Capítulo 34

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Kelly

André me olha por mais tempo do que o confortável. Seu sorriso sem mostrar os dentes me faz balançar a cabeça e empurrar levemente seu ombro. O que faz ele me puxar para mais perto dele.

- Não acredito que você conseguiu isso - sussurro quando o olhar dele desce para minha barriga e ele se afasta minimamente de mim.

- Cobrei alguns favores. Trabalhar em um prédio onde só tem escritório chique tem suas vantagens. - Ele responde dando de ombros. - Além do mais, a maioria deles lembram de você e sentem sua falta. Ser simpática também tem suas vantagens.

Ele brinca apertando meu nariz levemente me fazendo sorrir abertamente.

- Sessões de fisioterapia em casa.. - Sussurro, ainda sem acreditar. - Consegui poucas sessões, mas dá para aguentar enquanto não conseguimos o que ela precisa na capital.

André me olha com uma certa intensidade e sei muito bem o assunto que ele vai trazer à tona novamente. Suspiro antecipando meu cansaço.

- Não quero falar com Daniel sobre isso. Não vou pedir favores que não posso pagar depois.

- Eu aposto que se você só comentar, ele vai oferecer ajuda novamente.

- Então não vou só comentar, André.

Ele se afasta mais de mim, vez ou outra seus olhos voltam para minha barriga. Sei que está preocupado. Ao mesmo tempo, não consigo ao menos idealizar um pedido de ajuda à Daniel."Isso não!"

- E se eu pedir esse favor? - Ele me pergunta com sua testa super franzida demonstrando a impaciência. - Ou falar com a mãe dele. Ela é médica e deve ter muitos conhecidos. Ela é uma ótima pessoa. Não tem culpa pelo que o filho fez, além de vocês terem uma ligação agora.

Ele fala indicando minha barriga para me lembrar da criança.

- Eu prometo que vou pensar com carinho. - Falo para encerrar o assunto.

André encosta no sofá da minha sala enquanto eu o observo. Um silêncio confortável se instala quando ele passa a me encarar também.

Depois de uns instantes trocamos sorrisos. Ele sempre se mexe desconfortável quando seus olhos voltam para minha barriga que já está aparecendo consideravelmente.

Nos tornamos tão íntimos que eu sei exatamente o que ele está pensando e querendo. Me aproximo dele e pego sua mão calmamente.

- Ei - sua atenção se volta para mim e ele sorri. - Você é sempre tão educado, admiro muito isso.

Levo sua mão até minha barriga e ele me olha surpreso. Abre ainda mais o sorriso assim que solto sua mão e deixo que ele acaricie.

Mentalizo que é só para o bebê, respiro fundo e forço o sorriso tentando ignorar a ânsia que me dá ao sentir seu toque mesmo que por cima da blusa.

- Posso mesmo? - Ele pergunta com seus olhos brilhantes e eu apenas confirmo, me sentindo repentinamente desarmada e relaxada.

- Oi, bebê! -André começa a falar, se aproximando mais de minha barriga. - Você deve ter percebido como sua mãe é teimosa. Não se preocupe, seu dindo também é muito insistente e vai conseguir fazer com que a vovó fique bem...

Ele completa me encarando e eu apenas balanço a cabeça sem conseguir conter o sorriso.

- Sabe que usar o meu filho para conseguir o que quer é golpe baixo? - dou um tapa fraco em seu ombro.

André sorri sem mostrar os dentes e afirma se encostando no sofá em seguida. Seus olhos não saem de mim e nós voltamos ao silêncio confortável de antes. Silêncio este que me permite refletir.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora