Capítulo 22

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Kelly

Assim que eu me deito na maca da sala de ultrassonografia eu sinto um alívio indescritível, é como se quando eu estou de pé todo o peso do mundo se instala nas minhas costas.

André continua ao meu lado, segurando a minha mão. O seu toque e o seu olhar me transmitem carinho e paz. Eu não consigo deixar de sentir medo por tudo isso.

Da útima vez em que me senti assim foi ns braços do meu estuprador. O que significa que o meu sexto sentido sobre as pessoas não é lá muito confiável.

— Vamos começar, Kelly? Posso puxar a sua blusa? — A médica me pergunta com uma voz suave ao mesmo tempo em que me olha.

Eu apenas afirmo em resposta, sem querer acreditar em tudo que está acontecendo comigo, sem querer acreditar que eu carrego outra vida dentro de mim.

Tenho certeza de que, apesar de ser tão nova, eu me sentiria feliz em ser mãe se as circunstâncias fossem diferentes, mais próximas do jeito que eu sempre sonhei que fossem. Com um homem decente, que me amasse e que eu amasse também.
A única coisa que está certo nessa equação é que eu ainda o amo, mesmo com todo o ódio que há dentro de mim, os dois lá misturados juntos sem que eu consiga saber qual sentimento é maior.
— Ah! Está tudo bem com o bebê. Parece que ele é bem forte, querida.

A doutora me diz com um sorriso enorme nos lábios. Eu estou tão distraída com os meus pensamentos que nem percebi o momento que ela começou todo esse processo.

— Você está com aproximadamente 4 semanas, quer tentar ouvir o coração do bebê? — Ao ouvir aquela pergunta eu sinto pela primeira vez uma emoção boa, algo que aquece o meu peito e todo o meu corpo .

— Quero. — Eu digo sentindo dificuldade para pronunciar as palavras devido a emoção inesperada que me atinge.

Assim que a doutora obtém a minha resposta ela começa a posicionar o aparelho por diversos pontos da minha barriga.

— Se não der certo por aqui nós faremos o transvaginal, tudo bem? Estou avisando todos os procedimentos para que fique tranquila, você não sentirá nenhuma dor.

Apenas confirmo novamente, ansiosa demais para conseguir dizer qualquer coisa. Não sei quantos segundos se passaram até eu ouvir um som forte que vinha do monitor à minha frente.

— Olha mamãe, esse pontinho é o seu neném.

Ela sorri, apontando o dedo para um pequeno borrão na tela. Meus olhos se fixam instantaneamente naquela imagem, tão pequena, mas com tanto significado para mim. Eu simplesmente não consigo parar de olhar. Poderia ficar para sempre assim, só olhando aquela cena, enquanto ouço o barulho do que suponho ser o coração do meu bebê que preenche a sala e inunda os meus sentidos.

Acho que só assim eu posso esquecer só por um momento toda a tristeza que me ronda.

— Tá ouvindo o barulho né? É o coraçãozinho do seu filho, está batendo forte. 120 batimentos cardíacos por minuto. Bem forte, mas totalmente dentro da normalidade para um embrião quase feto. Parabéns, é um bebê saudável.

Ela diz enquanto tira o aparelho da minha barriga, salvando algo no computador em seguida.

— Na próxima consulta já dará para imprimir uma imagem que seja perceptível no papel. Estes papéis que eu irei te entregar agora são os primeiros dados gestacionais, seus e do bebê. — Ela fala deixando alguns papéis com André.

— Bom, parabéns mais uma vez. Vou ver alguns pacientes e deixá-los a sós, qualquer coisa é só apertar a campainha na cabeceira da cama que virá uma enfermeira até aqui. Daqui a pouco eu volto e se estiver se sentindo bem eu lhe darei Alta.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora