quarenta e cinco

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Fiquei o dia inteiro na varanda, olhando pela janela esperando uma noticia que não veio.

Não que fosse mudar de idéia, não iria a esse ponto, não depois de tudo que vi. Não depois de mais um fim desastroso, deveria saber que não existia lugar para mim aqui, muito menos na vida dele. Dez anos antes quando fui embora já sabia, agora eu tinha certeza de que sempre sobraria se tratando de prioridades. Foi assim com a minha mãe, com meu avô e com todos que cruzaram meu caminho.

Depois que Ryan me deixou em casa sequer derrubei uma lágrima, não tinha coragem de sentar e chorar por algo que nunca me pertenceu.
Apenas tentei apagar tudo da mente e depois de várias xícaras de chá finalmente alguém cruzava os portões.

Fiquei sentada imóvel olhando a tarde quente ir embora, vendo as pessoas que caminhavam calmamente pelas ruas indo e voltando de suas casas.
Meu coração estava se quebrando devagar, esfarelando lentamente e a dor me corroia, mas  estava com a mente limpa, sentindo a  angustia dos meus pensamentos que martelavam na cabeça.

Quando tâmara entrou no quarto foi um alivio, ela apenas me abraçou com força sem me perguntar nada. Me conhecia bem, sabia que tinha acontecido algo, mas não me falou nada.

-onde estava?- falei voltando a olhar para frente- fiquei preocupada com você.

-eu sei- suspirou- o que está acontecendo com você?

-nada.

- conheço essa sua carinha e poucas vezes vi ela.

- acabou- falei tentando parecer forte quando mais um pedaço meu se dissolvia por dentro.

-acabou?- ela repetiu em um tom calmo.

-eu não aguento mais essa situação, não suporto ser a segunda opção e aquelazinha sempre tendo prioridade nas vontades dele- falei com a voz engasgada, como se aquilo me deixasse aliviada de certa forma.

Até agora não tinha admitido para mim, não tinha admitido que doía não ser nada para ele.

-e como aconteceu?

Contei tudo a ela com detalhes, desde a nossa noite, o passeio com Sebastian e o encontro que tive com os dois, tanto na casa dele quanto na rua.
Contei o quanto me machucou as desconfianças dele, como me senti quando eme tratou como se fosse qualquer uma.
Em como foi difícil ver ela na casa dele.

Tâmara ficou em silêncio por algum tempo antes de falar alguma coisa.

-eu entendo e não sei porque não fez antes- ela segurou minha mão- sei tudo que passou por amar aquele homem, tudo que abriu mão para ficar aqui com ele. Amiga, sei que foi difícil voltar para esse lugar e acho que tem razão. Quando se tem uma relação é difícil quando um ama e o outro é amado, e você é o que ama.

-eu não entendo como ele deixou isso nos separar depois de tudo que  passamos para ficar juntos.  Eu passei pro cima de tudo, até do casamento dele com a minha irmã- funguei- não quero uma relação como essa na minha vida, nunca mais.

Tâmara me olhou por alguns segundos antes de levantar, dando batidinhas no meu ombro.

-e vai fazer o que? Ficar vendo a vida passar pela janela?- parou na minha frente- sei que meus métodos não funcionam para você, mas acho que deveria tentar se divertir. Que tal aquele bar na entrada  da cidade?Quem sabe uma bebida e musica caipira te faça esquecer.

-esquecer?- falei sarcástica.

-não me venha com essa Holly, pode parecer durona, sei que está chateada com o fim que isso tomou. Nenhuma mulher deve deixar a fase do luto, quer acabar como eu?

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