lembranças

dezesseis

Voltar sempre seria a coisa mais difícil que eu faria na vida.O ar desse lugar era tão sombrio que por mais que tivesse momentos felizes aqui, os ruins e arrepiantes ainda se sobressaiam.Sempre seria reviver,nada de bom sairia dessas terras.

Respirei fundo colocando minha pequena mala no chão,protegendo o rosto do sol escaldante.Estava cansada,a viagem foi cansativa e minha ansiedade não me deixou dormir.Não consegui comer,dormir  por que tudo que eu pensava era como seria estar frente a frente com minha mãe.

Poderia ter evitado,ignorado ela,mas tudo que eu queria era encarar ela com o maior desprezo possível..Elizabeth nunca seria minha mãe.

Com passos pequenos fui até o meu destino,minha mãe estava a poucos metros tinha tanta coisa que queria falar para ela. Passei as últimas horas pensando no que dizer, como agir e nesse momento eu me sentia pequena.Indefesa,uma criança que foi castigada por fazer algo ruim.

"Se acalma Holly".

Na noite da segunda-feira Chris me ligou,dizendo que minha mãe solicitou a leitura na casa do meu avô,era mais discreto e a família estaria reunida.Ela se sentiria mais segura,sim, porque ela só se importa com ela mesma.
Precisou Alisson estar a beira da morte para que ela tivesse compaixão é viesse até ela.Talvez se eu estivesse morrendo ela também viria até mim.

"Não".

Não sei ao certo o que ele quis dizer com ela estaria mais segura,pouco importava.Marcamos a leitura do testamento para a três da tarde,já passava de quatro e meia,então eu estava bem atrasada.Meu vôo atrasou,um sinal de que eu não deveria estar aqui,não era meu lugar.

Me despedi apenas de Tâmara e parti.Ignorei as ligações de Howard,não queira o drama que ele me proporcionava até resolver essa situação.Ele só iria atrapalhar, tinha sido o bastante e eu precisava de um tempo dele.

Quem sabe alguns dias colocariam nossa relação em dia,seríamos os mesmos de antes.

Ou não.

Não me sentia culpada de deixá-lo a mercê de Grace Lawrence,se ele fizesse qualquer coisa seria consciente.
Dependia dele agora,se ele disse que me ama como disse,então estava na hora dele mostrar que se importava com os anos que passamos juntos.Falar que ama alguém e justificar com uma traição?Eu poderia ser idiota,mas não era burra.

"Talvez se eu o amasse me importasse mais..talvez"

Dar um tempo seria bom para ambos,ele se sentiria livre para decidir,e eu para resolver minha situação e me decidir se queria passar o resto da minha vida com ele.Eu sabia que um dia poderia acontecer dele ter alguém,eu também poderia passar por isso.Quando aceitei casar com ele anos antes eu não imaginei que estaria nessa situação,a verdade é que eu nunca achei que deveria ser amada depois de Kevin,nunca achei que merecia.Meu avô passou minha vida toda falando o quanto eu era desprezível e eu acreditei..aqui estou.

O carro que me trouxe até aqui saiu rápido pela estrada,levantando um pouco de poeira e isso deve ter chamado atenção das pessoas lá dentro porque alguém abriu a porta.Esfreguei os olhos,tossindo um pouco pela poeira encarando meu anfitrião.

Ele me encarou com cuidado,talvez tentando achar as palavras certas, apenas sorriu.

-Kevin..-falei enquanto ele andava até mim pegando minha bagagem.

-achávamos que não viria mais.-ele me abraçou beijando minha testa rapidamente.-fez boa viagem?

-achei que estaria na fazenda.Por que está aqui?

-não seria justo deixar você sozinha nessa situação.Como você está?

-Kevin,Elizabeth está lá dentro?-mordi o lábio-ela está esperando?Não está?