Daniel
Eu não sei como havia conseguido chegar no escritório. Eu me sentia totalmente perdido. Assim que cruzei a porta nem Kelly conseguiu ficar indiferente ao meu estado.
Ela me perguntou o que houve, mas eu não conseguia expressar nada que fosse coerente. Só pude perceber um pouco do que estava acontecendo ao meu redor quando a minha secretária já me puxava pelos braços na direção da copa, me deixando de frente para uma das cadeiras e estendendo um copo d'água para mim em seguida.
Eu me sento na cadeira e pego o copo d'água, bebendo um gole dele enquanto as lágrimas voltam a cair sem controle pelo meu rosto. Tento focar minha atenção na garota ao meu lado, mas é extremamente difícil. Seus olhos revelam surpresa assim que consigo olhá-la um pouco.
— Você me espera um pouco? Vou remarcar os seus clientes de amanhã.
— Claro! Infelizmente não tenho condições de ver ninguém agora. Você é a única pessoa que quero a presença neste momento. — Eu me forço a dizer, perdido em meus pensamentos, sem olhar para ponto algum.
Eu tentava encontrar uma luz no fim do túnel, uma forma de consertar a merda que era a minha vida. Mas nada vinha a minha mente, nenhuma solução. Pus as mãos na cabeça sentindo-a latejar. Até que senti um toque suave em meus ombros, tão gostoso que foi capaz de me tirar dos meus devaneios.
— Terminei. Marquei a maior para o final da semana. Espero que esteja melhor para atender os clientes da tarde ou teremos problemas na agenda. — Ela diz sorrindo e eu só consigo pensar em como o seu sorriso é lindo.
— Pelo menos acho que isso significa que sou bom em alguma coisa. Sou um bom advogado.
Kelly se senta em uma das cadeiras a minha frente e me olha com atenção, acho que procurando as palavras certas para dizer
— Deve existir algo mais em que você seja bom.Vamos lá. Me diga algo...
— Acho que não sou bom em mais nada. Bom talvez eu seja bom em ser a vergonha da minha família. — Eu abaixo a cabeça, me sentindo extremamente cansado.
— Nossa! Não é possível. Tem que haver algo, Daniel. — Ela fala já estendendo a sua mão para mim. Ela ergue o meu queixo, fazendo com que eu a olhe. E ao fazer isso eu só sinto vontade de chorar mais, eu não mereço que uma garota tão doce como ela esteja aqui, me consolando, preocupada comigo.
— Eu não sei o que dizer ou que pensar. Minha irmã me odeia por causa de atitudes irresponsáveis que tive no passado. Por mais que eu faça de tudo para ser alguém melhor, hoje sinto que nunca conseguirei mudar isso. — Isso é tudo que eu consigo falar em meio às lágrimas que inundam meus olhos. Eu faço um carinho em suas mãos, como forma de gratidão por ela estar aqui comigo, por me ouvir.
Sinto ela afastar as nossas mãos e se levantar da cadeira com as bochechas coradas.
Merda, você faz tudo errado, né daniel? Deixou a menina sem jeito. Droga.
Eu grito internamente, com ainda mais raiva de mim mesmo. Mas meus pensamentos são interrompidos pela coisa mais maravilhosa que eu poderia ter agora. Pelo abraço de Kelly que me levam a fechar os olhos e a aperto mais, desejando que aquela sensação de paz dure para sempre. Eu me afasto um pouco para encará-la, tentando demonstrar o quão grato sou por aquilo
— Você é maravilhosa! Como posso agradecer por este abraço? — Pergunto baixinho.
— Só de você estar melhor, eu já me sinto bem. Não é como se eu fosse cobrar desvio de função só para te fazer se sentir melhor.
Ela me responde com aquele seu jeito brincalhão que me deixa encantado. É realmente impressionante a capacidade que ela tem de deixar tudo mais leve, com seus sorrisos, com suas brincadeiras.
Kelly passa as mãos pelos meus ombros e pescoço, parando em meu rosto. Seca o resto das lágrimas que ainda haviam ali, dando um beijo em minha testa em seguida.
Fecho os meus olhos novamente, tentando controlar meu corpo que reage a ela de forma assustadora.
— Você quer conversar sobre isso? Talvez falar ajude a descarregar as sensações ruins que há em você. É necessário se deixar sentir, Daniel. — Ela me traz de volta para si, fazendo carinho em meus cabelos, fazendo com que fique ainda mais difícil para manter o meu alto controle. — Se perdoar também é necessário...
— Você conseguiria falar sobre as coisas ruins que te afligem? — Ela fica sem saber o que responder como eu já imaginava, então eu concluo o meu raciocínio. — Viu, falar é necessário, mas nem sempre é fácil e está tudo bem por isso. Não vamos estragar este momento com coisas ruins do passado.
Eu me aproximo novamente, tentando manter essa sensação de paz por mais tempo. Kelly olha intensamente para os meus lábios, fazendo com que eu queira me afastar para não fazer nada de errado. Mas isso se torna impossível quando sinto os seus lábios pedindo passagem para os meus, e eu dou.
Eu fecho os olhos ao sentir o seu beijo maravilhoso. Naquele instante é como se eu não tivesse nada de ruim em minha vida, como se os problemas sumissem completamente. Só o que existia ali era eu e ela, nossas línguas duelando ferozmente, dois corpos quentes, se desejando.
Kelly cola mais o seu corpo no meu arranhando as minhas costas de leve, me deixando arrepiado e excitado, fazendo com que sentimentos que sempre tentei controlar venham com tudo. Me tirando o discernimento, a razão.
Massageio e aperto os seus mamilos por cima da roupa. Com isso, Kelly se afasta um pouco, mas seus olhos continuam fixos em mim cheios de desejo. Parece que o desconforto que ela sentiu com o meu toque faz com que a razão volte para mim instantaneamente. Eu afasto os nossos corpos devagar.
— O que foi? Por que parou? — Ela me pergunta com um misto de surpresa e vergonha em seus olhos.
— Porque se eu não parasse agora, faria coisas que eu sei que você não quer. E eu nunca farei isso com você.
— Me desculpa. — Ela diz baixinho abaixando a cabeça.
— Não há motivos para se desculpar, Kelly. Está tudo bem. — Agora sou eu quem está erguendo a sua cabeça.
— Você é o único homem que consegue me fazer sentir bem com essas coisas, Daniel. E eu não quero que isso acabe. Eu só preciso que você tenha paciência comigo. — Ela fala com certa tristeza em sua voz.
Demoro alguns segundos para processar o que ela me diz, mas naquele momento eu soube que ela era a única pessoa que talvez pudesse curar os meus traumas e eu tentaria curar os dela. Então eu disse a única coisa que eu deveria dizer, o que eu realmente sentia.
— Claro. Eu terei toda a paciência do mundo com você, porque eu também preciso de paciência.
— Então acho que podemos fazer isso dar certo junto, né? Do nosso jeito, no nosso tempo.
— Sim. Do nosso jeito, no nosso tempo. — Digo dando um selinho em seus lábios e fazendo um carinho em seu rosto.
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Marcas do Passado
RandomDaniel e Kelly, dois corações machucados e marcados para sempre pelo passado de cada um. Será que o amor pode uni-los e cicatrizar as marcas que o passado deixou? Venha ler e embarcar nessa história com muito drama e romance. **** Atenção, essa hist...