Capítulo 7 - Paranóia

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O sinal tocou às exatas 13:00 horas, anunciando a abertura dos portões para o turno da tarde. "Abertura dos portões" era um termo genérico a ser usado, já que antes mesmo do sino badalar, os portões do Dom Pedro já estavam abertos para vários estudantes da manhã que continuavam por ali em busca do tempo perdido, a realizarem suas tarefas extracurriculares pesadamente acumuladas. O pátio e a área verde estavam movimentados, e o número de garotos e garotas dobrou quando o porteiro liberou a entrada principal. Veículos encontravam vagas para estacionar, pais deixavam os filhos à entrada, e amigos se encontravam às margens dos blocos, a retribuir com beijos e abraços à distância causada na pausa de um dia para o outro. Foi olhando um destes grupinhos, que Crícia Naiane abaixou os olhos, e fitou outra vez a tela do celular. Ela estava sentada em um banco de concreto às margens de um dos blocos. Com as pernas cruzadas de ladinho, sentia a brisa que vinha das árvores, e as folhas miudinhas caindo e se acumulando ao redor, os pensamentos agitados.

Dois turnos, dois grupos, duas líderes de torcida, ela pensava. Querendo ou não, uma hora ou outra o reencontro com a ex-colega teria que acontecer. Crícia estava nervosa, quando marcara o primeiro ensaio do semestre para aquela tarde, não levara em consideração que isto apenas facilitaria um reencontro com Caroline, o que confirmou-se quando Lucas a procurou no horário do almoço, transmitindo-lhe o recado de colega, que desejava encontrar-se com ela ali, exatamente no ponto onde gostavam de conversar quando estudavam na mesma sala. Mas afinal, o que poderia fazer? Era madura o suficiente para saber que uma hora ou outra se esbarrariam em algum lugar, fosse durante um ensaio desmenbrado de grupos (Crícia liderava as garotas da manhã e Caroline, ao ser transferida, conseguira a liderança das garotas da tarde), ou num ensaio em conjunto (Quinzenalmente, os grupos se uniam para formar a coreografia geral). Ela precisava saber como agir, saber como falar, mas, temia que Caroline não soubesse entendê-la, foi então que ouviu uma vozinha propagar-se adiante, e erguendo a cabeça, imediatamente, respirou fundo e esboçou um largo sorriso ao ver que não era ela.

— Crícia — Uma garota alta e morena sorriu aproximando-se, estava acompanhada de uma baixinha de óculos, e as duas carregavam cordas — Você veio mais cedo? ­­— elas trocaram cumprimentos, com sorrisinhos simpáticos — pensamos que o ensaio estava marcado apenas para as três, aconteceu algo?

Crícia sorriu sem jeito arrumando a mecha de cabelos que caíra sobre o rosto, então, voltara a se sentar.

— An, não, não — respirou fundo, tomando um livro pesado que estava ao lado — O trabalho de Geografia, lembram-se? — ela ergueu o objeto no ar, e as garotas também sorriram — Acho que como todos da sala, enciclopédias é algo que não existe em minha casa.

— O trabalho de Geografia, minha nossa — a garota morena sorriu, sentando-se ao lado dela por um instante, a fim de descansar as pernas. Pelas roupas, estava vindo de algum treinamento físico — O professor precisava mesmo proibir o uso do Wikipédia? — olhou para a amiga baixinha que ajustava uma munhequeira ao redor do pulso — Minha nossa, ninguém usa livros hoje em dia. De onde ele tirou essa ideia maluca?

As três sorriram.

— Eu também achei um saco ter de citar bibliografias. Minha sorte é que a bibliotecária ainda estava deixando levar os livros para casa, este aqui foi um dos últimos que ela liberou.

— Espere aí — a garota baixinha fixou-a por um momento — Então, a biblioteca não está liberando os livros?

— Parece que a procura pelo tema tem sido grande, e os livros sobre o assunto estão emprestados para a outra escola desde o semestre anterior, não deu tempo de serem devolvidos. Por isso, quem pegou antes, pegou. Agora, ou faz na biblioteca, ou tem que ir do outro lado da cidade na biblioteca pública.

Confusões no ColegialOnde histórias criam vida. Descubra agora