Era uma tarde quente demais quando o carro saiu. Era uma noite muito fria quando Dulce descobriu que sua vida iria mudar de cabeça para baixo.
Com o luto não vem apenas a tristeza, vem a raiva, vem a negação, vem a dor profunda. O silêncio, o silên...
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°•Dulce Maria•°
— Não posso acreditar que você está aqui. — Empurei o ombro de Lorena, ela riu.
— Surpresa! — Levantou as mãos como se eu tivesse acabado de chegar.
— Sua estúpida, você quase me deu um ataque cardíaco.
Fui para o banheiro, Lorena me seguiu, enquanto se apoiava no batente da porta, os braços cruzados.
— Poderia ter me avisado, eu teria feito uma festinha, bem, não teria feito, mas teria ido te esperar no aeroporto.
— Então não seria mais surpresa. — Olhei para ela enquanto prendia meu cabelo.
— Por que veio? Não que eu esteja reclamando, gosto da sua presença, mas é uma viagem e tanto.
Joguei minha blusa no chão, ligando a água gelada do chuveiro.
Lorena era minha prima, era um ano mais velha do que eu, mas eu juro, Lorena parecia uma criança elétrica de cinco anos de idade, com a paciência de uma senhora de setenta anos ranzinza tendo que esperar na fila do banco para pagar as contas.
Com ela era ou muito alegre, ou muito irritada. Não havia meio termo, não parecia haver quase nada. Ou ela te amava, ou te odiava e fazia de tudo para te tirar do sério.
Geralmente comigo era mais a segunda opção. Ela parecia adorar me atormentar.
Fechei o box do banheiro e deixei a água gelada cair sobre meu corpo, levando o estresse e o calor embora.
— Londres estava muito chato. — Respondeu a garota. — Já te disse que não gosto do clima de lá.
— Troque de lugar comigo. — Esfreguei meu rosto. — Adoraria viver no clima cinzento e frio de Londres, ah, que saudades.
— Sabe que se eu pudesse adoraria trocar. — Sua voz ficou mais abafada, o sotaque britânico aparecendo com força no final da frase. — Odeio frio.
Me enrolei na toalha saindo do banheiro, Lorena estava deitada em minha cama, os cabelos vermelhos caindo ao lado da cabeça em um emaranhado de vermelho, contratando contra meu edredom azul.
— Vou ir em uma festa hoje. Quer ir?
— Uhm... Horário?
Forcei minha mente a trabalhar, tentando lembrar o que estava escrito no convite.
