Noites vivas - Jikook

57. Sentimentos na mesa

-E desde então eu tenho tentado viver do jeito que você gostaria que eu vivesse. Não para agradar você, mas porque eu realmente acredito que seja o certo a se fazer. Me redimi com Danbi e paguei como pude pelos meus erros, mudei o modo de conviver com os humanos e, bem, você tinha razão. É mais ético, justo e faz bem a nós mesmos também. É até, quem diria, mais fácil viver como eu imaginava que você queria viver. O seu senso de justiça com os humanos é mais apurado que o nosso, afinal. Você está mais próximo deles e não passou por todas as grandes tragédias que nós tivemos que passar e que acabaram roubando um pouco da nossa humanidade.

Depois da conclusão de Jimin, ele bebericava seu chá em silêncio enquanto Jungkook permaneceu alguns instantes calado, absorvendo toda a história. Ele não podia mais sentir o mesmo que o outro, mas conseguia intuir, ao olhar as expressões de Jimin, que ele havia sido fiel à toda história. Jungkook se pegou lembrando como era Jimin mentindo e ele não parecia estar falando mentiras. Partindo do pressuposto que era tudo verdade, algo a que Jungkook estava inclinado a acreditar mesmo que inicialmente tivesse desconfianças, estava tudo realmente resolvido e encaminhado. Hyewon não correria perigo algum e ele poderia voltar em pouco tempo para o Canadá. Obviamente tomaria a preocupação de averiguar melhor a história e passar algum tempo observando se sua sobrinha realmente ficaria bem. Jungkook estava, no entanto, sem saber como reagir à maneira direta como Jimin estava falando sobre seus sentimentos em relação à ele. E aquilo fizera com que se esquecesse momentaneamente das dúvidas que ficaram sobre a história principal.

Jimin tomava seu chá sem tirar os olhos dele e Jungkook desviava o olhar, como viera fazendo durante todo o tempo em que Jimin narrara todos aqueles fatos. Se ajeitou na cadeira e fez de uma só vez as perguntas que queria ter feito, para não ter que pensar mais sobre o que Jimin havia dito sobre amor, mudanças e Jungkook estar certo.

-O que houve com Yoongi e Namjoon? Para onde Seokjin foi? E qual a história de Hoseok?

Jimin apontou para os convites sobre a mesa.

-Porque você não pergunta diretamente para eles?

Jungkook suspirou.

-E se for uma armadilha? Eu não confio neles depois do que fizeram com a Danbi...

-Kookie – Jimin disse impaciente, se inclinando sobre a mesa. – Eu entendo o que você sente, mas nós vivemos por quase vinte anos reparando os erros que nós cometemos, nos redimindo e mudando o modo como lidamos com a nossa vida sem fim. Eu entendo que você não confie em nós, mas você pode ter certeza que não iríamos fazer nada que destruisse esse novo modo de vida que nós construímos nesse tempo só para ensinar uma lição a você. Mesmo há vinte anos atrás, não foi isso que os hyungs fizeram comigo ou com você, então acho que você pode ir até lá com tranquilidade.

Jungkook continuou em silêncio quando viu Danbi passando de um lado para o outro, acompanhada de seus funcionários. Se ela estava confiando neles e querendo ir à ilha Jeju para ouvir o que os hyungs queriam, porque ele não poderia fazer o mesmo? De fato, a prosperidade dela se devia em parte aos homens que conhecia terem reparado materialmente pela maneira como a trataram e quase tiraram a vida a vida dela. Ela estava mais próxima dos rumores sobre eles, e nada do que ela ouvira durante o tempo em que ela permanecera na Coréia a impedia de dar a eles o benefício da dúvida. Então, pensava que podia confiar minimamente neles.

-Kookie – Jimin chamou com a voz mansa, tirando-o de seus pensamentos. Ele olhou nos olhos de Jimin mas dessa vez não conseguiu desviar – Tudo que eu disse é verdade. Em especial, o que eu disse sobre os meus sentimentos em relação a você.

Jungkook se encolheu, pela primeira vez desmanchando aquela pose forçadamente intimidadora que tentava impor, em vão, sobre Jimin. Ao perceber aquela primeira abertura em Jungkook, Jimin tomou coragem para perguntar.