Marcas do Passado

Capítulo 28

Kelly

A terça-feira se inicia. Dia de mais uma consulta para saber como está o meu bebê aqui dentro. Acabei de completar 2 meses e já começo a me sentir ansiosa, para saber o sexo e para ter essa coisinha em meus braços.

A cada dia que passa sinto que estou aceitando melhor a minha gravidez. Já até me sinto feliz ao receber os primeiros presentes para o bebê. Claro que são da minha mãe e de André, que estão parecendo dois bobos com a chegada de uma criança. André me diz que quer ser o padrinho, porque nunca se sentiu tão apegado a uma criança que não fosse da família.

Sorrio sozinha ao me lembrar dele conversando com o meu filho em minha barriga, eu sempre acho essa cena muito divertida de ver. É claro que o que ele sente é apenas um enorme carinho. Ele nunca sequer tentou roubar o lugar que seria do pai na vida do meu filho, muito pelo contrário, ele vive insistindo em dizer que Daniel foi um canalha comigo, mas que ele é o pai e tem direito de saber pelo menos como anda a gravidez.

Inclusive em nossa última conversa ele tocou nesse assunto mais uma vez.

Flashback on

— Sabe que a ultrassom é na semana que vem, ainda quer me acompanhar?

Eu perguntei enquanto saboreamos um bom sorvete em uma sorveteria na frente da farmácia onde eu trabalhava.

— Sim! Eu vou adorar, mas a sua mãe não irá te acompanhar mesmo?

— Não. Ela ainda não se sente totalmente confortável com isso e eu não a culpo, afinal eu e ela somos as pessoas que mais sofremos quando Daniel fez aquilo comigo. E na verdade ela não conseguiria me acompanhar nessa consulta, pois uma funcionária está de licença maternidade e o mercado ainda não conseguiu uma substituta, então a minha mãe não conseguiu liberação dessa vez.

— Entendo.. e por falar em Daniel você não pensou no que eu te disse? Você não precisa permitir que ele te acompanhe nas consultas, mas você poderia enviar as imagens da última ultrassonografia para ele ver. Se você me autorizasse eu deixaria na porta da sala dele. O que acha? — me perguntou e olhando com aquela cara de pidão. Me contive para não rir, já que tenho que me manter firme e séria.

— Denovo isso? Eu devia te dar um prêmio por ser tão insistente assim. Vem cá, imagina se fosse com alguém da sua família — falo sem pensar. — Você diria para sua irmã enviar as imagens do bebê dela para o pai?
"Merda!"

Eu grito internamente assim que concluo a frase ridícula. André olha em meus olhos, mas mantém a expressão neutra.

— Bom, digamos que a minha irmã não teve uma relação regada a champanhe e brindes com desejo de um feliz aniversário para o pai do bebê então não.. eu acho que não pediria isso a ela. Mas se ela quisesse eu não a impediria, inclusive eu a admiraria ainda mais por ser tão iluminada.

— Me desculpa por favor.. eu não devia ter dito isso, é que tocar nesse assunto me deixa um pouco nervosa. — Digo abaixando a cabeça me sentindo muito envergonhada pelo que eu disse.

— Não se preocupe Kelly, eu compreendo. Eu só quero dizer que pelo que me contou vocês tiveram uma relação totalmente consentida, portanto pelo fato dele não ter te estuprado dessa vez, talvez ele mereça o benefício da dúvida não? E eu não estou dizendo para você perdoá-lo, casar com ele e ter outros filhos como uma família feliz, eu só acho que ele poderia saber pelo menos um pouco sobre a sua gravidez.

— Olha, eu prometo que vou pensar a respeito, e agora vou pensar com carinho eu juro. — Olho em seus olhos enquanto falo. Nós dois sorrimos e voltamos a comer o nosso sorvete, deixando o assunto de lado naquele momento.

Flashback off

As palavras de André naquele dia realmente mexeram comigo, por isso eu estou trabalhando em minha mente a ideia de mandar as imagens da próxima ultrassom para Daniel. Meus pensamentos são interrompidos pelo barulho da campainha. Assim que abro a porta dou de cara com um André sorridente e um buquê de rosas brancas nas mãos.

— Oi! Resolvi trazer flores para a mamãe mais fofa do ano. E é claro que tem chocolate também, porque eu não quero uma grávida muito ansiosa ao meu lado.

Ele gargalha de uma forma tão gostosa que eu não consigo deixar de sorrir também.

— Você é muito esperto, leu direitinho o manual de como ser um ótimo acompanhante para uma mulher grávida — digo enquanto pego as rosas de suas mãos, colocando-as em cima da mesinha de centro da sala. — ficaram lindas aqui! Quando voltarmos eu soluciono a dúvida cruel se deixo aqui ou ponho no meu quarto.

Abro meu melhor sorriso pegando a caixa de chocolate da sacola e pondo na minha bolsa em seguida.

— Vamos? O táxi já está à nossa espera kellinha.

— Claro! Já estou pronta. — eu sorrio divertidamente.

Eu e André saímos da sala da médica falando sem parar eufóricos demais com as novas imagens do meu bebê.

— Nossa! Ele já é quase um bebezinho inteiro em miniatura e tão fofo. — André fala olhando para a imagem pequena no papel.

— Sim, isso é lindo. — Concordo.

— E aí, já decidiu se eu poderei mostrar para mais alguém essas imagens? Eu prometo que se disser que não eu vou respeitar e não tocarei mais nesse assunto. Eu só estou fazendo a minha parte como um bom garoto que sou.

Ele diz, sorrindo abertamente para mim.

— Depois conversamos sobre isso. Agora me deixa aproveitar um pouco mais dessa imagem tão cheia de significado para mim por favor? — Digo sorrindo também.

— Claro mamãe. — André diz me passando o papel em seguida.

Não tenho tempo de me perder olhando aquele papel, pois o telefone toca me tirando do meu devaneio particular. Pego o celular em minha bolsa com a mão livre e atendo.

— Alô — escuto as palavras do outro lado da linha e sinto um suor frio percorrer todo o meu corpo. — Claro, eu já estou indo.

Me limito a responder sem entender direito o que a voz do outro lado da linha tentava me dizer. Assim que desligo o telefone as lágrimas começam a querer cair pelo meu rosto e André se assusta com o meu estado.

— O que foi? — ele pergunta me olhando.

— Precisamos voltar para o hospitalar. — É a única coisa que consigo responder.