PRÓLOGO

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OUTUBRO DE 2008.

-volta aqui sua vadiazinha!

Dei as costas como se não estivesse escutando os insultos do meu avô.Eu já estava acostumada depois de tantos anos,quando minha mãe nos deixou aos cuidados dele e se foi.

Só me restava Alisson minha única irmã.Ela era dois anos mais velha,não parecia pois ela sempre foi mais baixa e frágil que eu.
Alisson era tão dependente e positiva que me deixava enjoada,eu odiava pensar que tudo acabaria como acabou.

Ela sempre soube o que eu sentia,minha irmã desdenhou dos meus sentimentos e me traiu da forma mais vergonhosa.

Eu sabia que tudo que me restava era ela,tudo que eu tinha depois que nossa mãe nos abandonou.

-eu devia colocar você na rua,como coloquei sua mãe-ele esbravejou-onde pensa que vai Holly?.Por que você não é como sua irmã?

-caminhar um pouco na chuva- falei em um fio de voz.

-devia ter deixado você morrer de fome pelas ruas sua mal agradecida!

Vesti as botas e amarrei minha flanela vermelha por cima do short jeans,a essa altura eu não me importava com a chuva do lado de fora.

Só queria me afastar do meu avô,desse lugar amaldiçoado.

-por favor Holly-Alisson segurou minha mão-obedeça nosso avô.

-deixa ela-ele cuspia as palavras com ódio,o cheiro de bebida me deixava enjoada-ela nunca será decente como você.

-Eu só queria sair dessa casa e nunca mais voltar.

-você nunca foi bem vinda aqui,Holly.Se você for fará um favor a todos nós,você é igual a ela,você é uma impura como ela.

-chega!

-olha como você se veste,como uma puta de beira de estrada.

-me deixe em paz!Um dia minha mãe vai voltar e você não poderá fazer nada.

-se um dia ela voltar eu juro que mato vocês duas!

-seu velho alcoólatra..eu..odeio..você.

Em um segundo dei dois passos para trás segurando meu rosto que ardia,podia sentir os dedos dele queimando meu rosto,como das outras vezes.

Minha irmã desviou o olhar,ela não conseguia me encarar.Ela também nunca contrariava Wes Daniels,Alisson sempre achou que devíamos gratidão por ele ter nos dado um lar.

Atravessei a varanda me jogando na chuva,como se aquilo me acalmasse um pouco.As lágrimas vertiam se misturando com as gotas pesadas da chuva,me fazendo apertar o passo.O que antes era terra fofa tinha se transformado em lama deixando minhas botas ensopadas.

-eu odeio você..

Eu odiava meu avô,odiava a forma que ele falava comigo,eu odiava cada pedaço,cada célula daquele ser desprezível.

"Eu odeio você Wes Daniels".

Limpei minhas lágrimas,o que não fazia diferença agora,eu iria sair dessa casa em algum momento,isso acabaria com minha partida ou com a morte dele.Andei firme atravessando a cerca que separava as terras do meu avô das terras Richardson,geralmente eu usava a fazenda como atalho.

Incrível como a chuva me acalmava,como um pouco de chuva deixava tudo mais tranquilo.

A casa dos Richardson ficava próxima,tive a ideia de cortar caminho para chegar no meu destino,as plantações.
Era dentro do milharal que eu me sentia livre,eu só queria me sentir livre.

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