XXVIII

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        Depois de um longo silêncio ele continuou me contando sua história. Ainda deitado no meu colo. 

         _ Minha irmã achou que seria perigoso ficar em Mystery Spell por causa dos vampiros. Então voltou para o Peru! E eu estou passando de cidade em cidade desde então. Sem conseguir me fixar em lugar nenhum. Ainda me sentindo mal pelas humanas que passaram por minha vida e se foram tão jovens. Alguns anos depois fiquei sabendo que minha irmã conseguiu se perdoar e voltou a usar sua forma humana. Ela e Esteban se apaixonaram e decidiram se casar. Querem que eu vá. Mas como eu não tenho condições de ir para o Peru de novo, eles tem adiado esse momento. 

         _ Quanto tempo faz que você carrega essa culpa?

         _ Desde a Harumi são sete anos!

          _ Nossa... É muito tempo para você guardar mágoa. Eu sei que talvez não seja o que você quer ouvir, mas manter ressentimento só vai causar mal estar em você. As outras pessoas estão vivendo suas vidas e seguindo em frente. Apenas você vai ficar parado no tempo, pensando em coisas que não tem como voltar atrás. Está na hora de você se perdoar e conseguir desculpar os vampiros! 

          Ele se levantou do meu colo.

          _ Diz isso porquê é uma vampira! Sempre vai ficar do lado deles.

          _ Não é verdade. Eu estou preocupada com você. Afinal de contas somos amigos ou não?

         Ele ficou me encarando sem dizer nada. Éramos tão diferentes um do outro. Como água e óleo. Coisas que não se misturam. 

          _ Você me deu um susto quando ficou em chamas antes de se jogar daquele penhasco.

          _ Desculpe. Eu tenho um dom... Posso controlar o fogo. Eu não me queimo. 

         Estendi a mão com a palma virada para cima diante dele e fiz uma pequena chama surgir na palma. Ele ficou olhando. 

          _ Como pode ver eu tenho como me defender. Não sou como as garotas que você perdeu. Precisa aprender a se desapegar e deixar ir. Você precisa realmente dizer adeus para elas. Deixar que descansem em paz! Eu não ia querer que você ficasse se martirizando para o resto da vida por minha causa. Precisa aceitar que coisas ruins acontecem. A vida não é um mar de rosas de perfeição. Sebastian... A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional! Até quando você vai escolher alimentar seu sofrimento? Você precisa aprender a deixar ir!

           _ Como você faz? Libertando na hora toda dor e mágoa?

           _ É melhor colocar isso para fora, do que ficar sofrendo. Extravasar é libertador! Se quiser gritar, que grite. Se precisa quebrar alguma coisa, quebre. Compre um saco de pancadas e bata nele até estourar e a areia escorrer. Talvez o meu jeito não seja o mais saudável, mas é porquê tenho dificuldade em me aceitar como sou. Não estou dizendo para fazer como eu. Ache o seu jeito! Eu já coloquei minha frustração com relação a minha mãe para fora naquele penhasco. E não vou deixar que isso me incomode mais. 

            Ele passou a mão pelo cabelo. Depois ficou me encarando e sorriu.

           _ Não acredito que acabei de ouvir um conselho tão bom de uma garota mais nova que eu. Deveria ser o contrário. Eu sou o professor aqui! Sou eu que preciso te ensinar as coisas.

            _ Não existe ninguém que ensine melhor do que a vida! E eu leio muito. "A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento opcional." Carlos Drummond de Andrade. 

Is It Love? Sebastian - Diamante brutoOnde histórias criam vida. Descubra agora