38. Perguntas e respostas

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Jungkook tinha muitas perguntas a fazer. Enquanto tomava banho, elaborou uma lista de prioridades, coisas que ele precisava saber primeiro. Eram perguntas mais desconfiadas, mas para sua surpresa, Jimin respondia todas com sinceridade.

-Como é que vocês conseguem os voluntários? - Jungkook perguntou no caminho até o porão onde Jimin o levava para se alimentar. Jimin explicou que sempre que chegavam a um lugar novo costumavam se informar e procurar pessoas mais vulneráveis, precisando de algum tipo de cura e então as abordavam e compeliam a obedecê-los. Essas pessoas eram convidadas à casa onde se hospedavam e ficavam lá, servindo de alimento pelo tempo que fosse necessário para que se curassem completamente de suas doenças. Então suas memórias eram apagadas e elas eram liberadas. "Não é exatamente isso que eu chamo de voluntário", pensou Jungkook, sem expor essa contradição do grupo que o recebia.

-É por isso que a maioria das casas onde ficamos em cada lugar que vamos é tão grande e um pouco mais distante de áreas urbanas. – explicou Jimin.

Não queriam chamar a atenção de vizinhos e precisavam hospedar muitas pessoas ao mesmo tempo. Cada um deles se alimentava de uma pessoa por noite, em média. O que era suficiente para saciá-los e nutri-los sem prejudicar a saúde dos humanos. No caso da propriedade onde estavam, Jimin explicou quando Jungkook perguntou porque os voluntários ficam hospedados nos porões, não havia sido possível modificar muito as estruturas. O palácio costumava pertencer a Seokjin na época em que ele ainda era humano, e todos eles concordaram que ao menos a área externa devia ser preservada como original, embora tenham precisado selar as janelas já modernizadas com vidros para que a luz do sol não passasse através delas. A solução encontrada foi construírem quartos e banheiros para abrigar os voluntários abaixo do solo, onde já haviam galerias e dutos de aquecimento e circulação dos servos. Jimin acrescentou ainda um detalhe curioso: Seokjin era o príncipe perdido da dinastia Kim e por isso na sua ala toda a arquitetura era exatamente como a original, uma restauração encomendada pelo próprio Seokjin depois que parte do palácio fora destruído pelo império Japonês.

O fato deixou Jungkook fascinado o suficiente para ficar em silêncio até que se alimentassem. Chegando ao porão, Jungkook viu um grupo de humanos se alimentando, meio apáticos e silenciosos, não no mesmo estado que Danbi mas ligeiramente entorpecidos. Havia uma farta mesa cheia de acompanhamentos ao redor da qual todos estavam assentados e na cabeceira da mesa, Seokjin conversava e ria com uma das humanas, cujo ombro ele tocava, provavelmente para tirá-la daquele estranho transe. Mais tarde, Jimin explicou que embora a regra para não se envolverem com os alimentos fosse imposta aos mais novos, os mais velhos não eram muito bons em segui-la, em especial Seokjin. A diferença é que, desde que Jimin estava com eles, sempre que fora necessário, eles cortavam esses laços sem a menor compaixão. Seokjin explicou que estava ali para ajudar Jungkook, caso Jimin sozinho não fosse capaz de contê-lo.

Jungkook se lembrava de como Jimin havia completado sua transformação e começou a temer pela pessoa de quem fosse se alimentar. Justamente por ter se alimentado de Danbi, sabia que ele tivera dificuldades em se conter. Agora que pensava melhor, ele não sabia o que teria acontecido caso os hyungs não tivessem chegado exatamente a tempo de afastá-lo de Danbi. Jimin já havia dito que Jungkook era forte demais, mas eles precisavam enfrentar essa questão algumas vezes até que o mais novo conseguisse controlar o próprio desejo de se saciar.

Os mais velhos o estimularam a ficar à vontade e circular pela cozinha. O cheiro de tempero da cozinha mostrava um dos motivos pelos quais os humanos presentes comiam tão avidamente e Jungkook se lembrou que a comida que recebera sempre havia sido deliciosa, provavelmente vinda daquela cozinha. No entanto, aquele odor não lhe abria o apetite, mas sim o cheiro das pessoas ao redor da mesa. Seokjin se levantou sorrindo e explicou a Jungkook como escolher a melhor pessoa para se alimentar, a partir do cheiro. Poderia ter sido constrangedor, mas os humanos pareciam não se importar e Jungkook sentia uma fome tão incontrolável agora que não se importava com o que lhe fora recomendado: cheirar o pescoço de cada uma das pessoas até sentir o cheiro que mais parecesse satisfatório. Ao encontrar um homem de meia idade vestido de terno e gravata que lhe fizera salivar, Jungkook lambeu os lábios. Jimin e Seokjin, atentos, seguraram seus ombros para que recuasse. Com um toque suave no braço, convidaram o homem a se retirar para um dos quartos e assim que ele terminou de jantar, passaram pelo corredor onde Jungkook uma vez fora cativo, e entrando em uma das celas limpas e confortáveis, o homem afrouxou o nó de sua gravata, abriu os primeiros botões de sua camisa e disponibilizou seu pescoço para Jungkook. Sem hesitar muito, embora ainda achasse tudo muito estranhamente normal, Jungkook se alimentou. Jimin e Seokjin o avisaram quando parar e embora o desejo fosse grande de continuar, com a ajuda deles Jungkook parou a tempo de conter o sangramento no pescoço do homem com sua saliva. Embora tivesse conseguido se controlar melhor, havia passado por uma batalha interna. Sua racionalidade mandava parar porque sabia que estava saciado mas seus instintos gritavam para que ele continuasse se alimentando e abastecendo aquela sensação de puro prazer, quase sexual. Por fim, eles o ensinaram a se concentrar para fazer o homem esquecer o que havia acontecido ali. Jungkook tentou seguir as instruções deles "pense em nada, apague tudo na sua mente e então o toque, ordenando mentalmente que ele se esqueça de onde está e de tudo que aconteceu". No entanto, não conseguiu fazer aquilo. Parecia errado e era bem difícil também, mas compreensivamente Seokjin lhe deu tapinhas nos ombros, dizendo que a prática o faria melhorar naquilo.

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