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       O cheiro era forte. Muitos temperos, gordura, fumaça... Eu sentia cada um daqueles cheiros e isso incomodava meu nariz sensível. Foi pior no início. Agora eu já havia me acostumado um pouco. A pia estava como sempre, cheia de vasilhas. Observei ao redor. O chef e o sous-chef do restaurante estavam conversando sobre o prato do dia. Enquanto os cozinheiros continuavam preparando tudo. Eu que era apenas a plongeur, ficava responsável por limpar todo o local. Sempre aproveitava que não estavam olhando para usar a velocidade de vampira e acabar rapidamente com aquela pilha de louças e manter o ambiente todo limpo. Foi assim que ganhei aquele emprego. Ele dizia que eu era eficiente e valia por duas. Foi a melhor opção para mim. Já que eu podia ganhar dinheiro com meu trabalho e ainda alugava o quartinho no andar de cima do restaurante. Era mais barato do que um apartamento. O que me fazia economizar bastante. 

        _ Vou limpar o salão._ avisei.

        Eles olharam para a pia e sorriram. Já nem se surpreendiam mais, por eu acabar rápido o serviço. Observei as pessoas que estavam desfrutando a comida. Eu sentia falta. Muita falta. De poder apreciar o gosto que tinha. Mas, agora... Toda vez que eu tentava comer um pouco, meu organismo rejeitava e eu acabava vomitando tudo! A única coisa que ele não rejeitava era água. Talvez por que a maior parte do nosso sangue seja exatamente isso. Suspirei e parei de encarar os clientes, voltando minha atenção para o serviço. 

       Estava feliz por ainda não ter notícias do meu antigo chefe. O cara que fez minha vida virar do avesso. Por culpa dele, eu precisava beber sangue. Evitava ao máximo. Até minha garganta ficar dolorida e ressecada. Até não poder mais aguentar. Só então, eu me obrigava a fazer isso. Eu rejeitava com todas as forças minha nova condição. Porém, não tinha o que fazer quanto a isso! Eu já não era humana e não havia como reverter. "Que tipo de monstro você é?"... A fala da minha mãe ainda ecoava em minha mente. Doía!... Sentia sua falta. Mas, agora ela não queria mais me ver. Eu estava sozinha no mundo e teria que lidar com isso.

     Meus sentidos apurados perceberam um batimento cardíaco diferente. Não era o ritmo humano e nem o ritmo de um vampiro. O cheiro também era diferente. Parecia algo... Selvagem! Cheiro de natureza. Madeira, relva molhada, folhas secas, terra! Um cheiro primitivo e atraente. Olhei na direção da qual vinha aquele odor e notei o rapaz que entrava no restaurante. Era alto, tinha músculos bem definidos que a camisa não escondia. Coxas grossas. Panturrilhas bem definidas. A pele morena. Cabelos pretos, (com um brilho azulado) e fartos. Olhos âmbar. Mais comum em animais. Era um homem muito bonito e charmoso. Estava usando uma camisa preta justa. Calça jeans azul marinho e tênis de corrida. Sentou-se na mesa mais afastada do restaurante. Como se quisesse se esconder. Passou a mão pelo cabelo, antes de aceitar o cardápio que lhe entregavam. Seus olhos então, se desviaram até minha direção. E sua expressão mostrou desprezo. Até mesmo nojo. Ele nem me conhecia, mas, parecia ter uma opinião muito negativa ao meu respeito. Ele sabia da minha condição de vampira! Assim como eu sabia que ele não era humano!... Se eu tivesse que arriscar um palpite, diria que ele é um lobisomem. Nas histórias sempre disseram que existe rivalidade entre essas espécies e a maneira como ele me olhava mostrava isso. Sem contar no seu cheiro selvagem. Eu procurei ler tudo que encontrei sobre minha nova condição. Dessa vez, sem ceticismo. Eu queria saber o que eu era e o que mais havia no mundo que eu não sabia!

         Devolvi o olhar de desprezo dele e continuei fazendo meu trabalho. Com tanto que ele ficasse na dele, eu ficaria no meu canto. Não queria ficar desafiando outros sobrenaturais. Apenas tentar viver o melhor que eu podia de acordo com o que me tornei. Quando precisei limpar perto de onde ele estava, ignorei sua presença. Ele fez o mesmo. Aproveitando sua refeição. Não era surpresa ele estar comendo carne mal passada. Sendo um lobisomem, estava com certeza acostumado a comer carne crua em noites de lua cheia. 

Is It Love? Sebastian - Diamante brutoOnde histórias criam vida. Descubra agora