Capítulo 1 - Fim de Férias

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Acorde!

Não fique protegendo-se das frustrações só porque

seu grande amor de adolescência não deu certo.

Não enviúve a si mesmo, ninguém morreu!

— Tati Bernardi, Site o Pensador.

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O céu estava de um azul profundo. Não havia sinal de nuvens e apenas um solarão de quarenta graus castigava com seus ardentes raios ultravioletas. Se um pássaro ousasse cruzar aquela imensidão, correria o risco de cair em linha reta, soltando fumaça ao deixar as penas para trás. A ave se estatelaria no meio do asfalto aquecido e com a língua para fora, respiraria sofregamente como em um desenho animado que passava todas as manhãs de domingo.

Imaginar a cena fez Kaio esboçar um sorriso cansado entre os lábios rachados. Levou a mão à testa a fim de secar o suor e comprimiu os olhos tentando aliviar o ardor causado pela forte claridade refletida pelo calçamento de paralelepípedos. Seu desejo era deixar todas aquelas caixas empilhadas ali mesmo e correr para dentro a fim de dar um mergulho na piscina refrescante aos fundos do casarão. Estava sem camiseta, usando apenas short estampado e suas costas tomaram a tonalidade avermelhada de um camarão tostado. Então, enquanto descansava, ouviu a voz masculina ecoar vinda do acesso à residência logo à frente.

— Já cansou Kaião?

Ele ergueu o rosto e fitou o garoto aloirado que descia pelas escadinhas margeadas por arbustos. Era alto, tinha os cabelos charmosamente espetados e olhos azulados levemente puxadinhos nas laterais. Diferente de Kaio, usava uma regata branca úmida de suor, deixando amostra apenas os braços torneados, que embora malhados, não eram tão chamativos quanto os do primo.

— Este calor está de matar — Kaio resmungou levantando-se do meio-fio onde estivera sentado, e em companhia do garoto seguiu para a rampa de madeira que dava acesso à carroceria do caminhão de mudanças estacionado logo ali; Em um só movimento, ambos ergueram a mediana mesa de vidro da sala de jantar, transportando-a para a calçada, e então para dentro da residência logo à frente.

— Você já sabe qual dos cômodos será o seu quarto? — Kaio questionou observando outra vez os vários acessos. Para ele o casarão não era novidade, já estivera ali outras vezes antes dos antigos vizinhos se mudarem. No andar superior ficavam os quartos e um pequeno cômodo utilizado como escritório, na parte de baixo a cozinha, sala de jantar, sala de televisão e a área que dava para a piscina aos fundos. Os filhos dos donos anteriores estudaram com ele por três anos no ensino fundamental, mas com a realocação do pai que era militar, precisaram se mudar, desde então o casarão ficou vazio, até que nas férias, ao voltar do acampamento, Kaio recebera da parte dos pais a notícia de que os tios alugariam a residência da frente, e que a partir de agora seriam vizinhos de condomínio.

Murilo e Kaio subiram a escada que levava ao piso superior. Tudo ainda estava muito bagunçado e várias caixas se amontoavam no corredor. Eles caminharam pelo soalho até alcançarem a última porta próxima ao largo vitral que dava para a lateral da casa. Murilo empurrou a porta e Kaio foi recebido em seu ambiente. O quarto era espaçoso, e nada havia ali além das malas cheias de roupas. Kaio olhou ao redor, recordando-se de como era o local antes da mudança dos antigos colegas; Sentindo uma leve brisa que felizmente começava a soprar, caminhou até a janela que estava com a persiana aberta, e observou o caminhão de mudanças na rua lá embaixo e a fachada de sua casa logo à frente.

— E aí? Foi ou não foi uma ótima escolha? — Murilo murmurou quando ambos apoiaram-se no peitoril. Dali era possível ter uma boa visão dos vários casarões que formavam o condomínio. A grama amarelada pela estação rodeava as casas, em geral com frente branca e sem muros.

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