Capítulo 17

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Daniel

A minha cabeça girava constantemente, eu me sinto tonto, enjoado, a sensação que tenho é de que vou desmaiar a qualquer momento. Minha visão fica ainda mais escura a cada segundo. Não sei quantos se passaram até que eu não consigo mais ver nada a minha frente, pensar está ainda mais difícil.

Tento pegar o meu celular para chamar um táxi,ou avisar a minha mãe, mas meu corpo não me obedece. Sinto o impacto da cadeira virando e o contato forte do meu corpo com o chão...

Assim que recupero os sentidos ouço vozes ainda um pouco afastadas que vão ficando mais claras, aos poucos.

Tento abrir os olhos, para me situar melhor do que está acontecendo, mas não consigo. Ainda me sinto tonto e enjoado demais.

Me mexo devagar e sinto uma dor forte em algum lugar do meu corpo que por conta da confusão enorme em minha mente, nem consigo dizer ao certo onde é.

— Não se mexa moço, por favor. Você consegue me ouvir? Entende o que estou falando?

Ouço uma voz fazer estas perguntas calmamente, e eu apenas aceno levemente como resposta.

— Sabe me dizer o seu nome? Onde estava antes de desmaiar?

Me sinto confuso, preciso pensar por algum tempo antes de encontrar as respostas em minha mente.

— Meu nome é Daniel. Eu estava em meu escritório, antes. — Respondo quase inaudível para mim, ao mesmo tempo em que finalmente consigo abrir os olhos devagar.

Ao olhar a minha volta revejo a cena que já ocorreu várias vezes na minha vida durante os últimos 10 anos. Uma equipe de paramédicos imobilizando o meu corpo, realizando os primeiros socorros antes de me colocarem em uma ambulância.

— Certo Daniel, tá tudo bem ok? Fique tranquilo. Nós te levaremos para o hospital apenas para fazermos os exames de rotina para ter certeza de que realmente não há nada demais com o senhor.

Confirmo que eu estou entendendo o que a moça, que suponho ser uma enfermeira, me dizia.

Sinto o meu corpo ficar mole novamente e não consigo pensar em nada coerente mais uma vez. A última coisa que invade o meu cérebro é um sorriso lindo e olhos quase iguais aos meus me olhando fixamente e mais nada.

Quando acordo sinto que estou deitado em uma cama, demoro um pouco para me lembrar do que aconteceu e saber onde estou..

Dessa vez não sinto tanta dificuldade para abrir os olhos e a cena que vejo me faz pensar que estou delirando que devo ter batido a cabeça muito forte para estar vendo aquilo.

— Katherine? É você? — Pergunto para ter certeza se o que vejo é mesmo real. Ela se mexe na ponta da cama e se aproxima um pouco mais de mim, devagar.

— Demorou para acordar em? Os médicos disseram que não havia nada que eles pudessem fazer a não ser esperar que o seu cérebro resolvesse reagir e querer acordar. Mas dessa vez acho que demorou mais tempo, porque a mamãe já está muito preocupada.

— Apenas estresse emocional de novo não é? — Eu pergunto já sabendo a resposta.

— Na verdade não, você quebrou uma costela quando caiu de algum lugar, mas nada que explique o fato de você ter ficado desacordado por 3 dias, além do estresse emocional mesmo.

Enquanto ela fala eu a observo atentamente. Suas expressões se mantém neutras, quase frias, mas eu posso jurar que ela não está tão indiferente quanto tenta demonstrar, ou ela não estaria aqui sentada ao meu lado na cama.

Constatar isso até me deixa feliz nesse momento, e este sentimento é tão bem vindo em meio ao caos que se tornou a minha vida.

— Fico feliz que esteja aqui Katherine. — digo sentindo uma certa dificuldade para falar.

— Eu senti que precisava vir, além do mais se não viesse acho que a mamãe diria que sou completamente sem coração.

— Eu sei bem que você não é Kath. Você tem todas as razões do mundo pra sentir muita raiva de mim, porque eu deixei de ser o seu herói, a referência mais próxima de um pai que você tinha. Eu prejudiquei toda a sua vida com aquela merda que fiz. Você não tinha culpa de nada, mas acabou pagando o preço pelos meus erros junto com a mamãe. Eu espero do fundo do meu coração que você possa me perdoar um dia.

Eu sentia a necessidade de dizer mais coisas, mas eu não consegui. As palavras simplesmente sumiram da minha mente enquanto as lágrimas inundavam meus olhos cada vez mais em um choro doído, cheio de sentimentos que eu preciso colocar para fora de alguma forma.

Sinto que não conseguirei aguentar tudo isso.

Eu desejo tocá-la, abraçá-la forte para tentar ter algum sentido para a minha vida. Mas devo me conter, esperando que ela fale tudo o que quiser, que ela se aproxime por vontade própria e que me abrace.

— Infelizmente não podemos mudar o passado Daniel. Tudo já aconteceu e está irremediavelmente escrito em nossas histórias. A única coisa que podemos fazer é escrever o futuro de uma forma diferente. E por mais que para mim seja difícil admitir isso você está buscando escrever o seu futuro de um modo diferente, melhor, enquanto eu estou fazendo o oposto, deixando de ser a irmã doce que eu era, dando lugar a uma amarga, fria, cheia de ódio e eu sinto que não posso continuar assim porque parece que estou perdendo parte da minha essência neste mar de sentimentos ruins sabe?

Penso em dizer que o que ela sente é totalmente normal e compreensível, que não é errado. Mas antes que eu possa dizer qualquer coisa ela continua.

— Não estou dizendo que já não sinto nenhuma mágoa de você, porque se eu dissesse isso eu estaria mentindo. O que estou dizendo é que quero tentar te ver de verdade entende? Eu quero poder concluir que você é uma pessoa melhor hoje, e quem sabe assim recuperar  algum tipo de relação entre nós.

Ao ouvir aquelas palavras eu sinto como se parte de mim renascesse nesse exato instante, como se eu já não estivesse tão morto quanto eu me sentia até agora.

Katherine se aproxima mais, abrindo os braços e me abraçando timidamente, devagar. Agora não consigo mais pensar em nada, apenas deixo que essa sensação maravilhosa tome conta de mim, que todo o amor que eu guardei durante estes anos seja dado agora, neste abraço. E então eu retribui, tentando gravar cada parte do momento em minha mente, desejando que durasse para sempre aquilo, eu minha irmã e o amor, puro, fraterno, sublime..

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora