— Então, todo este tempo você esteve dormindo no meio do mato? — Tatiane ficou boquiaberta, nunca passara por sua cabeça que o colega pudesse ser louco a este ponto. Será que não tinha medo de ser picado por uma cobra ou mordido por formigas?
A situação não era para ser engraçada, mas a garota não resistiu e caiu numa gargalhada descontrolada, acompanhada por ele.
— Em pensar que cheguei a imaginar que você teria alguma coisa com essa história das drogas — Tatiane falou agora que estava mais controlada, secando a testa que ficara suada. Eles estavam sentados sobre o cercado de madeira que prendia os cavalos ao lado da região de floresta. Era o período que antecedia o almoço e Lizi outra vez dera uma desculpa qualquer para desaparecer.
— Drogas eu? — Derick resmungou ajeitando-se melhor sobre o cercado. Ao longe observava o movimento dos colegiais que aproveitavam a tarde ensolarada e só depois de algum tempo percebeu que Tatiane tornara a ficar quieta. — Ei, você está ouvindo?! — ele empurra a garota que por pouco não cai.
— O que houve? Precisa empurrar?! — Ela se assusta e resolve descer do cercado — Estou com uma coisa que não sai da cabeça.
— E o que é? — O garoto a acompanha e ambos caminham rente ao estábulo. Então a interrompe com zombaria — Não, deixe-me adivinhar — ele sorri — é o tal Michael?! — completa gargalhando.
— Não seu bobo — Tati diz. Parecia um tanto melancólica, preocupada.
— E então? — Ele esquece as brincadeiras e volta a falar sério. Alguma coisa importante a amiga tinha a dizer.
— É a Lizi. Ela tem andado estranha, distante, você não reparou? — O garoto desvia o olhar para o prédio de alojamentos. Nos últimos dias ocupou a mente apenas com os próprios problemas, e de forma egoísta, esqueceu-se que eram um trio, e que assim como ele as amigas também possuíam seus dilemas.
Respirou fundo, sentiu-se mesquinho. Então parou a caminhada, tomou a mão da amiga e passou a desculpar-se.
— Quero pedir perdão — ele fitou Tatiane nos olhos — Ando muito distante desde antes das férias — e então sentiu muita vontade de desabafar, mas, não podia fazer aquilo. Muitas coisas o prendiam — Prometo, ou melhor, eu juro. Juro que em breve tudo voltará ao normal — e exibindo um sorriso voltaram a apoiar-se na cerca, observando os cavalos ao longe.
Foi a vez de Tati prosseguir.
— Pelo menos... bem, pelo menos você não anda guardando segredos — ela disse e o garoto sentiu um nó na garganta. Infelizmente Tatiane estava bastante enganada quanto a ele.
Resolveu dizer algo que amenizasse a consciência.
— Bom, não vou mentir para você — Ele virou-se a olhar para o prédio, observando garotas sentadas no peitoril de uma janela, zombando de uns carinhas magrelos que jogavam bola mais abaixo — Segredos todos nós temos. Isso é imprescindível — respirou fundo e prosseguiu — Mas se guardamos alguns, talvez seja para o bem das pessoas que amamos. Concorda? — sorriu sem graça e observou Tatiane pensar sobre aquilo em silêncio.
— Sabe — ela murmurou — Você tem razão — retirou os óculos e passou a limpá-los no tecido da blusa colorida — Mas o meu medo é de que alguns destes "segredinhos", tipo os da Lizi, estejam ligados com algo ruim — então virou-se para o colega e foi direta — Estou desconfiada que diferente de você, a Lizi esteja envolvida nesta história das drogas.
Imediatamente Derick reagiu:
— Você está louca? — exclamou olhando ao redor. Após certificar-se de que ninguém ouvira aquele devaneio passou a sussurrar — A Lizi seria incapaz de se envolver com essas porcarias.
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Confusões no Colegial
RomanceImagine um Brasil do futuro, onde estudantes de ensino médio podem dirigir e as escolas públicas tornaram-se aconchegantes a nível internacional. Imaginou? Agora utilize este cenário como palco para as aventuras de um garoto gay não assumido (Derick...