15. Mais respostas

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Jimin mal abrira a porta e Jungkook já havia se posto de pé. Ele tinha passado todo o tempo ocioso pensando em quais dúvidas precisava sanar primeiro.

-Vejo que você já pensou em todas as perguntas.

Jungkook não perdeu tempo, se assentou ao lado da mesa enquanto Jimin servia a comida que espalhava um cheiro apetitoso pelo ambiente. Fez imediatamente a primeira pergunta, pois para ele era mais importante saber a situação atual.

-Porque você não pode ficar aqui por muito tempo?

Jimin assistia a Jungkook se alimentando. Desde o incidente que o proibira de permanecer muito tempo com Jungkook, era a primeira vez que o mais novo tinha interesse na comida e em ouvi-lo.

-Porque você fugiu. Eu não deveria ter adormecido aqui. Eu não deveria nem mesmo ter me envolvido com você a partir do momento em que você se tornou alimento. Então estão nos vigiando pra que outra tentativa de fuga como aquela não se repita.

-Quem está te vigiando? E porquê?

-Os hyungs.

-Aqueles quatro homens que eu vi quando fugi?

-Exatamente. Foram eles que me acolheram e me ensinaram a sobreviver quando eu me... transformei. Devo a eles respeito e não quero confrontar as regras que eles acham que são as melhores para nós. Mas às vezes preciso quebrá-las.

Jungkook mastigava em silêncio enquanto absorvia as informações.

-Você precisa de mim para quebrar essas regras?

Jimin apenas assentiu.

-Então agora eu sou útil pra você?

Jimin olhou para o teto e Jungkook não conseguia ler aquela reação. Parecia impaciência, mas não entendia exatamente porque.

-Kookie, eu nunca quis que você viesse pra cá e vivesse assim.

-Então eu sou a sua única vítima? - Jungkook tinha um olhar desafiador e um tom insolente – Antes de mim você não se alimentava de mais ninguém?

-Nós temos um código, Jungkook. Não é porque achamos que somos melhores do que os outros, mas porque nos ajuda a sobreviver também. Os hyungs fazem questão que os mais novos andem na linha porque, segundo eles, as regras deles são o que há de melhor para todos nós. É por isso que estão furiosos com o que fiz. Mas também não te deixam ir porque não confiam que você ficaria quieto depois do que viu e ouviu. É uma regra antiga.

-Você e o tal Taehyung falavam de mim como um pedaço de carne. – Jungkook se referia ao momento em que passara de convidado a prisioneiro daquela casa e Jimin parecia ter entendido a referência - Como é que eu não iria me assustar e querer fugir?

-Exatamente, Kookie. É porque pra nós, vocês são mesmo pedaços de carne. Nossa sobrevivência. E é por isso que temos nossas estratégias para caçar e sobreviver. Vocês também têm as de vocês e nós entendemos como vocês funcionam. Pra que sua espécie sobreviva, vocês espalham as notícias de predadores, trabalham em grupo também. Vocês foram se sofisticando e agora espalham isso pela internet, mas no fundo as notícias têm o mesmo intuito de antigamente: fazer o maior número de indivíduos iguais a vocês se manter vivo. Nenhum de vocês ficaria calado quando descobre que alguém vai supostamente mata-los e é por isso que nossa regra é que se alguém descobre o que somos, vira alimento também.

Jimin encerrou seu discurso, mas não parecia muito certo do que havia dito, então acrescentou.

-Ou pelo menos é isso que os hyungs dizem sempre.

Jungkook bebeu um pouco da água que Jimin trouxera junto ao jantar. Jimin tinha razão. Mas agora o mais novo estava curioso o suficiente para não adiar mais a pergunta que ele mais precisava fazer.

-Você fala de nós, humanos... Então, você não é um ser humano?

Jimin apenas olhou nos olhos do outro levantando as sobrancelhas e Jungkook entendeu aquilo como uma confirmação de suas suspeitas. Não, Jimin não era humano. Jungkook engoliu em seco antes de fazer a pergunta que lhe daria a exata resposta que ele já não sabia mais se queria ouvir.

-Então, quem é você... Não, não quem é você. Acho que a melhor pergunta seria: o que é você?

-Eu me chamo Park Jimin. Sou um dançarino, ou pelo menos era. Agora eu faço parte de um grupo que faz investimentos na bolsa de valores.

Jungkook fez menção de contestar aquela resposta, mas Jimin se adiantou ao protesto.

-Eu poderia ter dito isso, caso tivéssemos nos apresentado formalmente na noite em que nos conhecemos. E não deixa de ser verdade. Mas essa não seria toda a verdade.

-Qual é a verdade toda, então?

Jungkook recomeçou a comer, mas seus olhos estavam o tempo todo atentos a Jimin.

-Eu realmente fui um dançarino. Até que me transformei no que sou.

Jungkook pousou a colher, sentindo algo entre impaciência e ansiedade.

-E o que você é?

Jimin tinha um sorriso irônico no rosto, que logo se desmanchou em curiosidade.

-O que você acha que eu sou, Kookie?

Jungkook engoliu em seco e retomou a colher, ainda sem usá-la.

-Um... vampiro?

Jimin engoliu em seco também, amargo.

-Eu detesto esse nome. Mas não posso negar que eu seja algo muito próximo disso.

-Como é que...?

-Vou te contar minha história, como me transformei e como nosso corpo funciona, Kookie.

Jungkook levou a última colherada de arroz à boca e se virou completamente para Jimin, para que pudesse ouvir aquela narrativa atentamente.

-Mas vou te contar na próxima vez que vier. Já estou aqui a tempo suficiente e não quero chamar a atenção dos hyungs para o que acontece nessa cela.

-Você não está me enrolando, está?

-Kookie, agora eu é que preciso de você, então não faria isso.

-Eu quero sair logo daqui!

-Você vai, Kookie! Mas você precisa se recuperar primeiro. Ainda está magro e deve estar fraco, embora já tenha um tempo que eu não me alimento de você, e preciso que você esteja forte como antes ou mais. Até lá, teremos várias refeições para que eu conte minha história, responda suas perguntas e ainda explique meu plano.

Jimin pôs-se se pé e recolheu a bandeja com a louça e os talheres que o outro havia usado. Entregou a Jungkook um pacote com alguns comprimidos e tubinhos plásticos de vitaminas e Jungkook entendeu que deveria tomá-las. Jimin esperou até que ele o fizesse.

-Hyung – Era a primeira vez que Jungkook chamava Jimin daquele jeito em muito tempo. O silêncio entre os dois demonstrava o valor daquele momento. A ponte entre eles, destruída pela prisão, começava a se reconstruir. – Eu estou confiando em você. Mas não vou fazer o que você quer se não concordar com a sua proposta. Por favor, não me iluda.

Jimin olhou nos olhos do outro com seriedade. Com a mão livre, tocou o topo da cabeça de Jungkook, entrelaçando os dedos entre os fios de cabelo compridos do outro.

-Eu não estou te iludindo nem mentindo pra você. E prometo não fazer mais.

Jungkook sentiu naquele toque a sinceridade do outro. Havia também uma sensação de determinação no mais velho. A confiança em quem o prendia cresceu.

Noites vivas - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora