Pensa em uma pessoa que ficou feliz quando descobri que voltaria para minha cidade natal... Meu pai. Ele está eufórico, parece até que quem foi convocado foi ele e não eu. Papai sempre fala de Monte Alegre. Ele e mamãe só saíram de lá pois, eu não estava conseguindo me relacionar e me adaptar muito bem com o pessoal das repúblicas pelas quais passei. Foram dois anos tentando me enturmar, mas, não deu certo. Então, eles vieram para cá e aqui estamos nós. Nessa brincadeira já se passaram onze anos.
Depois daquele chá da tarde com o doutor Homero e o delegado da Federal senhor Juarez, vim para casa e contei aos meus pais sobre a convocação e minha decisão em ir e ajudar a solucionar o caso. Estou animada em voltar para Monte Alegre e ver se mudou alguma coisa. Fiquei pensando em meus antigos colegas de classe como será que estão? Será que ainda moram em Monte Alegre, será que todos já estão casados, será que já tem filhos? São tantos serás que me pego suspirando. Não de melancolia ou frustração, não isso não. É mais um suspiro de saudosismo.
Eu não tive uma infância ruim, longe disso. Minha infância foi ótima. Tá certo que nunca consegui subir em uma árvore, ou plantar bananeira, ou brincar que eu era um carrinho de mão – quando um amiguinho pegava os pés do outro e este saia andando com as mãos – ou com carrinho de rolimã. Como sempre fui gorda eu me privava desses tipos de brincadeiras, pois achava que não conseguiria. Eu sentia muito medo de não conseguir fazer o que as outras crianças faziam. Talvez eles pudessem ririam de mim então, eu me esquivava toda vez que vinham me chamar para brincar dessas coisas. Por outro lado, eu corria, pulava, andava de bicicleta, dançava as músicas da Xuxa – sei que não é do meu tempo – eu adorava as músicas dela. Vivia imitando as paquitas. Lembrando-se disso eu dou risada sozinha. Quantos tombos eu levei usando as botas de Xuxa. Foi uma infância boa, muito boa por sinal. Pega-pega, esconde-esconde, queimado eu era fera. Bons tempos! Pena que não voltam mais.
Com esses pensamentos povoando minha mente, percebo mamãe parada no batente da porta do meu quarto. Ela é uma negra linda, baixinha como eu, magra de cabelos cacheados, uma verdadeira juba. Mamãe é toda vaidosa. Sempre cuidou muito bem da pele, cabelos, sempre e regularmente faz os exames médicos para ver como estão os níveis de colesterol, triglicérides, coração enfim, ela é uma pessoa bem leve, amável, adorável é uma excelente pessoa, mãe e esposa. Ela e papai se amam demais, isso se vê ao longe. Já papai é um senhor de meia idade todo charmoso. Papai conta que conheceu mamãe no baile da primavera. Ele diz que ela estava toda linda dançando quando ele "acidentalmente" esbarrou nela, pedindo mil perdões. Ficaram conversando a festa toda e a partir daquele dia eles se toraram amigos, depois namorados e se casaram meses depois e vivem juntos até hoje. São trinta e cinco anos de convivência, de amor, de companheirismo. Espero um dia ter um amor assim, para a vida toda.
Mamãe vem até mim e senta-se na cama. Ela pega um dos porta-retratos que está em cima de minha penteadeira. É uma foto da minha formatura do curso de Direito. Ela fica alisando com um sorrisinho nos lábios.
– O que aconteceu dona Roberta? Porque essa carinha triste? – Ela para de passar os dedos na foto e depois, olha para mim e fica me observando com os olhos marejados.
– Nada não Bárbara. Só estava aqui pensando em como o tempo voa. Parece que foi ontem que nos mudamos para cá para você continuar seus estudos e hoje, você é uma delegada e a melhor. – Passa a mão direita em meu rosto com carinho. – Me sinto tão orgulhosa de você meu bem. Orgulho-me da mulher forte e determinada que se tornou. Mesmo com tantas dificuldades você venceu não se deixando abater por nada e nem por ninguém. – Me abraça e beija meu rosto. – Te amo filha.
Emociono-me e a abraço forte. Mamãe sempre demonstra e fala que nos ama. Ela diz que o amanhã não nos pertence e por isso ela não perde a oportunidade de fazer isso.
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A lei é o Amor.
عشوائيEm uma cidade pataca no interior de São Paulo que de dois ano e meio para cá vem sendo aterrorizado por assassinatos hediondos. Mulheres com mais de vinte e cinco anos sendo brutalmente assassinadas, tendo seu couro cabeludo arrancado. A única pista...