10. O primeiro olhar

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-Você sabia o tipo de festa em que foi parar, Jungkook? – Jimin olhou Jungkook, deitado sobre suas pernas e percebeu que ele franzia as sobrancelhas. Não, o mais novo não sabia onde havia se metido - Você entrou lá sem ter ciência de onde pisava?

Jungkook encolheu os ombros.

-Era só uma festa com drogas. Eu queria só me divertir e esquecer da briga com meus pais e da insatisfação com minha vida. Eu e meus amigos fomos parar lá porque a namorada de um deles conhecia pessoas que foram à festa, mas não sei como souberam da festa. O que tinha de diferente nela?

-Se você não sabe e ainda não entendeu tudo que está acontecendo, não sou eu quem vai falar. Eu prometi contar sobre como nos conhecemos naquela festa, nada além disso.

-Certo. – Jungkook suspirou, conformado - Como foi que você foi parar lá, então?

-Acabamos de voltar para a Coréia e queria ver como as coisas andavam por aqui. Ao contrário dos outros, eu gosto de me misturar com... as pessoas, e não conheço nada melhor do que uma festa para fazer isso. Então eu soube desse tipo de festa que está se tornando cada vez mais comum por aqui e decidi ver como era.

-Você não sentiu medo?

Jimin riu, divertido.

-Não há perigo para... pessoas como eu.

-Mas eu deveria saber onde estava pisando... Quer dizer que pessoas como eu estavam correndo perigo por lá?

-Digamos que sim, mas isso não convém – Jungkook fez menção de fazer mais uma pergunta, mas ao perceber que Jimin começava a se irritar com as interrupções, calou-se e deixou que ele continuasse. – Mas o que importa é que você chegou lá. E eu gosto muito de dançar.

-Nós dançamos juntos?

-Sim. – à medida que Jimin continuava a contar a história, Jungkook sentia seu coração disparando e uma sensação de nervoso e excitação, diferente de tudo vindo de Jimin que havia sentido até o momento. Não era necessariamente sexual, mas o fazia sentir uma certa euforia – Quando você chegou à festa, estava muito tímido e quieto. Acompanhava os amigos, mas não interagia muito com as pessoas de fora. Você me chamou a atenção pelo seu sorriso e ingenuidade. Agora parece bem claro que você não fazia ideia de onde estava. Então um dos seus amigos o desafiou a dançar. Você agarrou uma bebida e virou o conteúdo de uma vez só. Você pediu espaço para as pessoas ao seu redor e começou a fazer uma sequência de movimentos muito precisa. Não era só técnica, mas tinha alguma alma ali também. Foi a primeira vez que alguém naquele lugar parecia realmente interessante.

Jungkook sentia um calor no peito e sabia que não era uma sensação sua ou de Jimin. Olhou para o mais velho. Embora parecesse simplesmente encarar a parede com tédio, Jungkook sabia que Jimin sentia uma certa ternura ao reviver aqueles momentos.

-Eu olhava nos seus olhos, mas você sempre desviava. Continuei bebendo no meu canto e você com seus amigos, então depois de um longo tempo, você finalmente passou a corresponder o meu olhar. Um pouco timidamente, ainda fugindo de mim. Até que uma música começou a tocar e seu corpo começou a se mover ao ritmo dela. Com um olhar eu fiz um convite para dançarmos, e sem dizer uma palavra, finalmente nos aproximamos. Você começou dançando e eu me deixei guiar por você. Nós só... dávamos certo dançando.

Jungkook estava um pouco surpreso. Jimin sentia-se bem, quase leve, ao contar aquela história.

-Então nós trocamos e eu comecei a guiá-lo. Eu era um bailarino, no passado. E havia muito, muito tempo, que alguém não dançava comigo daquele jeito.

-Que jeito? – Jungkook estava genuinamente curioso.

-Quando alguém dança bem, você não sente se esta guiando ou sendo guiado e nenhum movimento parece treinado ou pensado. Eu só... sentia cada passo que você dava. De algum modo, o seu corpo e o meu pareciam saber o que estavam fazendo. Naturalmente. E era... gostoso.

Jungkook começou a entender o sentimento que Jimin tinha em seu corpo agora.

-Eu não consigo acreditar que dancei desse jeito com você... eu nem sei dançar esse tipo de dança de salão...

-Não era dança de salão. Estávamos dançando separadamente. Só que ainda assim, havia uma conexão muito forte. E parecíamos saber exatamente a coreografia que íamos fazer, como se tivéssemos ensaiado por muito tempo juntos. Isso chamou a atenção das pessoas, e rapidamente estávamos fazendo um show nosso.

Jungkook apenas levantou as sobrancelhas, ainda um pouco espantado. Não conseguia se imaginar naquela situação, mas não sentia que Jimin mentia.

-Por décadas eu não sentia tanto prazer dançando. Depois que terminamos, você sorriu pra mim e o seu sorriso...

Jimin parou de repente, mas Jungkook podia sentir precisamente o sentimento dele: paixão. Não podia ser. Seria mesmo? Ele precisava de uma confirmação.

-O que tem o meu sorriso...?

Jimin não iria se revelar, não tanto quanto ele já havia se mostrado ao prisioneiro. Empurrou levemente a cabeça de Jungkook, pousando-a sobre o colchão novamente. Depois, ele mesmo se deitou ao lado do mais novo. Com a cabeça apoiada no cotovelo, encarava-o mas não o olhava.

-O seu sorriso chamou a atenção de outras pessoas. É isso. E eu não sabia que havia uma hierarquia ali ou que eu não podia... – Jimin parecia pensar na palavra certa – gostar de você. Então eu comecei a discutir sobre aquelas regras. Sem que entendesse muito da nossa discussão, você entrou na briga para me defender quando percebeu que ela estava ficando mais acalorada. Estávamos à beira de uma varanda, mas isso não parecia ser empecilho para que você entrasse na frente quando eu quase levei um soco. Só que o outro cara não ligava muito para a vida de vocês... e ele simplesmente te jogou pela varanda e eu vi você rolando barranco abaixo. Eu corri e consegui salvá-lo. E ter saído atrás de você também me livrou daquela confusão. Pelo menos temporariamente.

Jungkook ficou em silêncio por alguns minutos, absorvendo todos os fatos que haviam sido narrados.

-Então eu te devo a vida?

Jimin virou-se com o peito para cima. Sua expressão era neutra e Jungkook não estava encostando nele. Não podia saber como ele se sentia em relação àquilo.

-Você me deve muitas coisas, Kookie, mas não isso. Você não teria quase morrido se não tivesse tentado me defender, mesmo que eu naquela situação quem precisasse de defesa fosse você.

-Como assim?

Jimin ignorou a pergunta, começando a se levantar.

-Mas você me deve uma música. Pode começar a cantar pra mim, como você havia prometido.

Jungkook não tinha muita alternativa a não ser obedecê-lo.

-Que tipo de música você quer que eu cante?

-Uma que eu possa dançar.

Jungkook estava disposto a agradá-lo um pouco mais, agora que sabia como o outro se sentia em relação a ele. Talvez os sentimentos de seu hyung fossem a única saída para que Jungkook escapasse dali. Pensou por alguns minutos em algo que pudesse fazer o corpo dele ter prazer em se mover. Jungkook não se lembrava de como haviam dançado juntos aquela noite, mas Jimin havia dito que fora um bailarino em algum tempo do passado. Pelo uso daquela palavra, era provável que dançasse algo mais clássico, então Jungkook escolheu uma música suave, que pudesse embalar movimentos fluidos.

Jungkook ficou de pé, observado pelos olhos brilhantes de Jimin. Fechou os olhos e começou a cantar, imaginando-se em frente a um palco, onde nunca tivera a chance de pisar. Era sua maneira de cantar dando o seu melhor. Esperando que talvez, pelo pedido, Jimin fosse começar a dançar a qualquer momento, Jungkook surpreendeu-se ao vê-lo cair no sono com um sorriso no rosto. 

Noites vivas - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora