Capítulo 30

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Daniel.

Os últimos dias voltaram a ser totalmente iguais para mim. Sem sentido algum, apáticos.

Não voltei a ver Ana desde o domingo. Não porque eu não tenha gostado e sim por saber que eu não poderia correr o risco de levar algo mais sério adiante com ela.Ana é uma garota incrível, tem uma alegria contagiante, é linda e merece muito mais do que alguém como eu. Decido deixar meus pensamentos de lado focando no que realmente importa. No porquê eu estou parado em frente a uma loja de artigos para bebê.

Respiro fundo algumas vezes antes de conseguir me mover. Um sorriso leve me toma assim que entro pela porta e sou recebido pelo que há de mais maravilhoso nesse momento: o perfume adocicado de criança.  A loja está impregnada dele. Eu olho tudo ao redor sorrindo mais a cada passo que dou. Estou me sentindo como um bobo vivendo seu melhor momento.

Agora aqui, em frente a estas roupinhas, eu consigo sentir pela primeira vez a sensação real de que sou pai. Mesmo que neste momento eu não possa ser um.

Quando passo a mão em uma das roupinhas azuis, sou interrompido pela atendente. Ela sorri e pergunta se procuro algo específico que não sei como responder.

— Eu ainda não sei o sexo do bebê. Não sei o que posso comprar para amolecer o coração de uma mãe durona. — Deixo escapar e finalizo com um sorriso dando de ombros por ter falado demais.

— Mãe durona é? Acho que temos uma missão difícil aqui. Mas eu sugiro o branco, o símbolo da paz.

Solto uma risada leve quando ela diz isso. É capaz de Kelly me matar se eu chegar lá com nada menos do que o incrível para ter sequer um segundo de sua atenção.

— Acho que tem que ser algo mais impactante.

— Um conjunto rosa e outro azul. — Ela me mostra duas peças com um tip-top azul, um casaquinho pequeno e um parecido mas na cor rosa.

— Não sei se roupa seria algo impactante. Tem uma crença, não é? Sobre a roupa de saída da maternidade. Independente do sexo tem que sair de vermelho, é isso? — Pergunto forçando minha mente a lembrar do que dizem.

— Exato. Diz que dá sorte. — a vendedora sorri confirmando.

— Você tem o kit completo de saída? Tudo que um recém nascido precisa para encarar o mundo pela primeira vez?

— Claro. — Ela diz andando pelo corredor. — Temos este.
Ela me mostra um kit completo com as roupas, um bico, babador
— Se tiver interesse também, temos até produto próprio para o primeiro banho do bebê se você quiser incluir no pacote. Vem com duas bolsas, uma para a mãe colocar os pertences do bebê e a outra para pôr os dela se ela quiser. O que acha? — ela fala com empolgação enquanto anda pelos corredores de produtos me mostrando cada ítem. — Olha, o tiptop tem uma estampa na frente. "Seja bem-vindo ao mundo. Nós te amamos".

— Não inclua muita coisa. Não quero assustar a moça — sorrio ao tentar conter a alegria da vendedora. — Apenas a saída de maternidade, com luvas, gorros e mini meias. Depois volto e compro o resto se ainda não tiver.

Digo com os olhos brilhando para cada peça que ela mostra, mas tenho medo de Kelly jogar tudo no lixo.

— Tudo bem. Vou pedir um embrulho lindo. — ela sorri enquanto vamos juntos até o caixa.

Eu me sinto nervoso, quanto mais fica próximo o momento em que sairia dali rumo a casa da Kelly, Mais o medo da sua reação cresce dentro de mim.

Sinto que se ela rejeitar o meu presente será algo horrível para mim, pois com todos os novos acontecimentos dos últimos meses eu tenho me sentido mais frágil emocionalmente. Sinto que preciso deixar a minha vergonha de lado e buscar ajuda para solucionar isso.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora