O canto gregoriano preenche o ambiente espaçoso. Famílias ocupam as várias fileiras de bancos cor mogno. Um cheiro forte de vela empreguina o ar, elas estão fixas em castiçais estrategicamente posicionados no altar da igreja.
Ao sinal do padre, toda a congregação levanta-se, entre eles Derick e os pais que vieram assistir a missa de domingo. O padre fala algo e toda a congregação responde com um amém uníssono, fazem o sinal da cruz e curvam a cabeça.
Derick observa seu reflexo no chão enquanto acompanha a prece, ele ergue-se, reparando lá na frente a imagem do Cristo pregado na cruz.
Será que nasci para ser infeliz? — questiona aos sussurros — Primeiro me apaixono por um cara que tem namorada e no fim ele é apaixonado por minha melhor amiga — reflete — Depois transo — Ops, melhor não falar assim dentro da igreja, Deus pode ficar zangado (Derick faz o sinal da cruz e pede perdão) — faço amor — acho que ficou melhor — bom, depois faço amor com outro cara que pelo visto me quer apenas como passatempo. Onde foi que eu errei?
O rapaz está muito magoado, principalmente agora que Lucas voltou com a ex-namorada e só avisou depois de passarem a noite juntos. Sentia-se iludido, usado. Ele continua olhando para frente, um coroinha aproxima-se do padre com algo brilhoso e em seguida acompanhados de outros sacerdotes descem pelos corredores balançando o objeto que vai soltando fumaça.
O coroinha passa por debaixo de um holofote de clarão alaranjado e o cântico recomeça.
Um sinal?! — Derick pensa num confuso misto de emoções — Acho que entendi e me decidi — ele abaixa a cabeça e continua — agora vou ser celibatário — a congregação faz um uníssono amém e Derick olha para os lados assustado. Junto aos demais faz o sinal da cruz e prossegue com os pensamentos — Chega dessas desilusões do coração, agora é pra valer, sou um rapaz casto.
Virando-se para um banco na fileira lateral, ele rapara num jovem muito atraente. Do nada o rapaz se vira e trocam olhares — diabos, diabos, diabos — Derick volta a olhar para frente e começa a rezar, não resiste e torna a dar uma espiadela naquela direção.
Controle-se — Ele se força novamente a olhar para frente. Não queria ceder aos impulsos. Mas aquele boyzinho era tão lindo, fofinho e arrumadinho, e alem disso parecia continuar lançando olhares — um sorrisinho interior desabrocha — Ora, não seja burro garoto, — Derick balança a cabeça tentando afugentar os pensamentos errados — o Kaio também parecia dar mole e você apenas se fodeu — Surpreso com seus pensamentos ele bate na boca pedindo perdão. Será que Deus ouvira a expressão chula?
Bem, de agora em diante era isso, ele iria resistir firmemente às tentações. Deixar essa história de "cobras" e "maçãs" para pessoas menos azaradas, porque ele, ele já estava esgotado.
* * *
Corre, corre, corre... Os portões do colégio estavam sendo fechados. Atrasado, ótima forma de começar a semana.
Derick sobe as escadas para o primeiro andar, cruza o corredor vazio quase deslizando no chão recém-encerado, para diante da porta fechada e ajeita o cabelo que ficou todo esfuazado com a pressa.
"Tudo bem, muita calma" — ele diz para si mesmo controlando a respiração ofegante.
Bate na porta que em seguida é aberta por um dos alunos. A professora olhando em sua direção faz sinal para que entre. Por um instante ele exibiu um sorriso que logo virou cara fechada ao olhar para o seu "cantinho", logo atrás de Tatiane.
— Com licença, você está no meu lugar — Aproximando-se, Derick fala com o garoto que reclinado lia algo em seu livro de literatura, então observa o rapaz lentamente levantar a cabeça e observá-lo com olhos cor de mel. Ele assemelhava-se a um anjo, com cabelos ondulados e lábios finos.
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Confusões no Colegial
RomanceImagine um Brasil do futuro, onde estudantes de ensino médio podem dirigir e as escolas públicas tornaram-se aconchegantes a nível internacional. Imaginou? Agora utilize este cenário como palco para as aventuras de um garoto gay não assumido (Derick...