Cap.8 - Suspiros

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Derick subia a avenida com os braços entrelaçados em volta de si. Uma brisa fria soprava balançando as árvores e esvoaçavam os cabelos. Em sua cabeça havia uma confusão de diálogos e no coração guerra de sentimentos.

"Kaio é o cara pelo qual ela era apaixonada".

O que Lizi contara sobre Tatiane não saía dos pensamentos. Era como se a voz da amiga repetisse várias e várias vezes a mesma frase:

"E pelo visto, ainda é."

Ele leva uma das mãos à testa, esfregando-a como se procurasse uma alternativa para as vozes que não se calam.

"Eu só penso em você, só penso em você".

O trecho da canção ecoava e junto a ele os olhos azuis de Kaio que o encarava durante a canção no pub, ou certa vez na mesa dos professores, ou ainda se desviando em momentos durante as aulas.

O coração do garoto palpitava forte, não sabia o que fazer. Já era difícil ser gay, ainda mais apaixonado por um cara comprometido e pior, paixão da melhor amiga.

"Você está em dívida comigo".

O eco da voz gentil de Tatiane lembrava-o da prova de amizade que ela o dera quando se meteu em uma confusão por sua causa. Estava em dívida com a amiga, não podia magoá-la, não podia assumir que estavam apaixonados pelo mesmo cara.

Derick continuou subindo a avenida chutando algumas pedrinhas pelo chão. O rock que saía do pub ficava distante e as luzes dos postes pareciam mais intensas. De repente um som de buzina vindo de um local escuro soou próximo às árvores.

Os vidros abaixaram-se, era Lucas.

Lucas, que também mexia com sua mente.

Lucas, que não era mais comprometido com Caroline.

Lucas, um cretino discreto.

Lucas... quem sabe a solução para aquele sentimento que precisava abandonar.

Derick hesitou por alguns instantes, pensou bem. Já sabia das intenções do garoto. Seria apenas um passatempo, nada sério. Afinal, o príncipe nesta história era Kaio, loiro dos olhos azuis. Lucas era apenas um reles plebeu perto dele.

"Como dizem: uma nova ficada para curar um pé na bunda".

Derick recordava-se da frase que o rapaz dissera, quando no parque desabafava sobre o fim do namoro. Talvez uma nova ficada também pudesse curar uma paixão indevida? Tirar Kaio dos seus pensamentos?

A buzina soou novamente. Ele levou as mãos aos braços para espantar o frio, respirou fundo e atravessou a rua, indo em direção ao carro prateado, indo em direção a um Lucas mal intencionado.

* * *

— Precisando de carona? — O rapaz perguntou ironicamente enquanto Derick se aproximava da porta do motorista. Ele olha para Lucas e repara que em sua mão estava uma pequena garrafinha de vidro. — Uísque! Aceita? — Lucas oferece balançando o conteúdo.

Derick nunca tomara bebida alcoólica, mas quem sabe ajudaria a esquecer. Deu a volta, entrou e sentou-se no banco do passageiro, ao lado do condutor.

— Vamos sair daqui — Ele pegou a garrafa e tomou um gole. Sentiu aquela substância descer queimando e ficou um pouco tonto. Em seguida sentiu Lucas derrapar com o veículo sobre o asfalto, mostrando imaturidade misturada com bebida ao volante.

O carro seguiu pela avenida. Ambos iam em silêncio, mas a mente de Derick continuava falando alto. Ele olhou para o rapaz, as sombras dos postes projetadas no interior do veículo conferiam um tom de mistério.

Derick reparou em sua calça jeans com rasgos sobre os joelhos. Os olhos acompanharam o trajeto das sombras até a regata branca com estampa do Guns 'N Roses. A iluminação que vinha da rua permitia ver uma tatuagem destacada no braço forte. Lucas não era um bombado como Kaio, mas tinha o corpo bem definido.

Derick deu outro gole, foi quando Lucas esticou a mão pedindo a garrafa. Ao entregá-la os dedos se tocaram por tempo suficiente para perceber as mãos grossas de jogador de futebol.

Derick acompanhou o trajeto da garrafa sendo elevada à boca: primeiro passou pelo pescoço com veias aparentes e finalmente tocou os lábios iluminados por um feixe de luz. Em alguns instantes tudo ficou escuro, Lucas entrara em um parque mal iluminado.

Ele estacionou o carro em local não movimentado, ambiente cercado por arbustos e com altas árvores de galhos retorcidos. Abriu a porta e desceu, Derick fez o mesmo e o encontrou recostado no porta-malas do veículo. O vento soprava mais forte e o céu estava bastante estrelado.

— Está frio aqui fora — Lucas comentou tomando mais um gole do uísque.

— E você com essa regata deve estar congelando — Derick observa.

— Sem problema. A bebida aquece — Ele leva a garrafa à boca, percebendo que o conteúdo acabara.

— Eu sei de algo que aquece mais — E fora de si, talvez pelo efeito do álcool, Derick agarra o rapaz desajeitadamente pelo pescoço, imprensa-o contra o porta-malas e ambos se beijam. Lucas joga a garrafa de lado e pega o companheiro pela cintura puxando-o de encontro a si.

Os dois permanecem beijando sem nada falar. Ficam ofegantes devido ao frio e ao calor do encontro proibido. Lucas com um giro inverte as posições, agora era Derick a ser imprensado contra o porta-malas.

— Vem comigo — sussurra ofegante ao ouvido do rapaz, que está com o coração quase saindo pela boca. Em seguida o conduz em direção à porta traseira — Entra — Ele diz.

— Lucas, eu... eu nunca fiz isso.

— Não tem problema — Ele desliza o dedo em sua boca puxando o lábio inferior, depois completa — Eu te ensino.

Derick entra e acomoda-se no banco. Lucas fecha a porta, se aproxima e mansamente debruça-se sobre ele. A respiração dos dois continua ofegante, tremem e sentem calafrios.

Lucas desliza as mãos pela cintura de Derick levantando a camiseta preta do Evanescence até conseguir removê-la, inclina-se e um longo beijo de língua vem a seguir, descendo pelo pescoço para aprecia o doce perfume que ele usa.

— Diz que você me quer — Lucas sussurra ao ouvido de Derick.

— Eu te quero — Ele responde enquanto acaricia o pescoço do rapaz.

— Você confia em mim? — Lucas sussurra ao seu ouvido bem baixinho.

— Confio — Derick confirma sentindo as mãos dele massageando-o.

— Você confia em mim? — torna a repetir.

— Sim, eu... eu confio — Derick torna a confirmar ofegante.

Um novo beijo o faz calar. Estão com o coração acelerado e após um momento, face a face, Lucas engole em seco.

— Então diz para mim o que você quer.

— Lucas eu... — Derick se engasga, a noite está abafada e as mãos dele tocando a borda de sua calça — Lucas eu quero você.

Confusões no ColegialOnde histórias criam vida. Descubra agora