Lucas e Murilo estão seguindo juntos para o estacionamento, quando às costas, a voz do coordenador chama por seu nome. Lucas estranha aquilo e troca olhares com Murilo, fazia tempo que a diretoria não o procurava, e buscou bolar alguma desculpa sobre as faltas frequentes nos primeiros horários. O auxiliar da direção, no entanto, parou ante a eles, e cumprimentando-os, questionou se poderia ter uma conversa com Lucas antes de saírem.
Murilo olhou para Lucas esperando sua resposta, e o garoto, nervoso, deu alguma desculpa sobre o pai ter telefonado para que se apressasse, pois iriam a algum lugar. O auxiliar insistiu e disse que seria rápido, e sem alternativas Lucas precisou ceder.
Respirando fundo, Lucas confiou a Murilo a chave da moto e seguiu o homem até a diretoria. Lá dentro foi impossível não recordar-se da última vez em que estivera ali, afinal, não fazia tanto tempo assim. Os móveis estavam exatamente no mesmo lugar, como no início do ano, quando envolvera-se na confusão por causa do beijo em Derick, no parque. Não queria pensar naquilo, ainda não havia engolido a agressão de Derick no acampamento, e por isso preferia ignorar, do contrário, acabaria por prejudicá-lo de alguma forma, só para se vingar.
O auxiliar da direção fechou a porta e começou a conversar com ele calmamente, assuntos aleatórios que não faziam o menor sentido: planos para o futuro, família, futebol. Lucas queria entender o que o homem estava tentando descobrir, sabia que o auxiliar era quem conversava com os garotos problemáticos, já que a própria namorada passou por ele antes de ser transferida de turno. Então o assunto foi ficando mais estranho, e de forma disfarçada o auxiliar começou a falar sobre drogas.
Lucas entendeu a mensagem, o homem queria de forma "indireta" dizer que estavam cientes do que estava acontecendo, mas que o daria uma oportunidade de parar. Lucas fez-se de desentendido e levou a conversa como se fosse apenas uma reunião normal sobre suas "faltas", por fim, liberado, o garoto apareceu no estacionamento soltando fogo pelo nariz.
Ele senta-se na moto junto a Murilo e ofega nervoso. Murilo questiona sobre o que aconteceu, vendo-o colocar o capacete, e Lucas promete que Kaio vai pagar por ser linguarudo. Sob seu comando, Murilo acelera e deixa a instituição.
Tati e Diogo estão estudando no quarto, parecem divertir-se bastante. A auxiliar da residência vez por outra aparece para saber se estão bem, e então se retira. Tati e Diogo tem uma química legal, mas ainda assim, vez por outra a garota pega-se olhando para além da janela a fim de ver se Kaio aparece no jardim da casa a frente.
Diogo já percebeu que a garota gosta de observar o gramado, e deixando-a desconsertada, pergunta se há algo do outro lado da rua que a incomoda. Tati disfarça, e apenas retruca que não imaginava que Kaio e os primos morassem tão próximos. Ela fala que adoraria morar próxima dos primos, mas cada tio mora em um estado.
Diogo passa a falar mais sobre quando moram no Rio, sobre quando Kaio e Murilo começaram a frequentar os fliperamas da cidade e consequentemente cumprir castigos juntos por fugirem da escola. Tati quer saber mais sobre as histórias, ela não acha que eles são tão próximos como Diogo diz, e Diogo ofega, perguntando se pode confiar nela para falar algo.
Tati quer saber do que se trata, e Diogo confessa que tem achado muito estranho às novas amizades do irmão. Ele diz que Murilo vem agindo de forma mais reservada, mantendo a porta do quarto trancada, e que certo dia ficou muito irritado por ele ter mexido em sua mochila em busca de uma calculadora.
Tati consegue imaginar o motivo da mudança repentina do colega de classe, mas, o que pode fazer? Não é tão próxima assim de Diogo para contar tudo o que sabe sobre Lucas, então prefere disfarçar, dando um jeito de mudar de assunto antes que solte a língua. O melhor para eles é ficarem longe daquela história.
Em outro núcleo, subindo a pé pela avenida margeada por árvores, Ian e Derick parecem estar se dando muito bem e conversam mil assuntos distintos. Depois da confissão de Ian, Derick acabou por tentar ser mais gentil e aceitou a proposta do garoto em ser acompanhado até a rua de casa. Derick podia dizer a Ian que sempre faz o trajeto de ônibus, mas, desta vez resolveu por aceitar sua proposta.
É engraçado poder conversar com alguém que é igual a si. Lizi e Tati são ótimas como amigas, mas às vezes Derick sentia que elas não o conseguiam compreender muito bem, porém com Ian era diferente.
Derick repara nas peculiaridades que fazem do garoto um cara atraente. A forma que ele se veste informalmente, chutando pedrinhas conforme caminha, balançando os cabelos sempre que algo cai neles. Vez por outra Ian faz alguma gracinha só para fazer Derick sorrir, recebe uma tirada como retribuição, mas os dois apenas fazem piada.
Ian enfim pede desculpas pelo primeiro dia de aulas, e confessa que não sabia que aquele lugar tinha dono, e Derick apenas pede que supere aquele dia, explicando que não estava bem, que estava meio... irritado com uma pessoa.
Eles param próximos a um quiosque abandonado, no meio de uma praça pouco movimentada. Algumas crianças brincam ao longe, e é possível ouvir risadas.
A noite está caindo vagarosamente, Derick nem se deu conta que passou a tarde inteira em companhia do "desafeto", mas, busca não grilar com aquilo. E agora, Ian, curioso como de costume, quer saber o motivo da tal "irritação" ao qual o garoto acabara de se referir.
Derick não quer falar sobre isto, ele desconversa tentando passar para o outro lado do quiosque, e num gesto impensado, Ian desliza sua mão por sobre a dele, puxando-o um instante, pedindo que conte o que houve.
Eles estão em uma lateral oculta dos olhares curiosos, folhas secas pelo chão, e o contraste entre a proteção das árvores e o pôr do sol é mágico. Derick está sem graça por Ian ter tocado sua pele sem consentimento, pelos dedos dele estarem fechados ao redor de seu pulso de forma tão leve.
Ele ergue o rosto vagarosamente, e trocam olhares. Ian está com um leve sorriso que morre aos poucos, e Derick tenta disfarçar que o coração está acelerado.
Então Ian diz que não vai forçá-lo a falar sobre isto, e afastando a mão indica o caminho que devem seguir para chegarem à rua de sua casa.
Derick está anestesiado pela sensação quente da mão dele, mas de repente a ficha cai, e uma pergunta surge: "Como Ian sabe o caminho até sua casa?".
Pensa em questioná-lo, mas prefere ignorar. Com um sorriso apenas agradece pela companhia, e ajeitando a mochila indica que dali em diante pode ir sozinho, ou ficará tarde para Ian voltar.
Ian questiona se ele não quer ser deixado na porta, mas Derick confirma que não precisa. Assim, aproximando-se de supetão, Ian despede-se dele com um beijo na bochecha, da de costas, e volta pelo caminho que vieram.
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Confusões no Colegial
RomanceImagine um Brasil do futuro, onde estudantes de ensino médio podem dirigir e as escolas públicas tornaram-se aconchegantes a nível internacional. Imaginou? Agora utilize este cenário como palco para as aventuras de um garoto gay não assumido (Derick...