Capítulo 2 - Novos Rostos, Velhos Problemas

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Quando o estridente som do escapamento ecoou pelo campus, não teve um aluno que não virasse a cabeça para acompanhar a entrada de Lucas no estacionamento. A manhã de segunda-feira estava ensolarada, e naquele primeiro dia de retorno às aulas o rapaz viera em sua moto. O rosto de Lucas estava oculto pelo capacete que protegia a cabeça, às costas ele trazia uma mochila escura, onde certamente os materiais escolares estavam guardados. Trajava calça jeans desbotada com os joelhos desfiados, All star desgastado e uma camiseta com mangas dobradas que exibia a nova tatuagem feita no bíceps. Após estacionar entre os carros, ele removeu a proteção da cabeça percebendo ao longe, paradas próximas a algumas colunas de concreto, duas garotas suspirarem encantadas. Ele não sabia, mas ambas estiveram a acompanhar seu perfil no facebook desde o fim do acampamento.

— Minha nossa, como ele está atraente este semestre — cochichavam sem desgrudar os olhos da sua forma física a se aproximar.

— Seria um sonho namorá-lo, você não acha? — a segunda garota retrucou.

— Ele deve beijar tão bem.

— Isso explica o porquê de aquela garota da tarde não sair do pé dele.

— A Caroline? — a menina de tranças murmurou disfarçando, ele agora passava bem ao lado delas, em direção ao corredor. Fez-se um minuto de silêncio, e então retomaram os cochichos — Eles já estão juntos há bastante tempo não é mesmo? Dois anos, próximo a isso?

— Desde o ensino fundamental, eu acho. — a segunda garota sussurrou observando o rapaz sumir despreocupado ao fazer a curva, só então suspirou voltando a atentar-se à entrada do colégio — Eles sempre terminam e reatam, todos sabem que esse relacionamento é sem futuro, mas ela ainda persiste como se ele fosse um troféu.

A amiga baixinha sorriu, e então observou o vulto escuro surgir na entrada distante. Era um carro a fazer a curva no estacionamento, o range rover de Kaio, que refletia os raios do sol conforme procurava uma vaga, até encontrá-la. O garoto manobrou o veículo chamativo, e parou no espaço frente aos pinheiros, pertinho da praça de leitura. Houve uma pequena pausa após o motor ser desligado, pausa suficiente para o condutor interromper a música do Red Hot que tocava em alto som, e o passageiro ao lado, abrir sua porta sentindo o bom ar matinal beijar-lhe o rosto. Alto, cabelos loiros espetados e olhar puxadinho nas laterais, Murilo se erguia a espreguiçar os braços após ajeitar a mochila nas costas.

— Quem é aquele? — Uma das garotas cochichou imediatamente.

O rapaz com jeitão descolado e roupas diferenciadas não parecia ter estudado ali no semestre anterior. Elas conheciam praticamente todos os famosinhos do Dom Pedro I, mas, aquele playboy?

Então, ainda atentas, observaram a porta traseira do veículo sendo aberta lentamente, porém, antes que a segunda silhueta pudesse descer, Kaio postou-se de pé à frente dela, suas costas largas atrapalhando a visão.

Naquela manhã, Kaio trajava uma camiseta regata do time de futebol e seus ombros com pequenos pontilhados de espinhas, estavam avermelhados devido ao sol tomado nas férias. Kaio recebeu do acompanhante a mochila que viera no banco junto a ele, então o observou levantar-se e bateu a porta travando o alarme. Agora, fazia a volta nas laterais do veículo a fim de conferir se todas estavam bem fechadas, e só então parou um instante mais ao lado do primo mais velho que olhava os terrenos.

— E então Murilo? Preparado para o seu primeiro dia no Dom Pedro? — ele questionou levando a mão à altura dos olhos, a fim de protegê-los dos raios do sol que vinham de sobre o prédio.

— Pensei que o lugar fosse bem maior Kaião — Murilo retrucou analisando o ambiente. Ele retirava os óculos escuros da gola da camisa e lançara um olhar para um trio de garotas curiosas que passavam por eles, vindas da pracinha de leitura. Sorriu para uma delas, que se virando a fofocar com a companheira, saiu de perto parecendo bastante empolgadas com o novo partidão. — Mas, ao menos em uma coisa terei de concordar com você primo — ele disse protegendo os olhos — As gatinhas daqui são exatamente como falou.

Confusões no ColegialOnde histórias criam vida. Descubra agora