Era uma tarde quente demais quando o carro saiu. Era uma noite muito fria quando Dulce descobriu que sua vida iria mudar de cabeça para baixo.
Com o luto não vem apenas a tristeza, vem a raiva, vem a negação, vem a dor profunda. O silêncio, o silên...
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- Dulce Maria-
Eu não sou boa em ajudar as pessoas. Isso deveria estar escrito na minha testa, visível para todos. Porque, por mais que eu tente, nunca sou o suficiente.
Mas, se havia algo que eu com certeza não podia fazer agora, era simplesmente virar as costas e ignorar Mateus.
Mateus estava parado no meio da sala, com os punhos fechados e a cabeça abaixada, chorando em silêncio. Seus ombros tremiam enquanto ele tentava controlar o som dos soluços.
— Mister Pipo.
Mateus levantou os olhos em minha direção, confuso, seu rosto franzido pela dúvida.
— O quê?
— Uma vez você me perguntou qual foi o nome mais estúpido que eu já dei para um animal. Mister Pipo foi o mais estúpido, era um papagaio. — Eu me mexi desconfortável, meus pés gelando no piso de madeira.
— Vá embora. — Ele nem tentou forçar a voz. Saiu derrotado, rouco e triste.
— Sabe, eu adoraria ir embora. Mas não estou a fim no momento.
— Você viu?
— Vi? O que eu deveria ter visto? — Ele voltou a me encarar, com menos lágrimas agora, mas os olhos vermelhos e as bochechas marcadas. — Você tá parecendo uma merda agora.
Mateus deu um sorriso triste, suspirou exausto e esfregou as mãos pelo rosto.
— Eu sei.
— Quer companhia? — Minha pergunta surpreendeu até mim.
— O quê?
— Não ficar sozinho às vezes é bom. Ajuda a não pensar em besteira e ficar ainda pior.
Ele ficou parado, e eu também. Mateus me olhava como se eu estivesse oferecendo uma armadilha, claramente pensando se fugiria ou aceitaria a proposta.
— Tá.
E, no final, ele aceitou.
— Chocolate quente sempre ajuda.
Fui para a cozinha e coloquei as coisas na pia. Quando me virei, Mateus estava encostado na parede, com os braços cruzados, fungando. As lágrimas agora eram apenas marcas brilhantes nas bochechas pálidas.
— Você sabe fazer?
— Saber não significa que é bom.
— Certo! Você tem um ponto. Eu acho que fazer chocolate quente envolve muito esforço e dedicação, sempre algo para refazer e nunca alcançar a perfeição. Entende?
— Não.
— Certo, senhor. Você continuará sem entender. Não tenho paciência para explicar.