Cap.27 - Jogo da Verdade

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Uma brisa forte soprou invadindo o quarto apertado e balançou a cartinha que Tatiane segurava nas mãos. Seus cabelos esvoaçaram e a garota sentiu-se atônita enquanto tentava digerir a revelação.

Para quem estava de fora, poderia ver aquilo tudo como uma reles bobagem juvenil, mas para ela, a "sabichona e brigona", a garota iludida que por um momento pensou ter um admirador secreto e chegou a sonhar com ele (isso ela não contou a ninguém), era como ter pressionada uma ferida há muito infeccionado.

Depois de tanto tempo resistindo aos garotos, pela primeira vez voltara a sentir-se diferente por um deles estar a cortejá-la. Estava contente por não ser vista apenas como a durona e brigona da classe, e sim como uma garota especial pela qual um cara pudesse se interessar.

Respirando fundo procurou a voz e com dificuldade resmungou:

— Todo este tempo você estava com o Michael, e não falou nada? — Ela sentia um nó sufocando a garganta. No quarto havia apenas silêncio, afinal, como argumentar sobre aquilo? — Todo este tempo eu pensando que ele estava dando em cima de mim, porém seus gestos e piscadelas, seus sorrisinhos e indiretas, eram tudo para você? Só para você? — As lágrimas passaram a correr e Lizi permanecia em silêncio fitando o chão — o tempo todo você sabia, e ainda assim me deixou ser iludida. ME DEIXOU PASSAR VERGONHA? — ela amassou a cartinha e jogou próximo à porta, aos pés de Derick.

— Calma Tati, calma — Derick interveio ao pressentir o clima pegar fogo — Tenho certeza que a Lizi está arrependida, não é Lizi? — ele encarou a colega, mas agora, nada saía de seus lábios a não serem soluços — Diz alguma coisa Lizi, por favor — agora era Derick que começava a sentir um nó na garganta, afinal, ele também tinha muita culpa naquilo tudo.

— Sempre desconfiei — Tatiane retira os óculos e seca as lágrimas que umedeciam as lentes — Eu sabia que o tempo todo era alguma pegadinha, uma brincadeira de mau gosto para humilhar a nerd BV, sabichona e brigona — o nó na garganta apertava ao lembra-se de Caroline humilhando-a na escola — Alguém deve estar por aí, neste exato momento se divertindo às minhas custas: "Olha lá. Lá vai a baixinha quatro-olhos que pensa ter mesmo um admirador secreto. Coitadinha, tão iludida. Irritada do jeito que é, qual garoto vai querer alguma coisa com ela". — Tati se autodepreciava com um longo soluço de dor, e Derick ao ver isso, não podia continuar omisso. Quanto ao fato de Lizi estar ficando com Michael ele não podia dizer nada, muito menos dar uma explicação sobre o porquê de não contar antes quem era o verdadeiro remetente. Todavia, precisava dizer a verdade, falar que ela tinha sim um admirador secreto, que aquilo não era uma piadinha. Então, meio que desajeitado tentou remediar a situação:

— Ninguém estava zombando de você amiga — abaixou a cabeça — Posso garantir — e engasgando com o nó na garganta, também começou a chorar. Sentia por Tatiane semelhante pesar que sentira na noite em que Kaio revelara quem era sua verdadeira paixão, sabia o que era sentir-se frustrado, como acontecera na manhã após transar pela última vez com Lucas. — Quem escreveu as cartinhas... — ele hesita, mas precisava continuar — foi o Kaio. Ele é o autor — suspira e sente as pernas amolecerem — Me desculpe, eu sabia o tempo todo, mas, mas...

Uma forte rajada de vento entra pela janela e os três sentem o rosto acariciado. Então a voz de Tati exclama ainda mais revoltada:

— O KAIO? — Essa era a cereja do bolo, agora a noite estava completa. Além de Lizi, Derick também era um traíra, sabia de tudo e nada revelou.

Porém não acabou por aí:

— Eu não contei antes porque, porque — ele gaguejou, não continuaria a esconder sua aflição — Eu também estava gostando dele.

A garota recuou atônita. Sua surpresa não foi pela revelação feita, afinal, quem não se apaixonaria pelo idiota, loiro e estonteante atacante do time de futebol? Mas sim a expressão que Derick usou: "Eu também".

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