Elisabete

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     Eu estava nervosa e não consegui me conter. Apenas algumas horas me separavam do momento mais importante da minha vida, até então! Meu sonho de menina se tornando real. Eu ia me casar! Meu coração batia tão forte e eu não conseguia parar de tremer ao tentar enfiar a chave na fechadura! Eu tinha acabado de sair da faculdade. Era noite de sexta-feira! Minhas amigas até me chamaram para curtir minha última noite de solteira. Mas eu só conseguia pensar no meu noivo. Tiago era meu primeiro namorado. Nos conhecemos na escola, aos doze anos. Começamos a namorar aos dezesseis. Agora estávamos com dezenove. Novos de mais? Talvez! Mas eu queria me casar virgem. Por tanto não ia enrolar até ficar velha. Eu só me importava com a opinião dos meus pais. Eles me apoiavam. Era o bastante!

     Entrei na casa e acendi a luz da sala. Sim, eu tinha a chave. Aquela era a casa onde eu ia morar a partir do dia seguinte. Então, peguei a cópia. Olhei as paredes, onde tinha uma foto dele. Era um rapaz moreno de olhos castanhos. Cabelo curto. Um rosto comum. Eu nunca me importei com beleza. Preferia caráter! Também havia uma foto minha. Meus olhos verdes, cabelo ruivo e rosto cheio. Ficávamos bem juntos. Era o que todos diziam.

      Imaginei que ele ainda não estava ali. Já que a luz estava apagada quando entrei. Porém, havia algo estranho... Tênis jogado na sala. Também havia uma camisa sobre o sofá. Comecei a pensar que ele chegou e foi dormir. Nosso casamento seria de manhã, em um sítio. Logo depois a festa continuaria o dia inteiro. A noite sairíamos em lua de mel. Eu devia fazer como ele e ir dormir. Já que eu estava ali, iria dar um beijo de boa noite e depois partir. Liguei a lanterna do celular. Para não ter que acender outras luzes da casa. Quando cheguei no corredor, eu vi a luz por debaixo da porta do quarto principal. Onde seria nosso cantinho particular. Sorri imaginando que ele estava acordado e a gente poderia conversar um pouco. Sobre nossos planos à dois.

       Desliguei a lanterna do celular e liguei a câmera. Eu gostava de tirar fotos de surpresa. Imagens espontâneas eram mais bonitas do que as poses forçadas. Desliguei o flash. Girei a maçaneta com cuidado para não fazer barulho e coloquei o celular pela fresta entre a porta, para tirar a foto. Depois o recolhi para olhar o resultado. E antes que eu visse, escutei um barulho estranho. Parecia um tapa. Fiquei paralisada. O cérebro demorando a processar. Quando ouvi a voz dele sussurrada... "É assim que você gosta?"... E outra voz responder... "Não sou frígida como a sua noivinha idiota!"... Eu não conseguia reagir. Entrar e bater neles? Gritar tudo que estava travando minha garganta? Sair correndo e fingir que nada aconteceu?... O que eu deveria fazer ao descobrir uma traição na véspera do meu casamento e ainda mais na casa onde eu iria morar, na cama onde eu iria dormir? Eu queria matá-los! Mas diferente do meu noivo infiel, eu tinha caráter! Respirei fundo e tirando forças não sei de onde, dei meia volta e saí dalí. Jogando a chave e a aliança no chão da sala. Traição não tem perdão! Se ele não me amava, não tinha problema. Eu amava a mim mesma o suficiente para não permitir que ele me machucasse mais.

       Desliguei meu celular. Eu precisava de um tempo só para mim, antes de encarar os convidados e avisar que não haveria mais casamento.

       Devia ter aceitado o convite das amigas para ir até a Starlite. Se bem que era melhor saber antes e enquanto eu podia pular fora dessa encrenca. Eu não queria chorar, mas a raiva fazia as lágrimas rolarem e eu queria um jeito de esquecer o que aconteceu. Sempre ouvi que nesses casos as pessoas bebem. Se funcionava, eu iria descobrir. Porque pretendia tomar o primeiro e último "porre" da minha vida. Eu ainda não tinha a idade mínima para comprar bebidas, ou entrar em boates. Mas sabia que naquele lugar não iriam pedir minha identidade. Faziam vista grossa. O que importava era o dinheiro entrar no caixa!

     A Starlite estava lotada. Eu passei por entre as pessoas e fui direto ao bar. Meu pai iria ficar louco ao ler na fatura do cartão, que comprei bebida. Era ele que me bancava. Eu precisava arrumar um emprego e me tornar independente. Sim, eu ia casar desempregada e ainda cursando a faculdade de design gráfico. Tiago trabalhava em um fast food. E iria arcar com as despesas a princípio. Talvez fosse precipitado de mais nosso casamento. Eu sabia que nos dias atuais, um relacionamento sem intimidades não durava. Por isso, eu me apressei em formalizar a união. Mas pelo visto, ele já tinha cansado de esperar. Só não foi homem o suficiente para conversar comigo sobre isso.

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