lembranças

cinquenta e um

Ver Elizabeth parada na minha frente com os olhos redondos arregalados, com a expressão surpresa e apertando as mãos me fez lembrar da minha irmã. Elas eram tão parecidas ,era como ver Alisson na minha frente, era assim que minha irmã seria se tivesse a chance de viver mais anos.
Elizabeth estava surpresa, não tanto quanto eu já que Sebastian me incentivou a essa conversa.

A verdade é que me sentia pronta para a situação, não para ela, mas para saber os motivos dela mesmo sabendo que no meu intimo jamais acreditaria.

Precisava tentar.

Eu ainda via a mulher que me abandonou, que me tratou como se eu não fosse nada e que me deixou sofrer abusos inimagináveis.
Sentei na cama e fiz um sinal para que ela sentasse na cadeira estofada próxima a janela, Elizabeth sentou cruzando as pernas e colocando as mãos tremulas nos joelhos.

- Sebastian é um bom garoto- falou suspirando encarando as mãos.

-é, ele é- falei ríspida.

Não era a forma que queria começar a conversa.

-é uma surpresa para mim filha.

- acho que passou da hora de termos uma conversa- falei a encarando, mas ela ainda olhava para as mãos- olhe para mim, é importante para mim.

-eu sei, é que eu..- falou me encarando.

-preciso saber o porque fez tudo isso- falei a interrompendo- porque nos deixou aqui.Pode ser que não tenha importância nenhuma para você, mas eu preciso saber para que..para seguir.

Minha voz saia esganiçada,era quase como se implorasse para ela falar algo. Eu precisava saber de tudo, saber do porque e só Elizabeth tinha as respostas.

- acredita em mim?- falou em um fio de voz.

-nesse momento não tenho nenhuma outra escolha, Elizabeth.

Ela sorriu se ajeitando na cadeira.

- minha mãe faleceu muitos anos atrás - falou com a voz tremula- na época ela era tudo para o meu pai, ela era a vida dele. Ele virou um homem ruim, como se a vida tivesse levado a pior rasteira da vida- mordeu o lábio- nessa época os abusos começaram, ele sempre dizia que me odiava, me culpava pela morte dela..eu não sabia o que fazer.

-sinto muito por isso.

- ele sempre dizia que a culpa era minha, era como justificava todas as vezes que dormia na minha cama. Era o inferno para mim foi assim que conheci o inferno Holly, o homem que devia me amar..o meu pai.

- eu sei exatamente o que passou.

- depois de anos de violências -suspirou-Era tudo novo para mim e resolvi seguir um homem bom que me aceitou, não imagina como seu avô agiu como se eu fosse uma traidora. Disse que  não voltasse mais- falou limpando as lagrimas que escorriam pelas bochechas- não imagina como foi sair desse lugar, nem como foi ter que voltar quando o meu primeiro marido me abandonou com uma filha nos braços. Eu precisava dar um lar para ela, era tudo que eu tinha.

-o que fez para ele aceitar?- falei sabendo a resposta.

-ele me obrigou a aceitar os abusos, assim teríamos um teto. Depois de um tempo veio você, era tão linda e doce. Eu juro Holly que amei você com todo meu coração, mesmo sabendo que era filha dele, mesmo sabendo que você tinha nascido da minha dor.

Fechei os olhos segurando minhas lagrimas. Sabia que ela tinha sofrido, mas era a historia dela, a parte da historia que eu não conhecia. Fiquei em silencio esperando que terminasse.

Naquele momento eu sentia a mesma dor dela, mesmo que não houvesse laços ou amor da minha parte.

-ele sabia que era seu pai, nenhum homem me tocou além dele desde que voltei para casa. Você era idêntica a minha mãe e isso o deixou obcecado. Como se ela tivesse voltado para ele- fez uma pausa- naquela época sabia que era um perigo e tentei sair dessa cidade. Não importava se teríamos comida ou um lar, só precisava salvar você dele. Em uma noite sai da fazenda e sequer consegui chegar até a cidade, seu avô tinha amigos na cidade e de uma forma que eu não sei ele conseguiu a guarda de vocês. Eu sabia que ele faria de tudo..