85- Cada batida do seu coração

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Chego em casa pensando em um banho pra tirar esse dia de mim, o que seria difícil, a sensação não passa, Alex estava cabisbaixo e a pequena Estela não sabia muito bem, mas ela entendia que algo tinha acontecido.

Ela dormiu nos braços do Alex e ele o levou para o quarto, fui em passos lentos até o banheiro e encarava fixamente o espelho.

"Vamos ficar bem."

Repetia aquilo passando a mão pela minha barriga ainda minúscula, e chorava mais os lembrar que meu filho estava morto dentro de mim, me ajoelho no box do banheiro ainda de roupa mas sem ligar o chuveiro, ouço a porta se abrir e era Alex.

- Está a meia hora aí...

- Eu sei. - Falo limpando toda as lágrimas do meu olho. - O que tá fazendo? - Falo enquanto ele vinha até mim e ligava o chuveiro. - Você tá louco tá molhando toda sua roupa.

- Não importa... - Ele fala me abraçando enquanto a água escorria sobre nós dois, sentados debaixo do chuveiro.

- Me desculpa Alex. - Falo chorando feito uma criança.

- Você não tem culpa de nada, eu sei que ele morreu e que é difícil, mas um sobreviveu, e a gente vai lutar por ele, e depois a gente acende uma vela, não sei se você acredita nisso, se acredita em Deus ou em qualquer entidade, mas vai te fazer bem, e a gente vai superar isso.

- Tudo bem... - Falo suspirando enquanto Alex desligava o chuveiro. - Quero ir trabalhar, mas amanhã não... Amanhã eu quero pensar mais sobre isso tudo bem.

- Claro, no seu tempo. - Ele diz desabotoando sua camisa social completamente encharcada.

-  Não foi uma boa ideia entrar no chuveiro de roupa. - Falo sorrindo e ele sorri também.

- É, eu sei.

Troco de roupa também, pegando algo mais quente pra poder dormir. Nos deitamos, e finalmente pego no sono depois daquele dia, acordando apenas na manhã do outro dia.

Me levanto antes do Alex para dar uma conferida na Estela, mas antes passo pela porta do quarto do bebê, ou que eram planejados para os dois... Sabia que não devia ter me apressado.

Caminho em passos lentos admirando cada cantinho daquele quarto que tínhamos decorado, me sento na cadeira de balanço observando os dois berços.

Droga...

Se não desmontar esse berço, vou ter crises toda vez que vier aqui!

Assim como já estava tendo uma agora abraçando um ursinho que vi naquela loja e insisti em comprar...

Precisava falar com alguém, dizer tudo, e aí sim tentar deixar esse sentimento ruim e esse vazio ir embora.

- Alex...- Falo indo acordar ele que se assusta assim que o acordo.

- Tá tudo bem?

- Vamos pro hospital.

- Mais já? Achei que queria mais um dia pra pensarmos juntos...

- Não vamos lá pra trabalhar, vamos conversar com a Arizona.

- E por que com ela?

- Por que ela sabe melhor do que ninguém sobre bebês e tudo isso.

- Eu também sei, não sou obstetra, mas sou pediatra.

- Por enquanto nosso bebê é um feto, e um deles morreu... - Digo respirando fundo e voltando a atenção ao Alex. - E eu acho que precisamos falar com ela.

- Tudo bem... Vou pegar as chaves do carro.

Ele vai e eu vou pegar a Estela no quarto que estava acordada no berço.

- Você tava acordada mocinha?

- Mamãe. - Ela fala toda sorridente por eu estar ali.

- Devia ter chamado ou eu ou o papai. - Digo pegando ela no colo.

- Desculpa mamãe. - Ela diz encostando sua cabeça no meu ombro.

- Tudo bem meu anjinho. - Digo a levando até a sala e Alex já estava lá.

Fomos até o carro, deixei Estela na cadeirinha dela, e fui pro banco da frente, fomos até o hospital já dando de cara com a Amélia na entrada.

- Oi... Que surpresa, achei que iam demorar pra voltarem.

- Não voltamos ainda, só viemos falar com a Arizona. - Alex diz segurando minha mão.

- Fiquei sabendo, sinto muito por vocês.

- Tudo bem... - Falo sorrindo.

- Querem que eu fique com a Estela enquanto vocês vão falar com ela.

- Ela não vai te atrapalhar?

- Não, imagina, aqui tá calmo hoje. - Ela diz pegando a Estela do meu colo, e eu a entrego a bolsa dela.

- Obrigada Amélia. - Dizemos e saímos de lá.

Vamos até a Arizona que estava no balcão da pediatria e ela se surpreende com a gente ali.

- Oi, já voltaram... Como estão?

- Não voltamos ainda, queríamos conversar sobre... Você sabe. - Falo e ela assenti e nos leva até uma das salas, nos sentamos em um sofá e ela em uma poltrona em nossa frente.

- O que ouve?

- A gente quer uma opinião sobre basicamente tudo, eu nunca lidei com isso... Nós. Nós nunca lidamos com isso e eu estou com receio de ter algo errado com o outro e...

- Eu sei, algumas mães que já soube de casos, não sabem o que fazer mesmo, se devem contar para o filho que ele tinha um irmão gêmeo ou tem medo do outro se prejudicar ainda dentro da barriga... Mas no caso de vocês, o outro não tem riscos de complicações fora os problemas normais de qualquer gravidez que vocês como médicos sabem quais são, mas é muito pouco provável, seu organismo vai continuar lidando como uma gravidez única agora, é normal ficar triste nos primeiros dias, mas o filho de vocês está saudável.

- Então está tudo bem mesmo, não é? - Alex diz segurando minha mão e Arizona concorda.

- Venham aqui. - Ela diz e vamos junto a ela, ela faz outro ultrassom em mim.

- Por que? Eu fiz ontem... Ari... - Falo e ela me mostra o monitor.

- Estão ouvindo? É o coração do bebê de vocês. - Ela diz e Alex vem ao meu lado ainda segurando minha mão.

- É nosso filho. - Falo sorrindo pro Alex que se emociona ao ver.

- É o nosso filho. - Alex diz e dá um beijo na minha testa.

- Ele está bem, fiquem tranquilos...

- Obrigada Arizona.

...

A Interna - JolexOnde histórias criam vida. Descubra agora