lembranças

sessenta e cinco

As horas seguintes foram as piores da minha vida. É aquela hora, o momento que fica passando todas as coisas na cabeça, momentos, brigas e arrependimentos sem que se possa voltar atrás.

Tudo que restou foi o arrependimento por não ser a filha que ela mereceu, por não aproveitar os momentos que ficamos juntas..tudo era em vão.

Tiraram tudo de mim..tudo.

A maior dor era saber que não a tive por perto por tempo o suficiente, que não fui grata e a maltratei sem entender que ela também tinha sofrido assim como eu. Sai daquela sala sem chão, como se um pedaço meu faltasse, arrancado á força de mim sem que eu pudesse fazer nada, tudo que restou foi dor, uma dor que me rasgava por dentro.

Eu tinha perdido a minha mãe.

A pessoa que fez tudo por mim, mesmo que isso custasse a sua felicidade por todos os anos que ficamos separadas.

Ryan estava com a noiva quando me aproximei. Não conseguia chorar, precisava ser forte por ele. Contar a ele foi uma das coisas mais difíceis que fiz na vida. É difícil falar para alguém esse tipo de coisa,eu fiz. Nunca achei que veria meu irmão assim, ele estava desesperado quando me abraçou. O grito de dor que ele soltou no meio daquele corredor ficou ecoando nos meus ouvidos por horas. Ele estava arrasado.

Ele chorou agarrado a mim por um tempo , foi doloroso ver toda a dor que Ryan sentia, falava frases desconexas. Não tinha palavras para consolar meu irmão e nem o seu desespero, qualquer coisa que eu falasse não teria sentido. Queria dizer que tudo ficaria bem, mas não iria ficar, nunca.

A dor me consumiu aos poucos quando tive que assinar alguns papeis, quando li o nome dela e o horário da morte naquele papel. A vida da minha mãe se resumia a um papel com a hora da morte e a causa que a levou desse mundo. Orei baixinho, pedindo que ela estivesse em um lugar melhor, imaginado se ela tinha sofrido. Sofrendo com a minha agonia, imaginando o que ela sentiu antes de partir.

Mas nada era mais deplorável do que a minha culpa, de saber que eu tinha sido uma péssima filha.

Eu não merecia a mãe que tive.

Tentei lembrar dos nosso bons momentos, alguma lembrança lá no meu intimo de quando era criança, mas tudo que lembrava era de Elizabeth voltando e se passando pela empregada da fazenda, dos olhos profundos e grandes assim como os da minha irmã. As decepção quando falei que não queria o seu amor.

Queria lembrar dela, saber que tivemos algum momento feliz, mas nada, absolutamente nada passava pela minha cabeça nesse momento.

Não sei como sai daquela sala sem demonstrar reação depois de chorar de forma compulsiva nos braços de Sebastian , como falei para o meu irmão e nem quanto tempo fiquei lá nos braços de Sebastian tentando aceitar que essa cidade tinha me tirado tudo de uma única vez. Perdi o amor, um filho e agora a minha mãe para esse lugar maldito.

Ryan estava sentado no chão com a cabeça apoiada nos meus joelhos, ele ainda chorava abraçado nas minhas pernas. Tentei pensar em algo para falar.

-Ryan, precisamos...- falei com a voz tremula.

-eu só quero a minha mãe- falou me encarando por alguns segundos.

-eu sei que quer ela- apertei sua mão nas minhas- mas ela..eu sinto muito.

- sentir não a trará de volta.

- sei que não..

- Ryan, vem- Clau se ajoelhou ao lado dele- precisamos sair daqui.

Ele não respondeu, levantou automaticamente e foi guiado por ela que me lançou um olhar de desculpas antes de sair pelo corredor.

Sebastian sentou-se ao meu lado assim que ficamos sozinhos. Ele não tinha falado muito até agora, ficava me observando com a expressão vazia, como se procurasse uma forma de dizer alguma coisa.