Capítulo 43

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And then I go and spoil it all
By saying something stupid
Like: I love you


•°Mateus•°

Parei minha mão no ar, a centímetros da porta de madeira do quarto de Dulce.

Parei, e pensei.

Será que é uma boa ideia? E se ela quiser ficar sozinha? E se ela não quiser me ver? E se ela jogar o sapato na minha cara?

Desisti desses pensamentos.

Eu não tenho medo de um sapato.

Bati na porta. Não tive resposta. Bati de novo, dessa vez Dulce suspirou.

— Entra, Mateus.

Como ela poderia saber que era eu?

Abri a porta. Dulce estava sentada no chão no meio do quarto, de costas para mim, ela encarava a janela aberta, do lado de fora um passarinho montava um ninho no galho alto da árvore.

Apreensivo, me sentei ao lado dela. Dulce suspirou como se não tivesse forças nem para respirar. Encostei meu ombro no dela, ela tremeu.

Eu queria jogar meu sapato no pai dela.

— Foi ruim. — Ela sussurou, e a voz saiu quebrada. — Foi a pior coisa que ele já poderia ter feito.

— Bem, deve ser horrível então...

— Dylan é meu irmão.

Fiquei em silêncio.

Me virei para ela, Dulce me encarou de volta com os olhos vermelhos e as bochechas marcadas de lágrimas. Só percebi que minha mão estava se movendo quando toquei a bochecha dela, ela tremeu novamente. Mas não se afastou.

— Sinto muito. — Acariciei a bochecha dela com meu polegar. — Sinto muito por seu pai ser um lixo, sinto muito por você não ter uma família feliz, sinto muito se você acha que merece se machucar, sinto muito se você não gosta de si mesma e tenta acabar com isso de alguma forma. Sinto muito por tudo que você passa.

Os olhos azuis estavam arregalados enquanto me encarava, os lábios dela tremeram, os olhos se encheram com lágrimas novas. Ela soltou outro suspiro trêmulo, e eu a abracei com toda a força que eu tinha.

Dulce me puxou de volta para ela, como se precisasse se segurar em mim para não ser levada pelas águas geladas. E eu a segurei contra mim, porque eu não queria que as águas a levasse para longe.

— Sinto muito por tudo de ruim que está vindo de uma vez novamente, mas eu preciso que você fique forte, eu preciso que você não tente aquilo outra vez. Eu não aguentaria te ver no hospital novamente, não quero mais, não aguentaria.

Então ela estava tremendo contra mim, chorando tanto que eu fiquei assustado, e meus olhos também estavam molhados.

A noite em que minha Dulce tentou tirar a própria vida, foi um pesadelo.

Era tarde da noite, Lorena gritou, todos corremos pro quarto dela, Dulce estava contra a cama, e tinha sangue, tanto sangue. Foi a primeira vez que vi o pai dela ser útil pra alguma coisa. Ele pegou a garota, o braço dela caiu, sangue pingou no chão e eu pensei que iria desmaiar igual ela.

Fomos pro hospital. Só consegui entrar no quarto um dia depois. Dulce já estava acordada, ela encarava os pulsos enfaixados.

Eu estava com raiva. Raiva dela por ter tentado isso contra a própria vida, raiva de mim por não ter notado antes, raiva do pai dela por não ter sido amável. Eu sentia raiva e raiva e raiva.

Mas então Dulce disse, com a voz fraca e apavorada:

— Me desculpe.

E eu já estava ajoelhado na cama dela, com minha testa apoiada nas mãos dela enquanto chorava igual uma criancinha que teve um brinquedo favorito quebrado.

As única coisas que eu conseguia lembrar de falar, foi: não faça isso, por favor não faça isso, fiquei apavorado, fiquei pensando que nunca mais iria te ver. Sabe o quanto foi assustador? Por favor, por favor não tente isso de novo, eu imploro, eu imploro de joelhos. Não faça isso de novo. Eu te amo, não faça isso denovo, por favor.

Dulce me encarou apavorada, olhei para os olhos grandes e azuis dela. Ficamos em silêncio.

Passei a noite naquela cadeira dura de hospital, apenas para ter certeza de que ela iria continuar respirando.

E agora aqui estava ela, agarrada contra mim, e eu tinha novamente o pavor de um dia a perder novamente.

— Meu pai traiu minha mãe quando eu nasci. — Ela riu. — Consegue sequer pensar nisso? Minha mãe não merecia isso, a mãe de Dylan não merecia isso. Ele sequer tentou ajudá-la. Ele abandonou as duas a própria sorte. Ele é um lixo.

Ela parecia estar enojada enquanto falava. Segurei o rosto dela entre minhas mãos e apoiei minha testa na dela. Dulce ergueu aqueles lindos olhos azuis, que me lembravam o oceano, o céu, as estrelas.

— Eu sei que é horrível agora. Não consigo nem pensar em como você deve estar sobrecarregada e confusa. — Ela suspirou, e a respiração bateu contra meus lábios, tive que me controlar. — Mas eu estou com você, eu sempre vou estar com você. Eu vou ser o seu barco salva vida, eu vou te manter no chão, eu vou te abraçar e segurar quando você pensar em se afastar. Eu vou consertar os quebrados se um dia você precisar. Porque eu nunca irei pensar em sequer te abandonar. Estamos juntos nisso, hoje e sempre.

Ficamos em silêncio, Dulce parecia sem palavras. Eu estava envergonhado.

— Não copiou isso do Google, copiou? — Ela brincou, e eu ri.

— Talvez eu tenha copiado, você se importa? — Forcei minha voz pra sair sarcástica e engracada: — Artigos para falar para uma pessoa que você ama.

Dulce ficou calada, e eu só percebi as palavras quando elas já tinham saída.

Não tinha mais volta, não tinha como retirar isso. Meu coração acelerou, e eu senti o coração dela acelerar também.

Comecei a afastar minhas mãos, mas Dulce as segurou no lugar. Os olhos dela pareciam uma vastidão do universo. Era tão bonito que eu não conseguia parar de olhar.

Acho que é isso afinal. Eu a amo, eu nunca vou conseguir evitar isso. Eu a quero para mim, eu quero a beijar, eu quero a abraçar. Eu amo essa garota mais do que amo minha vida. E se ela está comigo, eu estou feliz demais em apenas respirar.

É ela. É apenas ela.

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