12. Confronto

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À medida em que despertava, Jungkook sentia amargura em perceber que estava em sua cela novamente. Confortável, alimentado, mas ainda assim ele já sabia e sentia que era um prisioneiro cujo destino seria, inevitavelmente, a morte. Ele não sabia ainda quando nem exatamente o por que, embora sua vida parecesse ter um propósito mais claro agora: estava ali para alimentar Jimin. Suas esperanças foram se esvanecendo ainda mais rapidamente ao lembrar-se de como havia retornado à sua cela em sua única chance de escapar.

Aparentemente, Jimin seria repreendido ou punido pelo descuido de se envolver com Jungkook e deixá-lo fugir, e provavelmente teria seu cuidado redobrado ao retornar, se é que voltaria mesmo. As chances de que outra oportunidade de fuga surgisse eram mínimas, pois provavelmente reforçariam a segurança que o impedia de sair e ele já sabia o que encontraria lá fora: Outros homens para impedi-lo e que eram mais fortes mesmo que Jimin, logo mais fortes do que ele próprio.

Pela primeira vez desde que estivera ali, se desesperava completamente. Não haviam mais planos e também não tinha mais motivos para observar Jimin ou tentar entendê-lo para conseguir fugir. Iria morrer de qualquer jeito. Deixou sair o choro que havia prendido por todo aquele tempo. As lágrimas transbordavam raiva da situação, medo da morte eminente, vergonha pela inocência de ter acreditado que poderia de alguma forma dobrar Jimin usando recursos que agora claramente não teriam dado resultado algum, arrependimento pelas ações impensadas que o fizeram chegar até ali, saudade dos pais e do irmão e apreensão por eles, que deviam estar angustiados com o sumiço do filho. Então as lágrimas foram se tornando mais volumosas, incontroláveis, e cada vez mais dolorosas e o choro fazia seu peito arfar.

Ele gritou. Deixou toda sua frustração se esvair naquele grito alto e naquele ranger de dentes. O resto da sua tristeza, que ainda ficou em seu corpo e mente exaustos foram escoando em formas de lágrimas, agora silenciosas e apáticas. Até que ele adormeceu novamente, sem esperança nem alternativa.

Acordou mais uma vez com o ranger da porta. Já não se importava mais com a presença de Jimin e só queria que ele entrasse logo, fizesse o que tinha de fazer e fosse embora. O outro também parecia estar com o mesmo sentimento. E era estranho, mas ele podia sentir um certo constrangimento nele ao entrar na cela trazendo a comida. Ao invés de se sentar ao seu lado, ficou de pé esperando que Jungkook comesse, mecanicamente, aquela sopa. Assim que terminou, Jungkook puxou a manga da camisa oferecendo o pulso para o outro. Jimin se alimentou, como sempre, e foi embora. Nos dias que se seguiram, ambos seguiam passivamente os papeis que agora pareciam perfeitamente claros que cada um deles tinha. Jungkook conseguia perceber, no entanto, uma crescente preocupação de Jimin, misturada com insatisfação e até mesmo um pouco de desgosto em cumprir aquela rotina.

Jungkook passou a chorar depois daqueles encontros. Geralmente, só depois que o outro ia embora e Jungkook pensava no fim patético que sua vida estava tendo é que começava a refletir sobre a situação e não conseguia evitar o choro. No entanto, houve um dia em que o fez enquanto Jimin estava lá, perfurando sua artéria. Ao perceber as lágrimas, Jimin também se entristeceu. Jungkook podia perceber que ele estava sentindo arrependimento, mas não havia nada que pudesse ser feito com aquela percepção.

Jimin se afastou e ficou de pé.

-Sinto muito, Kookie – era a primeira vez que ele dizia aquele apelido sem ironia – eu não queria ter que fazer isso.

Ouvir aquilo enraivecia Jungkook. De um salto, também se pôs de pé. Sabia que era inútil e que Jimin provavelmente usaria sua força para contê-lo, mas foi se aproximando e o cercando contra a parede.

-Eu não tenho escolha. – Havia tristeza no tom de voz dele. Ele só queria convencê-lo, não brigar nem impedir Jungkook de descontar sua frustração nele. - Os hyungs vão me matar se eu...

Jungkook segurou Jimin pela gola da camisa e o pressionou contra a parede. Jimin não lutou, e Jungkook notou que ele sentia uma espécie de remorso, como se merecesse a violência que o mais novo impunha sobre ele.

-Não era você que estava cansado de viver?

Ele já não oferecia resistência alguma a Jungkook, mas ao ouvir aquela frase, seu coração disparou e se sentiu desconsertado. Jungkook fechou o punho, pronto para socá-lo, mesmo que também percebesse aquela sensação de desconserto. Jimin ficou em silêncio, encarando-o. A respiração de Jungkook estava acelerada e ele podia sentir o peito dele se expandindo e se contraindo contra o seu.

-Pode me bater, Jungkook. Eu vou entender. Você tem direito.

Jungkook desferiu um soco contra o lábio de Jimin. Ele nem sequer tentou desviar. Apenas fechou os olhos e deixou o punho raivoso atingi-lo. Depois ele levou outro soco, agora na boca do estômago, e então um terceiro, já mais fraco. Os golpes foram perdendo força até que Jungkook foi desistindo de desferi-los. Apoiava-se nos ombros de Jimin e deixava-se escorregar de volta para o chão. Haviam lágrimas nos seus olhos, mas ele urrava de raiva, cedendo à frustração de nunca realmente ferir o outro, que parecia inabalado pelos socos mas muito mais comovido com a desistência de Jungkook.

-Acabe logo com isso, Jimin. – implorou Jungkook.

Jimin continuou calado, ajoelhando-se ao lado de Jungkook e curvando-se sobre ele. Rechaçando aquele toque, Jungkook empurrou-o para longe. Ele não queria sentir a pena que havia detectado no outro. Jimin era capaz de compreender e respeitar aquela raiva, e também realmente precisava ir embora. Tinha agora o tempo que passava com Jungkook controlado e não queria que alguém viesse busca-lo e se deparasse com a cena, o que só pioraria sua situação.

Levantou-se e abriu a porta, mas antes disso Jungkook agarrou sua perna, fazendo-o parar.

-Quando é que isso vai acabar?

-Eu não sei, Jungkook. – Era mentira e Jungkook podia sentir – Geralmente não demora muito. – Agora Jimin estava sendo sincero.

-Então pelo menos me diga o que está acontecendo. Eu não quero... – Jungkook parecia se engasgar com aquela palavra indesejada, mas ela enfim saiu – morrer sem saber o que está acontecendo.

Jimin moveu a perna, deixando que a mão de Jungkook saísse de cima dele.

-Por favor, me conte o que está havendo, quem é você ou o que vocês vão fazer comigo.

Jimin fechou a porta, mas Jungkook gritou, fazendo sua própria garganta arranhar.

-Vocês disseram que não era pra brincar com a comida!

Depois de expulsar toda sua fúria de si com aquele grito, Jungkook sucumbiu à humilhação de gritar aquela frase ridícula, como se já não fosse suficiente tudo que vinha passando. Deitou-se em seu colchão e dormiu, exausto.

Noites vivas - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora