Capítulo 4 - O espião

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Ele olhou ao redor e ajeitou a mochila certo de que ninguém o observava. Tati e Lizi demorariam no banheiro, elas sempre demoravam quando entravam juntas, e ele tinha pressa em sair dali. Balançou a perna olhando para o fim do corredor, de onde gargalhadas reverberavam, e procurou virar-se de costas, disfarçando quando o grupinho deixou o banheiro masculino vindo em sua direção. Lucas estava entre eles, retardatário junto ao aluno novato, mas estava ali, junto a eles. O coração de Derick palpitava acelerado conforme o aglomerado de colegas se aproximava, ele sentia-se desconfortável, como se estar ali fosse chamar-lhe a atenção, embora não fosse o que pretendia. Engoliu em seco quando as sombras o tocaram, e então, entre sorrisos e conversas animadas, a turminha do time de futebol passou adiante, e respirando fundo, Derick o observou pelas costas. Ah, Lucas. Por quê? Porque tinha que ser tão idiota? Por que tinha de agir de forma tão ignorante daquele jeito? Os olhinhos brilhavam e a sensação nos lábios era de ardor, o beijo dele ardia, acendia cada pequena ligação nervosa do corpo e fazia-o anestesiar.

Todos deixavam o corredor dos banheiros para descerem ao térreo e irem embora, o sinal já havia tocado há algum tempo e apenas ele permanecia ali, parado feito uma estátua, a esperar as amigas. Elas demorariam muito? Será que se desse uma rápida escapadela à curva do corredor, perceberiam?

Deixou o mural e ajeitou a mochila olhando para a porta do banheiro feminino e então para o fim do corredor. Tentou se controlar, contou até três e pensou nas coisas que havia conversado com Tatiane no intervalo, mas então, por fim, decidiu que não estaria fazendo mal algum se apenas o "espionasse" de longe, só por alguns segundos. Desta forma, olhando apreensivo para os arredores, e certo de que seria rápido, apressou os passos para a direção em que os rapazes seguiram, e parando bruscamente na curva do corredor, colocou a cabeça para além da parede e sentiu o coração acelerar ao perceber que ele estava parado frente à sala, enquanto os demais seguiam para a escadaria. Estava sozinho, lendo mensagens no celular, e o novato que o acompanhava (o primo do Kaio) havia seguido adiante. O coração de Derick palpitava acelerado observando-o silencioso, respirava fundo recordando seu abraço, suas confissões, e então, observou a silhueta que deixara a sala tocando-lhe o ombro. Lucas virou-se para Ian e Derick franziu o cenho. O que será que estariam conversando? — olhou rapidamente para trás e conferiu a falta de movimentação, então tornou a olhar para as silhuetas adiante.

Ian estava falando algo com ele, Derick podia reparar em seus cabelos ondulados sob a claridade das lâmpadas, e Lucas, recostando à parede como se cansado de ouvi-lo resmungar, guardara o celular no bolso respirando fundo. Pelo visto não queriam que outros ouvissem o diálogo, já que tudo era feito aos sussurros, e então, para sua confusão, a certo momento Lucas retirou algo do bolso da mochila, e entregando-lhe, deu de costas a seguir seu caminho. Parecia bastante irritado, e Ian ficou ali, parado em silêncio observando-o sumir na curva do corredor, foi quando num susto, Derick virou-se com a mãozinha quente cutucando-lhe a cintura.

— Bûuu. Te pegamos.

Ele quase engoliu a língua. Seu coração estava acelerado e Lizi sorria de sua falta de jeito, até que Tatiane, franzindo o cenho, retorquiu:

— O que você estava fazendo aí? — fez menção de colocar a cabeça na curva do corredor, mas o garoto a impediu.

— Fazendo? Eu? — ele gaguejou olhando rapidamente para lá, a respiração vacilante e um sorrisinho forçado para tentar disfarçar — Eu, eu... apenas aguardando as duas, é claro — procurou se recompor, e então mudar de conversa — Por acaso caíram no vaso ou foram abduzidas pela pia? Minha nossa, quase meia hora no banheiro.

— Eu estava retocando minha base — Lizi resmungou, e então Tatiane continuou a olhar fixamente para ele, sabendo exatamente o que o amigo estivera a fazer, aguardando uma confissão.

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