os olhos do exemplar de O Único e Futuro Rei de T.H. White que lia, mas balançou a cabeça em uma veemente negativa. O outro suspirou, derrotado. Havia passado as últimas duas horas tentando convencê-lo, mas o engenheiro estava irredutível, de modo que Hunter fechou a porta atrás de si e seguiu seu rumo.
Vinte minutos depois, Fitz ouviu uma batida na porta. Confuso, ele levantou-se da cama para abri-la, sem a menor ideia de quem poderia ser. Surpreendeu-se ao dar de cara com o típico sorriso cintilante e o cabelo que caía em suaves ondas pelos ombros de Ophelia.
- Foi o Hunter quem me deu as coordenadas de seu alojamento – disse simplesmente, estendendo a mão para ele – ao contrário de seu amigo, eu não aceito não como resposta. E se você me disser nãomesmo assim... Eu vou me sentir profundamente ofendida. Não quer ver uma garota triste esta noite, certo? – ela o instigou em um tom notoriamente sugestivo.
Fitz permanecia levemente boquiaberto ante a presença e as palavras proferidas por Ophelia. Seu vocabulário pareceu se esvair por completo. Ele não sabia o que falar. Sua única alternativa foi retribuir ao gesto dela, agarrando sua mão e a seguindo pelo corredor em direção à saída do prédio que comportava os alojamentos.
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ACADEMIA SHIELD: Renegados
FanfictionApós cometerem falhas graves em missões como agentes efetivos da SHIELD, eles são obrigados a passar pelo temido e execrado Curso de Reciclagem se quiserem recuperar seus distintivos, suas posições na agência e, principalmente, seu crédito e sua hon...