— Dulce Maria —
Tem momentos que eu simplesmente não sei o que fazer.
Tem momentos como esse, que quando abro meus olhos depois de uma noite inquieta de sono, eu simplesmente não sei o que fazer. Sentir-se perdida na própria mente, no próprio corpo, é uma batalha que venho travando há anos; às vezes, é difícil simplesmente abrir os olhos e não desejar estar morta.
Abri meus olhos. A claridade doía, eu deveria ter fechado a cortina. Me levantei, o chão gelado encostando em meus pés quentes. Olhei para a porta quando ela se abriu, meu pai entrou.
Eu não o odiava, eu só tinha uma tristeza imensa pelo que ele se tornou.
Alguém tão frio, insensível. Mesquinho, ridículo.
Eu não o odeio, mas eu não consigo mais encará-lo como um pai de verdade.
— Sua mãe me contou o que você fez e como falou com ela. Acho isso...
— Ela não é minha mãe. — Minha voz saiu rouca, carregada de dor e raiva. Ele permaneceu em silêncio, os olhos frios e inexpressivos me encarando. — Minha mãe morreu. Eu a vi morrer. Aquela mulher não é nada para mim.
— Certo, Dulce, claro, continue assim. Você está sendo muito gentil.
— Não quero ser gentil com alguém que não é gentil comigo.
— Talvez seja por isso que as pessoas não são gentis com você.
Sua resposta foi rápida e cortante, me pegando de surpresa. Fiquei em silêncio, sentindo o peso da dor no meu corpo, a garganta queimando de frustração.
— Talvez eu tivesse sido mais gentil com ela se você não fosse assim.
— Assim? — Ele se irritou. — Dei tudo o que você precisava e você... Você se tornou essa... essa pessoa amarga que fala da dor como se já tivesse vivido mil vidas. Você ainda é uma criança, Dulce. Não entende metade da dor que o mundo vai te fazer sentir.
Soltei uma risada amarga, o peito doendo com a verdade nua e crua. Meus olhos queimavam com lágrimas contidas.
— Acha que eu não sei nada sobre dor porque você nunca esteve presente na minha vida, Já tentou passar mais de cinco minutos comigo sem ser... desse jeito?
Ele ficou em silêncio, encarando o chão com uma expressão de culpa e derrota. Desisti, pensando que a conversa já tinha acabado. Me levantei, mas quando estava prestes a entrar no banheiro, sua voz voltou a ecoar pelo cômodo. Dessa vez mais alta, mais brava.
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Me Apaixonando Por Você
Teen FictionEra uma tarde quente demais quando o carro saiu. Era uma noite muito fria quando Dulce descobriu que sua vida iria mudar de cabeça para baixo. Com o luto não vem apenas a tristeza, vem a raiva, vem a negação, vem a dor profunda. O silêncio, o silên...