Capítulo 58

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"

Help, I have done it again
I have been here many times before
Hurt myself again today
And the worst part is there's no one else to blame"


Mateus

Era como estar perdido em um mar de escuridão, afundando cada vez mais, sem encontrar um raio de luz sequer. Meus olhos vasculhavam ao redor, na tentativa desesperada de encontrar algo que me guiasse, mas tudo que eu encontrava era o vazio esmagador. Meus dedos, trêmulos, tentavam agarrar qualquer ideia, qualquer pensamento, mas apenas o nada me respondia.

E era exatamente assim que eu me sentia, sentado na beira da cama, observando a garota que eu amava. Mas, naquele momento, tudo o que eu via era a escuridão. Não havia saída, não havia uma forma de salvá-la, e essa impotência me destruía por dentro. Ela estava se afundando, caindo em um abismo sem fim, e eu não sabia como alcançá-la, como puxá-la de volta.

Eu sabia que aquilo era insuportável para ela, e saber que não podia fazer nada me deixava apavorado. Um medo sufocante, implacável. Me levantei da cama com cuidado, tentando não fazer barulho. Fui para o meu quarto, mas meu celular vibrando na cama com mensagens parecia tão insignificante que eu sequer olhei.

O quarto estava envolto em um silêncio tão absoluto que era quase opressor. Meus pensamentos giravam em círculos, meu corpo estava leve demais, tonto, quase à beira de desmoronar. Sentei no chão com as costas apoiadas na cama, encarando a parede branca e vazia à minha frente. O silêncio era tão pesado que parecia engolir tudo ao meu redor, me sufocando pouco a pouco.

— Vai ser sempre assim — uma voz suave e familiar sussurrou. A voz dele.

Fechei os olhos com força, tentando ignorar. Era a voz do meu pai. Aquela voz que eu nunca mais deveria ouvir.

— Sempre sozinho. — O tom era implacável, cruel.

Minhas pernas se encolheram involuntariamente, e escondi o rosto entre as mãos. Meus dedos tremiam enquanto eu puxava meu próprio cabelo com força, tentando me ancorar na realidade, tentando silenciar a alucinação. Ele não está aqui. Ele não pode estar aqui. Isso é apenas uma brincadeira cruel da minha mente.

Ou será que não?

Estou enlouquecendo?

— Você sabe que isso só vai piorar — a voz continuou, afiada como uma lâmina, cortando fundo. E doeu. Porque, no fundo, eu sabia que ele estava certo.

— Eu sei — murmurei, sem forças.

— Há uma forma de fazer isso parar.

Engoli em seco, e minha garganta ardeu como se eu estivesse engolindo cacos de vidro. Uma dor pulsante atravessou minha cabeça, me deixando tonto. A ânsia de vômito veio junto, e por um momento, eu pensei que ia desmoronar. Ultimamente, isso era comum. Chorar era comum, e eu odiava isso. Odiava cada lágrima, odiava parecer frágil. Mas, ultimamente, era impossível controlar.

— Se eu morrer, Dulce nunca vai superar — sussurrei, com a voz despedaçada.

— Não, não vai — ele concordou, impiedoso.

— Então... eu não posso fazer isso.

— Você ainda acha que tem escolha?

Aquilo me pegou de surpresa, como um golpe direto no estômago. Meus olhos arderam, e eu quis gritar. Quis quebrar aquele silêncio sufocante de qualquer forma. Quis socar as paredes até meus ossos quebrarem, até o sangue manchar tudo. Quis correr para longe, fugir de tudo — da dor, da responsabilidade, do peso esmagador de ser eu mesmo. Quis fechar os olhos e acordar sendo outra pessoa, alguém sem esses problemas, sem essas cicatrizes.

Mas eu era apenas eu. Sempre seria eu. E Dulce... Dulce era a metade da minha alma, a parte que eu nunca poderia abandonar. Nem nessa vida, nem nas próximas. Ela era meu porto seguro, a única luz nesse caos.

Eu odiava o amor. Eu odiava minha vida. Eu odiava tudo... menos ela. Eu nunca poderia odiar ela.

Um som agudo e persistente cortou meus pensamentos, um apito que começou do nada e foi se intensificando, até se tornar insuportável. Minhas mãos começaram a formigar, e a dor na cabeça aumentou. Tentei me levantar, mas uma onda de fraqueza e tontura me jogou de volta no chão. Era demais para suportar. Tudo estava se desfazendo.

Se for agora, que seja, pensei, enquanto a escuridão me envolvia, e um grito mudo se formava na minha garganta.

Dulce Maria


Acordei sem saber quanto tempo havia passado. Tudo estava escuro, e o vazio ao meu redor parecia ainda maior sem a presença de Mateus. Eu não sabia onde ele estava, e um frio percorreu minha espinha, mas não era um frio do ambiente. Era um frio que vinha de dentro, me consumindo aos poucos.

Desci as escadas com cuidado, sentindo minhas pernas fracas, e fui para a cozinha. Precisava de algo para comer, qualquer coisa que me fizesse sentir um pouco mais normal.

— Sinceramente... — ouvi a voz de Lorena após algum tempo. — Não aguento mais.

Mordi um pedaço do pão com manteiga que havia preparado e me virei para encarar minha prima. Ela estava desleixada, os cabelos ondulados escapando de um coque bagunçado, e seus olhos pareciam distantes.

— Eu deveria entender isso? — perguntei, genuinamente confusa.

— Lembra da série que eu estava assistindo? — assentiu com a cabeça. — Meu personagem preferido morreu.

— Ele volta.

— Espera... sério?

— Sim, mas ele volta malvado.

— Obrigada, Dulce. Você acabou de arruinar minha vontade de assistir.

— Foi mal?

— Vou deixar passar porque você não está bem.

Sorri de forma torta.

— Obrigada — respondi com sarcasmo.

Lorena piscou para mim, com aquele ar de quem estava se divertindo. Meu Deus, como eu odiava ela às vezes.

De repente, ouvimos Susana descendo as escadas, gritando. Ela parou na porta da cozinha, com os olhos arregalados e o rosto desesperado.

— Seu pai, onde está seu pai, Dulce?

Deixei o pão de lado e balancei a cabeça, confusa.

— Eu não sei... o que aconteceu?

— Mateus — ela disse, com o rosto em pânico, e saiu correndo.

Meu coração disparou no peito. Olhei para Lorena, que me encarava com preocupação, mas não esperei. Corri escada acima, com um único pensamento na mente:

Por favor, ele não. Por favor, ele não. Por favor, ele não.

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