Capítulo 3 - É preciso falar sobre...

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Quando o sino do intervalo soou, Lizi erguera-se às pressas e por pouco não derrubou os livros que deixara sobre a mesa. Tati e Derick ficaram observando a cena desastrada, mas antes que pudessem dizer qualquer coisa, ela já estava distante, empurrando os colegas para os lados, para pular sobre o pescoço da silhueta baixinha que se projetava à porta, como num mergulho de cabeça no oceano. Eles tropeçaram no corredor. Michael, todo desorientado, sentiu as costas baterem contra o mural de recados enquanto os braços magrelos da namorada se envolviam ao redor do corpo, num abraço apertado de urso que entortara-lhe o boné.

— Jesus! — Tatiane exclamou virando-se embasbacada para Derick, que também não conseguia desviar os olhos da cena — Quanto tempo você acha que a Lizi leva para matar ele? — murmurou atônita.

— Hum — Derick parou um minuto a pensar naquilo, observando os demais que deixavam o ambiente a fazer algazarra — Um mês talvez — e então olhou para a amiga, sorridente — Bem, se todas as vezes que se reencontrarem for deste jeito, menos que isso.

Tatiane sorriu animada, e então engoliu em seco quando a silhueta de Kaio projetou-se entre as mesas, caminhando para a saída em companhia dos demais colegas do fundão. Ela ficou bastante constrangida, pois os olhares se encontraram de surpresa, e por pouco não se embaraçou na intensidade dos olhos azuis dele. Tentando disfarçar a falta de jeito, toda desconsertada, ajeitou-se a recolher as canetas que Lizi deixara espalhadas, e aproximando-se mais de seu ouvido, pelas costas, Derick não resistiu retrucar:

— Você acha que ele está com raiva da gente? — fez uma pequena pausa observando-o sumir no corredor, então voltou a ela — Digo, pelo tapa na cara, e, pelos empurrões na quadra?

Pensar naquilo tornava inevitável lembrar-se de um terceiro personagem envolvido na ação. Sim, o garoto de cabelos ondulados sentado logo atrás, silencioso e extremamente quieto desde o primeiro horário.

— Eu não sei — Tatiane sussurrou virando-se um instante, sem coragem de afastar os olhos das canetas que organizava — Acho que, sim.

Como a posição dos dois estava desconfortável, e Derick temia que Ian estivesse atento aos murmúrios, levantou-se sem olhar para ele, e acomodou-se na cadeira de Lizi, à frente, lado a lado com a mesa de Tatiane, no meio do corredor. A amiga sorriu, podendo respirar aliviada por ter a visão da porta bloqueada pela silhueta do colega. Então Derick prosseguiu:

— Você pensou no que conversamos no acampamento? — houve uma pausa, Tati parecia fingir não recordar-se do que se tratava, ou talvez quisesse apenas ignorar tudo aquilo por mais alguns momentos — Sobre, bem — Derick teve de insistir, esse era oficialmente o fim da trégua de férias — sobre ele ser afim de você, desde o ensino fundamental?

A garota ergueu a cabeça e respirou fundo, olhando rapidamente para o quadro, e então de esguelha, a fim de conferir se alguém estava a bisbilhotar a conversa. Ian, no entanto, o único ali além dos dois, permanecia de cabeça baixa, oculta entre os braços, fone nos ouvidos, parecendo distante.

— Esta história é bobagem D, não insista nisto, por favor. — Ela murmurou com cuidado, chegando para mais próximo, fitando a sala vazia e o movimento lá fora. Lizi já não estava recostada ao mural, Kaio e seu grupinho desceram para o térreo. — É claro que tudo foi uma confusão por causa da Crícia — ela suspirou, satisfeita pela líder de torcida já ter saído — Talvez ele só tenha ficado com pena de mim. Você não entende? Consciência pesada?!

Seguindo seu exemplo, Derick também deu uma rápida espiadela pelos arredores, e então por sobre o ombro, observando o vulto silencioso de Ian. Os cabelos ondulados do rapaz caiam por sobre os braços cruzados e eram esvoaçados levemente pela brisa que entrava pela janela. Pelo visto, Ian estava realmente alheio ao assunto.

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