Capítulo 29

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Kelly

— O que houve? — André segura minha mão e eu o guio até a ala de emergência do Hospital e Maternidade Santa Helena.

— Eu ainda não sei muito bem. O gerente do mercado me ligou dizendo que minha mãe desmaiou no meio do expediente e que eles estavam trazendo-a para cá. — Eu digo nervosa, segurando as lágrimas.

— Calma, Kelly!. — Ele para de andar e me puxa para si. — Então ela ainda não chegou?

Nego com a cabeça engolindo o choro, ele suspira me apertando um pouco mais.

— Então você precisa respirar fundo e se acalmar um pouco. Ela não pode te ver desesperada assim ou ficará preocupada com você e com o bebê.

— Minha mãe é tudo o que eu tenho, André. Eu não posso perdê-la. — Digo ao envolvê-lo pela cintura em um abraço.

André demora alguns segundos para  entender minha situação. Mas seu abraço tem uma certa delicadeza como das outras vezes que tivemos algum tipo de contato físico. Em seguida sinto uma de suas mãos em meu queixo erguendo-a lentamente para que nossos olhos se encontrem.

— Não fale assim, Kelly! Agora eu também estou ao lado de vocês duas — ele sorri, mas vejo a preocupação em sua expressão como se o sorriso não chegasse aos olhos. — Além disso, você tem um bebê sendo gerado. Nunca mais estará sozinha.

— O bebê... Ah! — Não consigo continuar falando qualquer coisa. É como se as palavras sumissem da minha mente. Continuo abraçada com André, me sentindo confortada em seus braços. — Muito obrigada por estar comigo, eu não tenho palavras para agradecer por ter a sua amizade.

— E nem precisa de palavras, Kelly. Sua amizade também é importante para mim — diz ele com o queixo apoiado em minha cabeça. André me aperta mais um pouco para me dar mais conforto e se afasta lentamente. — Está mais calma, pronta para ser forte e aguentar o que vier? Prometo que te deixo chorar em meu ombro quando sua mãe não estiver vendo, mas ela precisa de você forte agora.

André passa levemente a mão em minhas bochechas, afastando as lágrimas de meu rosto.

— Estou pronta. Já tive que ser forte outras vezes na vida. — falo enquanto tento suavizar as minhas expressões. Assim que nos afastamos, vemos uma ambulância parada um pouco mais a frente.

— Vamos dar espaço para eles entrarem com ela! — André pede, segurando meus ombros levemente. — Tomara que não seja nada grave. Ele sussurra, mas eu consigo ouvir tudo. Nos afastamos um pouco assim que os paramédicos entram com a maca onde minha mãe está deitada. Eu a olho enquanto eles vão na direção do um corredor onde deve ficar a emergência.

Não consigo evitar as lágrimas. Aparentemente minha mãe continua desacordada.

— Calma, — André diz quando volto aos braços dele. — Força, lembra? Não vamos sofrer por antecedência. Primeiro vamos atrás do médico de plantão e falar que somos acompanhantes dela. Vamos esperar o diagnóstico e só torcer para ficar tudo bem. Tá bom?
Sua tentativa de me consolar é louvável, mas não consigo conter o desespero que cresce dentro de mim. Ouvir as palavras de André faz com que esse desespero se aquiete um pouco, mesmo que ainda grite em minha cabeça. Contudo, tento manter a calma, pelo menos até saber o que ela tem.

— Vamos tentar falar com algum médico então? Preciso saber de alguma coisa — digo pegando em sua mão e me dirigindo até onde os médicos estão indo.

Eu sei que eu não devia segui-los, mas eu tenho que tentar saber algo. Estou quase alcançando a porta dupla, quando alguém aparece em minha frente.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora