Kelly
Três dias se passou desde aquela maldita revelação no escritório de Daniel.
Tudo o que eu tenho feito durante este tempo é pensar nos acontecidos e chorar. Eu fico me perguntando por diversas vezes como não o reconheci, como não liguei os pontos? O fato de que o meu estuprador também se chamava Daniel, também tinha olhos azuis, também tinha ido embora da cidade..
Mas nada disso foi levado em conta por mim. Penso que seja porque Daniel é um nome bastante comum e eu não dei atenção a isso. Nem ao sobrenome porque eu realmente não me lembrava do sobrenome do canalha, só o nome. E o nome completo dele é Daniel Moura Ribeiro.
Nem eu nem a minha mãe nos lembramos do sobrenome, Moura da época do julgamento.
Eu não me culpo por isso, nem a ela. Aquela foi uma época muita dolorosa para que nós nos lembrássemos de todos os detalhes do pior momento de nossas vidas e é claro que eu fui ver fotos de Daniel de 10 anos atrás, porque eu precisava entender como não o reconheci..
Não foi tão difícil encontrar fotos dele ao digitar seu nome no Google junto com o nome da nossa cidade. Na tela apareciam diversas fotos, dele em audiências com matérias que diziam que ele é um advogado promissor.
Em uma dessas matérias falava um pouco mais da vida dele, de sua formação universitária nos Estados unidos. Ao final da reportagem apareceu uma foto dele mais jovem com a seguinte legenda. Daniel Moura, nascido em nossa cidade representava a sua universidade nos jogos de futebol. É ou não um orgulho para a nossa cidade?
Eu sentia cada vez mais raiva enquanto passava as fotos. Eu pensava que aquilo não era justo. Ele era um estuprador, mas nada disso era levado em consideração, muito pelo contrário, ele ainda era popular, era aplaudido.
Quando eu estava quase fechando o celular, um título me chamou a atenção. O fim do julgamento de Daniel Moura, filho da médica Kátia Moura.
Não quis ler a reportagem, fui passando as páginas até encontrar a foto, ele realmente era diferente fisicamente do Daniel atual, e até do que jogava futebol na universidade. Só os traços são familiares. Mas o Daniel daquela foto era magricela, não era encorpado como é hoje. Seu rosto era muito bonito, mas bem mais fino e com nenhum traço visível de barba. Ele ainda parecia uma criança
Nao consigo deixar se o jornal e quem publicou essa materia responderam por isso, ja que daniel era menor de idade quando fez aquilo, portanto sua identidade deveria ser preservada por lei, assim como a sua imagem. Nao me prendo neste pensamento, afinal nada disso importa mais, alem do mais ele mereceu ser exposto por tudo o que fez comigo.
Decidi que não podia ver mais nada daquilo ou entraria em desespero.
— Hey, oi é aqui a recepção. — A voz de André me trouxe de volta a realidade..
— Nossa, eu realmente me distrai. Estava pensando em algumas coisas que nem sabia mais o que estava fazendo. Eu sorri, achando aquilo engraçado.
— Eu percebi kellynha. Da próxima vez não se distraia assim por favor.
Ele também sorri divertido.
— E aí? Não consegui falar com você desde ontem, conseguiu pegar as minhas coisas lá no escritório, ou Daniel já deixou aqui?
— Ah me desculpa é que o meu celular deu um probleminha, mas você não ficou sabendo? O que aconteceu com o doutor Daniel?
Ao ouvir aquela pergunta eu senti o meu peito se apertar e o meu corpo gelar. Tive muita raiva de mim por estar sentindo aquilo.
— Não, o que aconteceu? — Eu pergunto tentando demonstrar um autocontrole que eu realmente não tinha.
— Naquele dia que você saiu daqui ele passou mal, ficou desmaiado e tudo, tinha até ambulância por aqui, foi um caos. Mas eu não sei o que aconteceu depois disso, não tenho contato com ele, só sei que ele não apareceu para trabalhar nos últimos dias. Então não pude falar com ele sobre as suas coisas.
— Tudo bem, podemos ver isso depois. Eu digo buscando controlar o meu peito dizendo para mim mesma que é um absurdo eu me sentir assim por aquele canalha, maldito e idiota. Eu devia apenas odiá-lo, mas não consigo.
— Eu achei que você já soubesse kelly, mas de verdade eu estou até um pouco preocupado, gostaria de saber como ele está, o que aconteceu de fato.
— Ninguém aqui do prédio sabe de nada? Você me disse que tinha até ambulância por aqui, será que ninguém faz ideia pra onde ele pode ter sido levado? Eu pergunto ansiosa.
— Eu não sei. Eu estava fazendo uma entrega, quando voltei para o prédio ele já estava na ambulancia. Talvez Ricardo? O porteiro saiba de alguma coisa.
— Bom então vamos lá descobrir então. Eu digo já caminhando para a frente do prédio, onde havia uma espécie de sala de monitoramento, onde Ricardo trabalha. André me acompanha logo atrás.
Assim que entro no local olho para Ricardo que também me olha cumprimentandome.
— Oi kelly, tudo bem? Posso ajudá-la em alguma coisa?
André para ao meu lado, quieto
— Voce sabe alguma novidade sobre o doutor Daniel?
— ué, voce nao sabe? Ele e seu chefe não é?
— Ele não é mais. Eu saí do escritório.
—Ah entendi, bom, eu me lembro de ter ouvido algo sobre ele ser levado para o hospital em que a mae dele trabalha, mas eu não tenho certeza se ele foi para lá.
—— Ah obrigada Ricardo. Eu aceno pra ele antes de sair e ele me retribui com um sorriso gentil.
— Você vai velo não é? André me pergunta como se a resposta positiva já fosse óbvia.
— Na verdade eu vou esperar a poeira abaixar um pouco, deixar esse momento para ele é a família sabe. Mas eu vou lá no hospital, só pra tentar ver se consigo alguma informação. Concluo antes que ele diga algo.
— Entendi, quer uma carona? Eu sei onde a doutora Kátia Moura trabalha, ela foi a obstetra da minha irmã.
André fecha os olhos, como se algo doesse profundamente dentro dele.
— Tá tudo bem? Eu pergunto me aproximando um pouco.
— Tá sim. Aceite minha carona, meu expediente já acabou e eu também quero saber como Daniel está, afinal a mãe dele lutou para salvar a vida da minha irmã e do meu sobrinho.
Eu vejo uma dor quase palpável em seu olhar.
— Quer falar sobre o que aconteceu com eles?
— Não, agora não é o momento propício pra isso..
— Tudo bem, eu aceito a sua carona.
— A que ótimo. Ele sorri de leve e eu me sinto satisfeita por ter arrancado um sorriso dele.
****.
Eu e andre ate conseguimos descontrair um pouco do clima pesado através de uma conversa sobre banalidades durante o caminho até o hospital onde achávamos que Daniel tinha ido.
— Como você sabe que a obstetra da sua irmã é a mãe de Daniel? Eu pergunto curiosa antes de entrarmos no hospital.— Porque ele é a mãe estavam juntos no dia da compra da sala dele.
— Ah claro, me limito a dizer.
Nos entramos e enquanto nos dirigíamos até a recepção a porta do elevador se abre e o que vejo me faz paralisar por um momento. Daniel está caminhando até a saída do hospital, amparado por sua mãe e katherine.
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Marcas do Passado
AcakDaniel e Kelly, dois corações machucados e marcados para sempre pelo passado de cada um. Será que o amor pode uni-los e cicatrizar as marcas que o passado deixou? Venha ler e embarcar nessa história com muito drama e romance. **** Atenção, essa hist...