Noites vivas - Jikook

50. Reencontro

Jungkook parou imediatamente o que estava fazendo e se perguntou o quanto Jimin sabia sobre sua volta à Coréia. Aquilo tinha a ver com Danbi? Ele sabia que estava com Hyewon? Sabia quem ela era? Caso Jimin quisesse atacá-lo, não podia entregar sua conexão com a sobrinha e exibir aquele ponto fraco. Ao mesmo tempo, queria imediatamente correr até o quarto dela e descobrir se estava bem. Colocou-se na defensiva, extremamente atento ao outro e tomando cuidado com os próprios movimentos e palavras. Não queria se esconder, mas também não havia planejado encontrá-lo, ou no mínimo pensava que não o veria tão logo chegasse em Seoul. Agora, contra sua vontade, tinha que encará-lo.

Saiu do carro, notando que embora Jimin ainda tivesse a mesma aparência, haviam mais algumas mechas de cabelo prateado em sua cabeça. Vinte anos haviam se passado e ambos ainda eram praticamente os mesmos, visualmente, mas seus interiores estavam muito diferentes do que costumavam ser quando conviveram. Essa mudança interna Jungkook não podia ver. Mesmo percebendo que na verdade Danbi se apoiava em Jimin, e não o abraçava, porque havia se desequilibrado, ele continuava na defensiva, assistindo a interação entre eles. Agora ela falava com ele sobre o casal no carro, perguntando se ele já havia jantado. Jimin sorria ao recusar o convite implícito nas falas desconexas dela, sorrindo gentilmente. Embora desse atenção à Danbi, seus olhos não saíam de Jungkook. Danbi foi voltando a se equilibrar sobre os saltos e finalmente deu à volta na porta, parando ao lado de Jungkook que havia saído do carro e permanecia estático, encarando Jimin de volta.

-Você já...? – Ela perguntou a Jungkook se referindo ao casal inconsciente no banco de trás.

-Eu não vou me alimentar agora, obrigado.

Mesmo que sentisse que estava mais sóbrio ao vê-lo, se surpreendeu com a própria voz, tão dura. Ele não sabia exatamente o que sentia por Jimin naquele momento, mas não queria mais vê-lo. Danbi não se deixou intimidar pela postura firme dele e ignorou Junkgook, empurrando-o para o lado para se alimentar.

-Eu vou para a garagem, já está quase amanhecendo. – Ela disse com um sorrisinho entre a malícia e a brincadeira, fechando a porta e abrindo a janela para terminar de falar: – Boa conversa pra vocês, eu vou jantar!

Assim que a janela se fechou novamente e o carro começou a andar, Jimin a viu se debruçando sobre o casal, mas logo voltou seu olhar a Jungkook. Ele tinha os olhos brilhando. Não sorria, mas tinha feições leves. Nem assim, Jungkook relaxou. Jimin podia entendê-lo.

-E-eu... Desculpe, eu não queria exatamente ter que encontrar com você.

-Então – A voz de Jungkoook continuava agressiva, e ele tinha os punhos fechados. - o que está fazendo aqui?

Jimin deu um passo à frente, o corpo encolhido, tentando demonstrar o máximo possível que se aproximava não para um ataque, mas apenas para estar mais perto do outro, que recuou um passo, mantendo a distância entre os dois.

-Eu só queria te ver. – Jimin disse, respeitando o espaço que Jungkook havia pedido com aquele gesto.

-Pra que? Porque?

-Eu sabia que você não ia querer falar comigo. – Jimin olhou para baixo. Podia imaginar como Jungkook se sentia, a julgar pela última vez que se viram – Então só vim te ver mesmo.

-Pra que? – Jungkook repetiu, mais nervoso ainda.

Não é que Jimin não achasse que Jungkook estava bem. O mais novo havia sobrevivido a coisas piores, das quais ele se envergonhava de ser um dos responsáveis. Pelo que sabia, ele havia vivido com a família durante esses anos, e portanto, devia ter se reconciliado com eles, como desejava nos tempos em que andaram juntos. Sabia que Jungkook era esperto e devia estar vivendo bem. Também não importava a Jimin o que ele viera fazer em Seoul de novo. No entanto, assim que soube, quis vê-lo. Era tudo que queria fazer, porque já aceitara o fato de que Jungkook provavelmente nunca mais iria querer falar com ele ou os hyungs. Queria vê-lo apenas por egoísmo, porque ele sabia que se sentiria bem em ver novamente aqueles olhos grandes e redondos que uma vez haviam se mostrado a ele de maneira inocente e curiosa. Não esperava ver os cabelos dele ainda maiores do que a última vez que se viram, mas ele estava ainda mais bonito, forte e embora conservasse exatamente a mesma aparência, agora já não se parecia mais um menino e sim um homem. Agora que estava diante dele, ouvindo suas palavras secas e vendo sua postura defensiva doía-lhe pensar que não veria o que mais esperava nele: O sorriso. Talvez se tivesse se escondido, pudesse vê-lo sorrindo para o casal após se alimentar ou fazer o que quer que estivessem fazendo no banco de trás daquele carro. Talvez o visse sorrindo, embriagado, enquanto conversava com a amiga. Mas não veria aquele sorriso direcionado a ele, nunca mais. Não sentia que nada do que pudesse dizer iria fazer Jungkook baixar sua guarda. Então, só lhe restava ir embora.

-Eu já vou embora, Jungkook, não se preocupe. Realmente não vim incomodar.

Jungkook relaxou um pouco, mas ficou parado. Jimin caminhou em direção à Jungkook, para chegar à rua, onde pediria um taxi. Passou pelo mais novo acompanhando com o canto do olho o homem que permanecia no mesmo lugar, tenso, esperando até que Jimin tivesse ido embora para se mover.

-Jungkook, - sua voz saiu fraca – me desculpe. Por tudo que fizemos com você, com Danbi...

Jungkook se lembrou do que Danbi havia dito a ele antes. Jimin não só havia pedido desculpas a ela, como a havia reparado por quase matá-la e usá-la. Jimin também havia pedido desculpas a ele, ainda naquela época, por tê-lo aprisionado. E ainda assim ele não havia aprendido e repetira aquele tratamento que dera a ele com outro ser humano. Agora Jungkook não se interessava em ouvi-lo, porque imaginava que ele voltaria à ideia de usar humanos como objetos descartáveis na primeira oportunidade que tivesse.

-Só se desculpar não adianta muito – Jungkook se virou, encarando-o novamente. Agora já não estava mais com tanta raiva, mas conservava-se sério – se você continuar voltando a ser indiferente com os humanos na primeira oportunidade em que aquilo for conveniente para você. Você também já foi um humano, ou já se esqueceu? Iria gostar de ser tratado como você os trata?

-Tratava. Eu sei, eu errei. Muitas vezes. – Os olhos de Jimin brilhavam ainda mais - Mas porque nada importava pra mim até então. Mas eu mudei. Vivi todos esses anos de forma diferente, pode acreditar. Não trato mais ninguém daquele jeito.

-Eu não acredit...

-Não precisa acreditar, Jungkook. E nem vou insistir em te convencer. Eu só quero que você siga a sua vida enquanto eu sigo a minha. – Jungkook percebeu que o brilho nos olhos de Jimin eram na verdade lágrimas, que agora escorriam silenciosamente por seu rosto - Você nunca mais vai precisar me ver. Mas ainda assim, achei que era importante te pedir desculpas, de novo, já que você acabou me vendo.

Jimin baixou o olhar, deu alguns passos para trás sem se virar, até que Jungkook voltou para o hotel. Quando o perdeu de vista, finalmente se virou, secando as lágrimas, e atravessou a rua para pegar um taxi.