22. Opções

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-Então é assim que vocês se transformam.

Jimin assentiu com o semblante neutro.

-E você quer que eu me transforme também?

Jimin observava a sopa ainda fumegante na frente de Jungkook, que já estava pela metade.

-Eu não quero que você se transforme completamente. Quero apenas que tome meu sangue para se proteger, e vou precisar usar a sua força para sairmos daqui. Se dependesse de mim, quando chegarmos lá fora, você estaria livre.

Jungkook tocou o pulso do outro para tentar detectar a possível sensação de estar mentindo vinda de Jimin, mas não encontrou nada. Soltou o pulso mas continuou encarando o mais velho. Não precisava tocá-lo para saber que a próxima palavra dele seria iniciada por uma conjunção adversativa.

-Mas...?

-Mas se eu deixá-lo livre, eles provavelmente vão querer te matar. É a nossa lei de sobrevivência. Matamos quem nos conhece e pode revelar nossa identidade.

Jungkook manteve-se em silêncio.

-É por isso que queria que você estivesse forte, são e consciente para decidir o que quer, Jungkook. É a única forma de te proteger pra que você saia vivo daqui. Se você morrer, vai acordar com um corpo novo, que vai viver pra sempre.

-Eu não sei se quero ter que me alimentar de humanos, deixar de ver a luz do dia, viver mais do que as pessoas que eu amo... – Jungkook argumentou, sincero.

-Eu acho que vale o risco. Você pode também morrer aqui, se desejar. – Acrescentou direto, mas depois amenizou seu tom. - Ou pode ainda se arriscar a sair daqui sozinho e tentar se esconder por toda a sua curta vida humana. Vai ser mais difícil sem mim e eu acho que te devo essa proteção. Vai ser uma forma de me redimir pelo que te fiz passar.

Jungkook calou-se, pensativo, pesando as possibilidades que tinha.

-Não acho que você vá morrer enquanto tiver meu sangue no seu organismo. Vou fazer de tudo para você poder pelo menos tentar voltar pra sua família e pra sua vida.

Jimin tentava soar convincente, mas ele mesmo sabia que não podia garantir que iria cumprir aquela promessa.

-Você vai ter a mesma chance que eu tive. E pode já escolher de antemão o que vai querer caso você comece a se transformar em um de nós, antes que você perca o controle como eu fiz.

-Você teria feito diferente?

Jimin abraçou as próprias pernas.

-Claro. Eu não queria matar ninguém. Até me controlar, fiz muitas vítimas, porque, bem... eu estava em um estado em que minha mente não tinha muito domínio das minhas ações.

-Não parece ter sido culpa sua, e sim uma consequência das coisas que aconteceram com você.

-Eu sei... – concordou Jimin, triste. – Eu devia ter escolhido antes se queria viver pra sempre ou morrer. Os hyungs teriam me mantido preso até que eu morresse, sem completar minha transição. Eu não teria feito nada daquilo e além desse arrependimento específico, eu não precisaria passar pela angústia de continuar vivendo, o que, na época eu não queria. Eu não queria mais viver, mesmo se fosse a minha breve vida humana. Eu não tinha mais ninguém no mundo...

-E agora, - Jungkook interrompeu com curiosidade - você quer?

-Eu estou cansado da existência, Jungkook. E é por isso que eu continuo me misturando aos humanos e me consumindo como vocês fazem. Já não uso descontroladamente drogas ou bebidas, me basta o prazer que me alimentar me causa. E também, nos momentos que passo com vocês, me divertindo, vocês esquecem como a vida de vocês é breve e limitada e eu me esqueço como a minha vida é longa e... infinita. Às vezes, nesses longos anos, encontro alguém ou alguma coisa que me faça me sentir vivo de novo. – Jimin parou e tocou o rosto de Junkook, mas ao notar que aquele toque havia sido inesperadamente carinhoso, recuou e deixou sua mão descer pelo braço dele, segurando agora a mão do outro. Continuou com a voz fraca - Dançar com você foi uma dessas coisas. Eu protejo essas pessoas que me fazem me sentir assim o máximo possível, embora saiba que a vida delas é frágil e breve. Logo vou ver você partindo, se você puder voltar à vida humana normal. Mas ainda assim, eu quero te tirar daqui nem que seja pra te ver vivendo um pouco mais. Se você quiser, é claro.

Através daquele toque, Jungkook compartilhava da ternura e desejo de proteção de Jimin. Seu próprio coração começou a se acelerar com a emoção daquela esperança de viver, mas ela trazia consigo a agonia de uma decisão difícil. Jungkook sempre desejara viver ao máximo. Até seu momento de revolta contra o encarceramento que lhe fora imposto, nunca em sua vida lhe havia ocorrido que se entregar à morte era uma opção. Nos dias que passara em sua greve de fome, sentia que apenas fazia aquilo porque viver eternamente preso àquele lugar já era uma forma cruel de estar morto. Restava então escolher entre viver para sempre e ver partir seus pais, seu irmão, seus amigos e todos que amava ou se entregar à morte de uma vez. Era a escolha mais difícil que tomava, até mesmo porque nenhuma das opções era simples. Se escolhesse viver para sempre, talvez tivesse que observar sua família à distância. Como é que explicaria a eles que agora se alimentaria de sangue humano, não poderia sair durante o dia e não envelheceria? Caso optasse por tentar escapar e conseguisse se manter humano, talvez pudesse ver sua família por um breve tempo, mas os exporia a um risco, já que estaria sendo perseguido. Por quanto tempo conseguiria sobreviver aos Hyungs que estariam à sua procura com a intenção de matá-lo? Sua causa de morte nem sequer seria revelada por uma investigação, já que não carregaria marca alguma que explicasse a causa de sua morte. Sua família ficaria desolada pela incompreensão e sensação de injustiça, mas ao menos o veriam mais uma vez antes de morrer. Aparentemente era impossível derrotar aqueles homens, e não havia nenhuma forma de garantir que conseguiria escapar deles e voltar a uma vida comum.

Jimin lia a expressão confusa e desolada do outro.

-Não precisa decidir agora, Jungkook. Você tem tempo para pensar.

-Se eu escolher viver eternamente, o que os outros vão fazer? Vão me aceitar para ficar com vocês?

-Você é o ser humano mais forte que eu já vi. Os hyungs vão querer mantê-lo por perto. Em especial nessa temporada que estamos passando na Coréia, onde temos alguns possíveis inimigos, como você ouviu.

Jungkook terminou o restante da sopa, já quase fria, acrescentando mais este fator às considerações que devia levar em conta para se decidir. Imaginava-se tendo que viver como uma espécie de cão de guarda dos mais antigos, mas pelo menos estaria vivo. Pousou os olhos no homem à sua frente, a única pessoa em que podia tentar confiar. Jimin definitivamente não era digno de confiança cega. Embora dissesse que se sentia vivo dançando com ele, embora tivessem feito sexo e embora Jungkook pudesse sentir quando era tocado por ele que o outro sentia uma atração física e até mesmo emocional por seu prisioneiro, aquilo não era garantia de que teria o mínimo de amparo futuramente.

-E você? O que você vai fazer se eu me transformar?

Jimin se surpreendeu com a pergunta, mas depois de uma gargalhada, respondeu com uma outra pergunta irônica, num tom de voz desesperançoso.

-Você dançaria comigo eternamente?

Noites vivas - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora