Cap.30 - Toca do Coelho

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"Santo Deus, ele me beijou, ele me beijou".

Derick andava apressado olhando para trás, temia que Ian estivesse ao seu encalço, seguindo-o pelos terrenos do acampamento. Abraçava a blusa de frio e caminhava tropeçando de encontro à região escura para lá do prédio de alojamentos.

"Por que fez isso? garoto idiota, que nojo, ele me beijou... que nojo".

Não sabia o que pensar, a mente estava uma confusão. Ele odiava Ian, o odiara desde o primeiro dia em que se estranharam, o odiava desde que o garoto nasceu, o odiava desde sempre e para sempre — tocou os lábios sentindo um arrepio de encontro ao pescoço.

"E se ele tentasse novamente?"

"E se fizera aquilo apenas para zombar, para se vingar?"

Derick tremia. Queria ir embora, queria deixar aquele lugar. Sentia-se sufocado, confuso, emotivo. Foram as piores férias da sua vida, a pior fase desde que entrara na adolescência. O coração estava quebrado, as amizades fragilizadas, os sentimentos revoltos.

Ele jogou-se sobre o emaranhado de cobertores assim que desfez o pacote onde os guardava entre os arbustos. Cobriu-se com um e ofegou atônito.

"O que fora aquilo?"

A imagem de Ian o surpreendia tornando-se novamente nítida, e outra vez, e outra vez. A forma como o impedira de sair do quarto, suas mãos imprensando os braços com força, chacoalhando-o como se fosse uma criançinha boba, beijando seus lábios sem autorização.

"Por que o forçara? Ele não deveria, não deveria".

Derick havia feito uma promessa, seria casto. Não se envolveria novamente, não queria ser ferido outra vez, e mesmo assim Ian o tocou. Ele o forçou a um beijo. Sim, sim. A culpa era de Ian, ele havia o forçado, ou não?

Derick não sabia, no fundo parecia ter gostado da audácia. Tão verdade era que outra vez pegou-se acariciando os lábios ao lembrar-se do episódio.

"Não, não, não" — ele brigava com as batidas do coração e as borboletas no estômago — "Não quero, não vou, não vou" — Sabia muito bem o que estava acontecendo, novamente se envolvia, novamente se rendia. Novamente colocava uma corda ao redor do pescoço, porque de fato era isso que acontecia ao se interessar por alguém.

"Por que logo ele? Logo esse garoto idiota?"

Tornou a resmungar saindo debaixo do cobertor. A noite estava fria, o vento balançava as árvores e ele ouviu um barulho vindo distante, apressado, assustado.

Levantou-se de supetão, ficara com medo, não sabia o que era, quem era. Resolveu recolher rapidamente as cobertas, escondeu-se atrás de uma árvore e ficou a observar a silhueta assustada surgir sobre a grama amassada onde há pouco estivera montada a cama.

— Derick?! — A vozinha chorosa soou e mais que imediatamente o garoto a reconheceu.

— Tati? — Ele saiu detrás da árvore e lançando o foco da lanterna sobre ela observou a garota correr assustada e abraçá-lo.

— O que houve? Por que está tremendo? — O garoto não sabia como reagir. Desligou a lanterna e ficaram no escuro.

— Ele me viu, estou com medo, ele me viu — ela insistia aos resmungos, olhando o tempo todo para trás.

— Mas, quem viu você? Do que está falando? — O garoto questionou, assustado com o descontrole da amiga.

De início ouviam apenas o vento farfalhando as árvores, mas não demorou a identificarem passos apressados vindos naquela direção.

Confusões no ColegialOnde histórias criam vida. Descubra agora