"This world can hurt you
It cuts you deep and leaves a scar
Things fall apart, but nothing breaks like a heart
And nothing breaks like a heart."Mateus
Eu me virava de um lado para o outro na cama, os olhos pesados de cansaço, mas o sono parecia uma miragem distante, inalcançável. O vazio no peito fazia a noite parecer interminável.
Levantei-me lentamente, sentindo o peso das horas mal dormidas, e olhei ao redor do quarto escuro. O ar parecia denso, e cada respiração era um esforço. O frio do chão sob meus pés era um alívio, quase um choque que me lembrava de que eu ainda estava ali, ainda preso naquele instante. Com passos hesitantes, caminhei até o quarto de Dulce. A casa estava mergulhada em um silêncio que parecia ameaçador, como se escondesse todos os medos e dores que não ousávamos encarar.
Bati na porta, o som ecoando de maneira assustadora no silêncio absoluto. Esperei, mas a ausência de resposta fez meu coração acelerar. A preocupação me tomou, um nó apertado no estômago, então eu girei a maçaneta e abri a porta.
Dulce estava ali, aos pés da cama, seus pés enroscados no tapete felpudo como se ela estivesse tentando se ancorar em alguma realidade que já não existia. O olhar vazio e distante a fazia parecer uma estátua, quebrada, congelada no tempo. Seus cabelos, normalmente tão cuidados, estavam presos em um coque apertado, mas fios rebeldes escapavam, como se refletissem o caos interno que ela tentava controlar. Seu rosto, sempre tão expressivo, agora estava marcado pelas lágrimas, com os olhos inchados e vermelhos, e os lábios, outrora macios, agora estavam machucados e rachados. Ela tremia, mas não era apenas de frio; era um tremor que vinha de dentro, da alma. A janela aberta deixava o quarto quase congelante, mas o frio maior vinha da distância que eu sentia entre nós.
— Dul? — chamei, minha voz carregando uma mistura de temor e esperança.
Ela não se mexeu. Nem sequer um sinal de que havia me ouvido. O desespero começou a se arrastar pelas bordas da minha mente, uma sombra que eu não conseguia afastar. Olhei para os meus pés, buscando algum tipo de orientação, mas tudo o que encontrei foi a sensação crescente de impotência.
Peguei uma coberta da cama e me sentei no chão ao lado dela. O frio do piso me atingiu de imediato, um lembrete físico do que estava acontecendo. Suspirei, um som pequeno em meio ao silêncio que nos envolvia, e com um gesto hesitante, joguei a coberta sobre os ombros dela e os meus. Dulce apenas levantou a mão, um movimento quase imperceptível, para segurar a ponta da coberta; seus olhos azuis, antes tão vibrantes, agora pareciam opacos, como um céu encoberto por uma tempestade iminente, enquanto ela encarava a janela aberta, perdida em um mundo onde eu não conseguia alcançá-la.
Eu puxei os pés para cima, tentando me encolher, não apenas contra o frio, mas contra a sensação de fracasso iminente.
— Vou ser sincero — comecei, minha voz tremendo, ressoando como um grito abafado no vazio ao nosso redor —, não sei mais o que fazer.
Os olhos de Dulce baixaram para o chão, e por um breve momento, eu senti que ela estava ali comigo, compartilhando do mesmo desespero. Eles pareciam pequenos, encolhidos sob o peso de tudo que ela carregava. Seus lábios se abriram, e por um instante, uma centelha de esperança brilhou dentro de mim. Talvez ela estivesse pronta para falar, para compartilhar sua dor. Mas a única coisa que saiu foi uma respiração fraca, quase um suspiro. E então, os olhos dela voltaram para a janela, para aquela escuridão que parecia oferecer mais conforto do que qualquer coisa que eu pudesse dar.
Eu mordi meu lábio, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam cair, e deixei meu corpo relaxar contra o pé da cama. Meu ombro tocava o dela, um toque suave, quase insignificante, mas eu senti o leve tremor que percorreu seu corpo quando ela soltou um soluço, abafado e contido, como se estivesse tentando, com todas as forças, não se despedaçar por completo.
— É tanta coisa — ela disse, e a fragilidade em sua voz fez meu coração se partir mais uma vez.
A voz dela saiu rouca, quase quebrada, como se tivesse sido esquecida em algum lugar do passado. E naquele instante, eu senti uma dor profunda, um pesar que parecia cortar fundo, muito além da superfície.
— Eu sei.
E eu sabia mesmo. Cada pedaço da dor dela era meu também. Era como assistir a um edifício desmoronar, tijolo por tijolo, até que não restasse nada além de destroços. A morte da mãe, que ela nunca conseguiria superar; a descoberta de um irmão que ela mal teve tempo de conhecer; a traição do pai, que jogou toda a culpa sobre seus ombros frágeis; os pesadelos incessantes que roubavam o pouco de paz que ela tinha; e eu... Eu sabia que também era parte do fardo que ela carregava.
— Eu sei — continuei, minha voz quase se apagando —, mas você tem a mim.
— Tenho? — ela questionou, e a dúvida em sua voz me atingiu como um golpe.
Pela primeira vez, os olhos dela encontraram os meus. O azul estava tempestuoso, um reflexo da batalha interna que ela travava entre a tristeza avassaladora e o desespero que ameaçava engoli-la inteira. Senti como se o ar tivesse sido arrancado dos meus pulmões, como se a dor dela fosse a minha.
— Enquanto eu tiver a chance, nunca vou te abandonar. Eu sempre estarei aqui para juntar os pedaços e te reconstruir.
A mão dela, trêmula, segurava a ponta da coberta como se fosse sua única âncora.
— Às vezes, eu queria ser inteira, sem ter que juntar os cacos, sem ter que usar supercola para colar tudo no lugar — ela confessou, e cada palavra foi como um punhal cravado no meu peito.
Eu desviei o olhar, incapaz de suportar a dor que suas palavras traziam. Parecia que uma faca estava sendo cravada em mim, girando lentamente, para garantir que o sofrimento fosse completo e inescapável.
— Tenho medo de não conseguir te tirar do buraco em que você está se jogando — admiti, minha voz reduzida a um sussurro quase inaudível.
Apoiei meu queixo sobre os joelhos e encarei a janela, onde o mundo lá fora parecia tão distante e irreal. Por alguns minutos, nenhum de nós disse nada, e o silêncio que se seguiu era sufocante, esmagador, como se o ar ao nosso redor estivesse pesado demais para ser respirado. Então ela se mexeu, lentamente, como se cada movimento exigisse um esforço monumental. Primeiro, a mão dela, gelada como um cubo de gelo, se entrelaçou com a minha, e eu tive que me controlar para não tremer com o choque de quão fria ela estava. Em seguida, ela se inclinou em minha direção, apoiando a testa no meu ombro, buscando um conforto que eu temia não conseguir oferecer.
Prendi a respiração, com medo de que qualquer som a afastasse novamente.
— Eu nunca vou me jogar onde você não possa me alcançar — ela disse, e suas palavras foram um alívio tão grande que senti as lágrimas finalmente escaparem dos meus olhos.
Eu me virei e a envolvi com meus braços, puxando-a para mais perto, como se pudesse juntar nossos corpos em um só, como se isso pudesse afastar toda a dor. Dulce soluçou, e o som era cortante, como se cada soluço rasgasse sua garganta. As unhas dela se afundaram na minha pele sob a blusa, e ela enterrou o rosto no meu peito. Levantei minhas pernas para que ela pudesse se aninhar mais confortavelmente contra mim, e nos agarramos um ao outro, desesperados por um conforto que só encontrávamos na presença do outro. Beijei seus cabelos, inalando o cheiro doce e reconfortante que sempre me fazia sentir em casa.
— Tudo bem — eu sussurrava, repetindo como um mantra —, tudo bem, Dul, vai ficar tudo bem.
Eu não acreditava totalmente naquelas palavras, e acho que ela também não, mas naquele momento, estávamos presos um ao outro, nossas almas entrelaçadas por uma corrente invisível, e eu sabia que nunca a deixaria escapar para longe de mim.
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Me Apaixonando Por Você
Ficção AdolescenteEra uma tarde quente demais quando o carro saiu. Era uma noite muito fria quando Dulce descobriu que sua vida iria mudar de cabeça para baixo. Com o luto não vem apenas a tristeza, vem a raiva, vem a negação, vem a dor profunda. O silêncio, o silên...