18. Morte

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Jungkook não tinha mais nenhuma noção de tempo. Sem relógio, sem celular, sem acesso ao céu do lado de fora, ele simplesmente imaginava que era visitado durante as noites porque Jimin era um vampiro. Ainda era inacreditável que tal frase pudesse estar sendo pensada a sério, mas era a sua realidade agora. Esperar para conversar com um vampiro. Naquela noite ou dia, Jungkook percebia que Jimin estava demorando um pouco mais.

Assim que a porta foi aberta, Jungkook conteve a ansiedade que viera sentindo com o atraso do outro.

-Você demorou, hyung?!

A pergunta saiu com tom de afirmação. Jimin calmamente depositou a comida sobre a mesa e enquanto se sentava, respondeu a pergunta.

-Sim, demorei... Tive problemas com minha voluntária.

-Voluntária?

-Eu preciso me nutrir de algum modo, agora que escolhi não me alimentar de você.

Jungkook absorvia aquela frase, só então pensando em tudo que não havia questionado nos detalhes práticos da sobrevivência de Jimin. Até então, havia gastado sua energia mental em fugir, depois em se desanimar e agora em recuperar sua saúde e tentar adivinhar o que havia acontecido no passado de Park Jimin. Agora se dava conta de que até então não havia questionado como Jimin havia vivido desde a época que vinha narrando até os dias atuais. Entendendo o silêncio do outro, Jimin explicou-se.

-Nossos corpos deixam os humanos viciados. E quero que as escolhas que você vai fazer a partir de agora sejam totalmente conscientes. Também não quero que você se enfraqueça, por isso estou deixando que o seu corpo se recupere não só da doença que você teve, mas também do desgaste de perder uma quantidade significativa de sangue diariamente.

-E vocês se alimentam de voluntários? Então porque a cela?

-Kookie, Kookie. As coisas não são tão simples.

-Algumas pessoas sabem da nossa existência. As notícias correm por aí, afinal. E então elas fazem uma troca. Elas nos alimentam em troca dos nossos beijos. Alguns querem se divertir, outros se curar. Namjoon nos ensinou a nos controlar o melhor possível para que possamos nos alimentar apenas o suficiente. Não deixamos ninguém morrer por nossas mordidas, pelo menos não agora. Selecionamos com o máximo de descrição os voluntários para que eles saiam vivos, mas não falem demais sobre nós. E usamos nossa... influência sobre eles durante todo o processo também, claro.

-Porque eu estou aqui?

-Você não foi voluntário. Você nem sequer foi parar naquela festa procurando um beijo como o nosso.

-Ainda assim, eu poderia ter sido solto, Jimin! Porque?

-Foi um erro meu. Quebrei a regra que Namjoon nos impõe, de nunca trazer humanos até aqui, a não ser que eles sejam voluntários para nossa alimentação. – Jimin titubeou, mas enfim concluiu: - E agora você está aqui até que o combinado que temos entre nós seja cumprido.

Jungkook sabia que a resposta não seria agradável de ouvir, mas mesmo hesitante, perguntou:

-Q-qual é o combinado?

- Poderíamos apagar a memória do humano, mas então teríamos problemas, porque conforme as substâncias na nossa saliva vão sendo eliminadas do organismo de vocês, o que compelimos vai perdendo a força. Seria arriscado deixar que alguém que sabe tanto por acaso vivo. Então, nesse caso, o humano tem que morrer.

Não era nada que Jungkook não houvesse imaginado, mas ainda assim ele se encolheu instintivamente.

-Podemos nos alimentar do humano até que ele morra. – continuou Jimin, didático, como se o assunto fosse banal - Ou podemos simplesmente deixar que ele morra. Podemos também mata-lo de outras formas. O combinado é que ele não saia vivo daqui para não nos denunciar, nem aos humanos nem aos outros grupos como os nossos.

Noites vivas - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora