1. A primeira noite

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Jimin passou a língua pelos lábios, deixando-os úmidos. Não havia muito tempo para pensar, e a própria gravidade da situação o atordoava demais para que pensasse claramente se aquela era uma decisão sábia. A vida frágil do rapaz em suas mãos se esvaía rapidamente e a única maneira de salvá-lo era envenenando-o com seu beijo. Só o suficiente para salvá-lo. Depois, o deixaria ir, afinal, por melhor que tenha sido sua interação com aquele menino tão bonito e cheio de vida, ele era humano e tinha uma vida inteira pela frente, caso Jimin não quisesse matá-lo. E ele não queria. Embora fosse envenená-lo agora mesmo para que vivesse. Embora o jovem desacordado já não estivesse em sua plena consciência, ao tocar os lábios trêmulos e frios com os seus, ele reagiu.

Ao leve encostar dos lábios macios de Jimin, o corpo todo do rapaz foi se aquecendo aos poucos. Jimin agarrou-o com mais força ao perceber que ainda havia vida naquele corpo frágil e ferido. Como o rapaz inerte pudesse ouvi-lo conscientemente, sussurrava entre aqueles lábios mornos:

-Vamos, me beije! Por favor! Só um beijo e você vive!

Não por terem sido feitas, suas súplicas logo tiveram resposta e o jovem abraçou-o de volta. Começou a sentir os braços dele retomando um pouco de toda a força que ele tinha. Primeiro, o rapa sugou seus lábios de volta e aos poucos, à medida que se entorpecia com aquele beijo, foi recobrando também a vitalidade e em breve o beijo era retribuído com intensidade. Os dedos dele se enterraram nas costas de Jimin, que sorria ao ver aquela reação. Em pouco tempo, a força do outro estava totalmente recuperada, mas ao mesmo tempo a mente estava começando a alucinar. Ele tinha pouco controle de sua força e Jimin sabia que o outro mal podia sentir o que fazia. Ainda assim, Jimin alegrava-se em tê-lo salvado, e no breve momento em que se distraiu com a ideia de ver o sorriso do rapaz novamente, ele puxou-o com força, fazendo com que Jimin caísse sobre o corpo dele. Mesmo estando com alguma vantagem por estar são e por cima do outro, a força daquele corpo aparentemente frágil impressionava e em poucos segundos Jimin viu-se preso entre as coxas fortes que se entrelaçaram ao redor das dele.

Jimin poderia deixá-lo se alimentar de seu veneno até que morresse, intoxicado pelo excesso daquela substância alucinógena e também revigorante que a natureza havia lhe concedido como arma para sua sobrevivência. Mas ele só queria que o outro se recuperasse. Embora quisesse se alimentar dele e soubesse que o cheiro de sangue derramado durante a queda é que o atordoava, Jimin não queria matá-lo, nem se alimentar dele. Já havia se alimentado naquela noite, afinal. Então usou sua própria força para afastá-lo. O jovem era tão forte naquele estado, que pela primeira vez em muito tempo, Jimin teve que de fato lutar contra as pernas e os braços dele, tomando ainda cuidado para não usar força demais e feri-lo novamente.

Enfim, se separaram e Jimin pode olhá-lo nos olhos. O rapaz assentou-se e Jimin permaneceu ajoelhado em frente a ele. Aqueles olhos grandes, arredondados e vivos agora estavam à sua frente, e embora ainda houvesse sobre eles a névoa do entorpecimento, o simples fato de não estar mais grudado aos lábios de Jimin já o deixavam mais consciente. O rapaz olhava ao redor e ia aos poucos percebendo o cenário estranho em que se encontrava.

Estavam em um terreno vazio e não havia outra presença humana. Haviam muitas árvores ao redor deles, mas o exato lugar onde estavam era uma clareira iluminada fracamente por uma lua quase cheia. O rapaz olhou ao seu redor, dando-se conta de que não sabia como havia parado ali com aquele estranho que tinha as mãos cobertas de sangue. Olhou para baixo e percebeu que suas próprias roupas estavam úmidas, seu tronco coberto por aquele líquido viscoso, agora já coagulado. Jimin observava silenciosa e atentamente as descobertas do outro. Tateando o próprio corpo, ele não encontrou nenhum ferimento, embora tivesse percebido que suas roupas estavam sujas, cobertas de terra que grudava em suas mãos ensanguentadas e haviam muitas folhas e pequenos galhos que seu tato identificava. Voltou a encarar o homem a sua frente, com um sorriso difícil de interpretar em um rosto de proporções surrealmente harmoniosas. Ele estava bem vestido, mas parecia estar tão sujo quanto Jungkook. Ao invés de respostas, surgiu uma suposição. Encarando suas próprias mãos e as do homem bem vestido, arregalou os olhos em desespero:

Noites vivas - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora