45. Vinte anos depois

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Hyewon estava um pouco preocupada com o tom de seriedade do tio Gguki. O rosto jovial dele era sempre vívido e ao longo de sua vida, o tio havia sido um grande companheiro, quase como um irmão mais velho. Sempre disposto a ouví-la e aconselhá-la com a sabedoria de quem não esquecera o que era ser jovem, coisa que seus pais muitas vezes faziam, o tio Gguki era também a pessoa com quem ela tinha mais memórias divertidas da infância. Ele parecia nunca ter medo, como seus pais, e a acompanhava ou incentivava em todas as coisas que ela mais gostava, o que às vezes fazia com que ela só pudesse fazer algo se o tio Gguki a acompanhasse. Ele não era irresponsável só porque a mimava. Pelo contrário, sempre a protegia e nunca deixava que ela se machucasse mas estava sempre disposto a brigar com o irmão para que deixasse a sobrinha experimentar a vida.

Tio Gguki sempre estava sorrindo e levando a vida com muita leveza. E, pela primeira vez desde que ela se lembrava, ele estava sério de verdade. Desde que Hyewon havia decidido voltar para o país de origem da família para fazer faculdade, Gguki e o pai vinham tendo conversas sérias a portas fechadas. Gguki sempre sorria e dizia que estava tudo bem quando Hyewon perguntava preocupada qual era o problema em voltar para a Coréia para estudar direito. Ela havia conseguido uma bolsa, já tinha garantido um alojamento e havia juntado uma pequena poupança para a passagem e outros gastos, com o dinheiro do trabalho de meio período em um resort de esportes radicais na Nova Zelândia. Nesse ano vivendo fora ela havia adquirido experiência de viver sozinha e seus avós e pais sempre comentavam como ela havia amadurecido, então a jovem não entendia qual poderia ser o problema dessa nova viagem.

Se afastar da família não deveria ser mais um empecilho para a viagem, já que ela passara um ano fora de Chelsea. Durante aquele ano sabático entre o ensino médio e a faculdade, Hyewon se aproximara ainda mais do tio, que era a única pessoa que sempre dava um jeito de ficar disponível para conversar por vídeo. Quando conversava com a sobrinha sobre a viagem dela, ficava perguntando sobre os esportes que ela fazia e prometeu fazer o Bungee Jumping noturno, caso a visitasse. Ele de fato o fez, tendo ido visita-la durante o intercâmbio, fazendo o elo perfeito entre tudo que ela vinha descobrindo sobre a vida e tudo o que já conhecia: sua família, da qual ela sentia falta, mesmo que estivesse adorando sua viagem. É claro que conversava quase todos os dias com seus pais por vídeo, mas ter o tio Gguki com ela era diferente. Fora ser o adulto mais legal que ela conhecia, ele era totalmente livre de qualquer convenção sobre horários. Desde pequena, ele é quem cuidava dela durante o dia, já que ele trabalhava a noite. Quando cresceu, Gguki é quem a levava e buscava nas festas e fingia não ver várias coisas que certamente deixaria seus pais e avós adoráveis, mas conservadores no mínimo preocupados. Nos dias que passou com ela na Nova Zelândia ele seguiu sendo o ser absolutamente livre que ela conhecia. Passava o dia todo dormindo e criava disposição para sair todas as noites. Gguki era divertido, e Hyewon não o via como um tio chato, mas sim como um amigo dela, até porque ele era só 15 anos mais velho que ela, e a acompanhava em tudo que ela gostava de fazer durante os dias que passaram juntos em Queenstown. Ele só precisava dormir durante o dia, claro, para se recuperar do jet-leg e dar umas voltas sozinho a noite.

Será que ele estava, então, chateado porque não o havia convidado para visitá-la ainda? Ou seu pai e o tio estavam em algum conflito maior porque agora Hyewon iria ficar fora por um tempo mais longo? Será que não queriam que ela voltasse para a Coréia por algum motivo específico? Quando se mudaram Hyewon era um bebê de colo, então ela não tinha lembranças sobre o país de origem deles ou da mudança. A família nunca falava muito das razões para terem se mudado para o Canadá, então Hyewon desconfiava, mas não conseguia em pensar em nada que pudesse de fato ser tão grave assim para estar causando aquela tensão na família.

Naquele momento, Hyewon tinha mais desconfianças do que medos sobre o que poderia estar deixando tio Gguki e seu pai tão chateados, preocupados e sérios. Agora, em frente a ela a família havia se disposto na sala de forma solene. Gguki tinha um sorriso em seu rosto, mas havia tensão também. Ele balançava as pernas nervosamente até Hyewon se assentar à sua frente.

Noites vivas - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora