Jungkook havia caído no sono novamente, um sono agitado e inconstante. Todos os seus sentidos estavam extremamente ativos e sua mente ainda não estava acostumada a perceber os estímulos de forma tão forte. O som da conversa entre Jimin e Danbi o despertaram novamente, e assim que abriu os olhos, tudo parecia tão claro, embora o interior da caverna fosse escuro. O cheiro de Danbi o atordoava e percebeu que olhar para ela, sentada ao lado de Jimin, fazia com que sua boca se enchesse de saliva. Estava começando a sentir fome, o que significa que logo perderia o controle ou morreria.
-Ele ainda demora muito a decidir o que quer? – Danbi se dirigiu a Jimin, parecendo entediada. – Estou com fome e as pessoas vão começar a dar falta de mim, sabe?
Ao invés de responder, Jimin olhou para Jungkook, que havia se levantado e se assentado em frente a ele. Ele também esperava uma resposta do mais novo.
-Eu não sei o que quero. – Jimin esticou as próprias pernas e depois as flexionou novamente abraçando-as, sem ter muito o que dizer diante de tais palavras. Então Jungkook o encarou com olhos lacrimejantes – O que você faria hoje, hyung? Se pudesse escolher.
Jimin continuou abraçado às pernas, apoiou o queixo sobre os joelhos e começou a pensar.
-Você sabe o que eu queria ter feito quando me deram a chance de escolher, e sabe o que acabei fazendo por não tomar uma decisão.
-Você tinha um vício, não agiu totalmente consciente.
-Você sabe que eu não queria mais viver sozinho no mundo. Preferia ter morrido... ou não queria ter matado ninguém.
Danbi se levantou e foi para a parte mais distante da caverna, soltando um som afetado de tédio. Ainda se mantinha à vista deles, mas ligou a lanterna do celular e abriu uma revista que tirou da bolsa, murmurando, enquanto passava as páginas, reclamações impacientes sobre como eles estavam dramáticos e indecisos. Ignorando a cena, Jungkook continuou em agonia.
-Eu ainda posso tentar viver com meus pais... – Jungkook agora imitou Jimin e também abraçou as próprias pernas - se os hyungs não me encontrarem.
-Depois de um tempo, você não vai poder ver seus pais ou seu irmão muitas vezes. Eles vão estranhar que você não vai envelhecer. Todas as pessoas com quem você se importa vão morrer e você vai continuar vagando pelo mundo, sem rumo, numa vida sem sentido, se escondendo de tudo e trocando fluidos corporais com pessoas viciadas em troca de se alimentar. Não existe realmente uma forma conhecida que nos leve a um fim, a uma morte. E ninguém quer viver pra sempre de verdade.
-E se fizermos que nem os seus hyungs?
-Viver aquela vida chata e regrada? – Jimin virou o rosto para o outro lado, desviando o olhar do mais novo - De que adianta viver pra sempre de forma tão limitada?
-Não estava falando de regras. Estava falando de ficarmos juntos.
Jimin aprumou a postura e olhou para Jimin.
-Juntos?
-Sim, ajudando um ao outro a sobreviver juntos.
Jimin se surpreendera com a proposta. Jungkook o fizera se sentir vivo, mas ainda assim, não desejava a ele que passasse por toda a agonia de existir sem a expectativa de um fim à maçante rotina de sobreviver. Tinha clara consciência de que a proposta do recém transformado não era romântica, mas não podia negar que lhe agradava a expectativa de passar alguns muitos anos ao lado de alguém que pudesse dar certo sentido à vida. Se envergonhou com o pensamento ridículo, mas achava que a vida teria mais sentido através do amor. Parecia absurdo que uma criatura como ele pensasse em amor, mas era algo que ele sempre havia invejado no caso de Taehyung. Seu amigo tinha se feito transformar para ficar junto a Hoseok e os dois nunca pareciam ter a mesma angústia que Jimin, Namjoon ou Yoongi às vezes sentiam. Ele também invejava a natureza livre de Seokjin, que vivia como se não houvesse amanhã, embora o amanhã chegasse para pessoas como eles muito mais vezes do que para os mortais.
-E como você acha que seria viver para sempre comigo?
A resposta de Jungkook foi imediata e com pouca emoção.
-Divertido.
-Jungkook, você não está pensando direito e eu entendo como é difícil pensar com tanta coisa passando pela sua mente agora. Mas eu nem mesmo sou uma pessoa confiável. Você viu o que fiz com você, mesmo que minha intenção nunca tenha sido te fazer de refém e me alimentar de você.
-Você mostrou arrependimento e tentou compensar por tudo que me fez passar. Eu te perdoei.
Danbi fechou a revista sonoramente, chamando a atenção dos dois.
-Parece um drama romântico, - gritou de longe – resolvam logo isso!
Jimin olhava para ela impressionado com a insolência.
-Ninguém aqui está falando de romance. – gritou de volta - Quem é que ama uma só pessoa convivendo com ela por toda uma eternidade?
-Poderíamos tentar, se você quisesse – Jungkook disse em um tom baixo, voltando a deixar a conversa mais particular. Depois continuou, adotando então um tom de súplica – Podemos dançar juntos todas as noites, ir a festas, nos misturar com humanos. Você disse que gostava disso.
Dentro da mente de Jimin, por mais que houvesse aquela vontade ridícula de amar Jungkook, ele também tinha argumentos contra todas as ideias românticas que o mais novo pudesse apresentar. Não é que elas não parecessem boas, é só que em algum momento da longa vida deles, iriam se cansar um do outro, e talvez até se tornassem inimigos. As pessoas mudam e não fazia sentido que Jungkook tomasse uma decisão tão importante confiando em um possível relacionamento com uma pessoa. Além do mais, para Jimin parecia que Jungkook não acreditava de fato no que ele dizia e estava usando tais argumentos apenas porque achava que convenceriam a Jimin.
-Podemos fazer sexo, muito sexo.
-Não vai ser igual a quando você era humano. E sexo não pode ser um argumento válido pra isso.
Jungkook deu um sorriso amargo, deitou-se no chão novamente, ajeitando o casaco debaixo da cabeça para ficar em posição fetal.
-Eu só quero viver mais um pouco, encontrar meus pais novamente e pelo menos pedir desculpas pela última vez em que nos vimos e brigamos.
-Se é isso, - Jimin adotou um tom mais compreensivo - então eu posso te ajudar a fazer isso, você pode escrever uma carta e depois você morre e descansa em paz.
Jungkook se encolheu mais ainda no chão.
-Eu não quero morrer agora, Jimin-hyung.
Jimin se deitou ao lado dele, deixando os olhos dos dois à mesma altura.
-Você parecia tão destemido antes. Eu não entendo porque agora você quer tanto essa coisa sem graça que é a vida eterna.
Jungkook ficou quieto mais uma vez, e Jimin entendia o silêncio. Provavelmente do lado de dentro haviam tantas questões que era até difícil expressá-las. Depois de um tempo calado, Jungkook falou novamente.
-Hyung, se eu escolher mesmo morrer, o que você acha que vai acontecer depois?
Jimin puxou Jungkook para que o mais novo pousasse a cabeça sobre o peito dele. Jungkook apertou os braços com força ao redor do peito quente de Jimin.
-Você vai ter paz, eu acho. Muito mais do que eu tenho agora, com certeza.
-E o que vai acontecer com você? – A voz de Jungkook era baixa e contida.
-Comigo? Eu vou seguir meu plano de antes, ir para algum lugar onde eu não possa ser encontrado, nem tenha que seguir muitas regras. E – Jimin mudou o tom, também baixo e contido, mas sincero - vou sentir sua falta.
Jimin havia sido honesto, e Jungkook podia sentir a sinceridade, mesmo que não tivessem mais a mesma conexão e percepção física de antes. Apoiou o queixo no peito do mais velho para olhá-lo nos olhos.
-Acho que já sei o que fazer.
-Finalmente! – Gritou Danbi à distância.
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Noites vivas - Jikook
VampirosJungkook é despertado com um beijo por Park Jimin sem se lembrar como o conheceu e porque ele diz que o salvou. Sozinho e sem meios de voltar pra casa, resolve tentar seduzir Park Jimin, para conseguir sair dali aquela noite. Ele nem imagina com que...