Capítulo 39

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Kelly

Eu abro os olhos lentamente tentando me orientar no ambiente. Demoro alguns segundos até me lembrar onde estou. Não tenho tempo para continuar pensando, meus devaneios são interrompidos pelo barulho da porta se abrindo e revelando um André preocupado ainda do lado de fora do quarto.

Faço sinal para que entre e ele obedece se aproximando de mim lentamente.

— Como descobriu que estou aqui. — Sussurro, demonstrando toda a tristeza e angústia que estou sentindo agora.

— Encontraram o seu celular na bolsa e ligaram para o último número que você discou nele  e eu estou aqui.

  — Como está o bebê, você já sabe de alguma coisa? E minha mãe como ela está?

— Calma Kelly, está tudo bem com você e com o bebê. Você foi sedada porque precisava ficar calma e em observação por um tempo. Mas se você estiver bem logo já irá para casa, então não se preocupe, não contei tudo o que está acontecendo para a sua mãe, disse apenas que você teve um mal estar e precisou ir para o hospital por precaução, mas que já está tudo bem e logo você iria para casa. Eu disse que ficaria com você até que os médicos fizessem os exames e a liberassem.

André segura a minha mão e fazendo carícias nela.

— E como está o Daniel? Você ficou sabendo o que aconteceu

— Só fiquei sabendo que ele também está aqui e foi atropelado. Ele também está em observação. O que aconteceu? — Ele me encara desconfiado.

— Eu decidi conversar com ele sobre o bebê. Foi um erro, como eu já imaginava. Não deu nada certo e só teve essa droga de atropelamento como resultado.. Eu devia ter imaginado que não adiantaria a gente conversar... Eu não deveria ter aceitado e aí nada disso teria acontecido... — A angústia se forma em minha garganta, me arranca lágrimas de desespero. — Nós não teríamos discutido, eu não sairia correndo feito uma doida e Daniel não teria sido atropelado... Isso só aconteceu por minha causa, eu fui irresponsável... Eu tinha que ter sido atropelada, mas ele me salvou. Falo com as lágrimas banhando todo meu rosto.

— Kelly, calma! — André me faz sentar na cama do hospital e me abraça devagar. Seu tom de voz muda, como se estivesse com medo de me fazer quebrar. — Você está sentindo alguma dor?

— Não. — Sussurro.

— Não é sua culpa, certo?  Ele continua, segurando meu rosto e me fazendo encará-lo. — Foi errado sair correndo e quase ser atropelada? Foi, óbvio! Mas ele quem decidiu entrar na sua frente. Não tome essa culpa para si, pois Daniel é lúcido o suficiente para arcar com os próprios atos.

— Eu sei, mas ele só fez isso porque não queria que eu e o bebê fossemos atropelados. Ele achou que a sua integridade física não era mais importante que a nossa. Ele não queria de bom grado ser atropelado, André. —  Digo me aproximando,  colando meu corpo ao dele.

Apesar de discordar do que ele disse eu não sinto vontade de me afastar dele. Eu preciso desse contato com ele e da sensação boa que o seu abraço me traz.

— Continuo discordando. — André me aperta um pouco mais. — Ninguém quer ser atropelado de bom grado, mas não é padrão se jogar no lugar de outra pessoa. Não fica pensando que é sua culpa. Isso vai te fazer mal e vai fazer mal ao bebê.

Sinto seu beijo em meus cabelos, seu abraço reconfortante e suas palavras de consolo.

— Talvez eu fizesse a mesma coisa se estivesse no lugar dele. —  Me afasto devagar, mas ainda mantenho meu olhar no dele. — Ou talvez não fizesse. Não temos como ter garantia de nada. Talvez eu fizesse o mesmo que Daniel, talvez eu entrasse em pânico, congelasse e assistisse tudo sem conseguir me mexer. Não dá para ter certeza.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora