lembranças

sessenta e oito

Dois dias depois

A sensação de liberdade era indescritível . Depois de tudo que passei finalmente era o fim.

"O fim"- repetia para mim mesma enquanto andava.

Howard como sempre reclamava do calor e foi tomar um banho enquanto Tâmara saiu para resolver algumas coisas.
Nesse tempo sozinha dei uma volta pela fazenda, olhando cada detalhe, cada pedaço desse lugar que tanto odiei, essas terras que me amaldiçoaram e que agora faziam parte do meu recomeço. Agora eu sabia que não me importava com esse lugar, não que não amasse de certa forma pelas lembranças que tive, quando não sabia quem eu era. Sequer sabia o que esperar, agora sabia que meu lar era onde meu coração estava, e nesse momento ele estava com Sebatian.

Parecia até agradável pensar em ficar se ele ficasse.

Nunca teria palavras ou gestos o suficiente para agradecer o que Sebastian tinha feito por mim, nada seria maior do que sentir o que eu sentia por ele. É aquela coisa dele chegar devagar, sempre presente..hoje ele era uma necessidade para mim.

Resolvi andar pelas plantações, nem que isso me fizesse passar pela propriedade vizinha. Por diversas vezes vim aqui para chorar as minhas dores. Agora eu só queria andar por ai como se me afirmasse.

Eu tinha vencido.

Meus amigos e família estavam bem,eu ainda tinha perdido muito,  mas sobrevivi.

Atravessei a plantação sem olhar para a casa, sem sequer olhar para o celeiro onde tudo começou. Nada importava agora.

Kristin a essa altura  foi pega, tudo voltaria a normalidade, era uma nova pessoa.

Entrei na plantação de milho andando com calma, minha cabeça era bombardeada pelas lembranças, por tudo que vivi nesse lugar.
Fechei os olhos, o sol estava forte embora o chão estivesse úmido , me permiti chorar.

Precisava mesmo chorar.

Finalmente era livre, não existia nenhuma culpa nas minhas costas.
Meu coração batia forte, o tempo estava abafado embora não estivesse calor. Prendi os cabelos passando a mão pelo pescoço encharcado de suor.

Ouvi passos atrás de mim, o que me deixou paralisada.

- Holly?!- a voz dele saiu macia atrás das minhas costas, arrepiando minha coluna.

Não me virei, não queria olhar para ele. Não sabia o que dizer nesse momento.

- vi você passando pelo celeiro- continuou.

- não foi minha intenção invadir sua propriedade.- falei fria.

-estranho como sempre voltamos ao mesmo ponto. Como você está?

-como acha que estou?- falei me virando para ele, o olhando nos olhos.

Queria falar  tudo que estava entalado nesse tempo todo, mas tudo que  queria era acabar com isso logo.
Kevin não tinha importância nenhuma para mim. Era como se ele fosse outra pessoa.

- eu sinto muito por tudo- falou andando na minha direção- sinto por tudo que causei. Eu não queria falar, ficar contra você. Fui enganado e me odeio por..

- não preciso que sinta nada, só quero que isso acabe logo.- falei o interrompendo.

- devia ter acreditado em você, estava cego.

- não tem importância . Agora estou bem, estou cansada de tudo- cruzei os braços- não preciso que sinta nada quando tudo que pedi foi que acreditasse em mim.

Ele me olhava com decepção, talvez pelas escolhas dele?

- ela é a mãe do meu filho, como não ficar ao lado dela?- passou as mãos nos cabelos- como acreditar que ela faria algo assim? Eu não podia acreditar que a mulher que gerou um filho meu seria tão cruel.